domingo, 24 de novembro de 2024
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    Uma visita à fazenda que colhe metal a partir de plantas

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    Algumas das plantas da Terra se apaixonaram por metais. Com raízes que agem praticamente como ímãs, esses organismos – dos quais cerca de 700 já são conhecidos – florescem nos mesmos solos ricos em metais que fazem com que centenas de milhares de outras espécies de plantas fujam ou morram.

    O corte de uma dessas árvores ao meio ou a prensagem das folhas de seu primo arbusto com um moedor de amendoim produz uma seiva verde azulada neon. Esse “suco” é composto de um quarto de níquel, uma concentração muito mais alta do que o minério encontrado em fundições de níquel mundo afora.

    As plantas não somente retiram os minerais do solo e os armazenam em seus corpos, mas o fazem em níveis “ridículos”, disse Alan Baker, professor visitante de botânica da Universidade de Melbourne que pesquisa a relação entre as plantas e seus solos desde a década de 1970. Essa vegetação pode ser a fundição movida a energia solar mais eficiente do mundo. E se substituíssemos parcialmente a mineração e a fundição tradicionais, que consomem muita energia e custam caro ao meio ambiente, por plantas de níquel?

    Baker e uma equipe internacional de colegas têm como objetivo convencer o mundo de que a ideia é mais do que apenas um experimento divertido. Em um terreno alugado em uma vila rural no lado malaio da ilha de Bornéu, o grupo provou que isso é possível em pequena escala. A cada seis a doze meses, um agricultor poda cerca de trinta centímetros de uma dessas plantas hiperacumuladoras de níquel e queima ou espreme o metal. Após um breve processo de purificação, os agricultores obtiveram cerca de 230 quilos de citrato de níquel, que, nos mercados internacionais, chegam a valer milhares de dólares.

    Agora, à medida que a equipe expande o tamanho do teste – tornando-o o maior do mundo, com quase 50 acres –, seu público-alvo passa a ser a indústria. Os pesquisadores esperam que, em uma década, uma parcela considerável da demanda insaciável por metais básicos e minerais raros possa ser atendida pelo mesmo tipo de agricultura que produz coco e café ao redor do mundo.

    (Foto: Antony van der Ent via The New York Times )

    A fitomineração, ou seja, a obtenção de minerais a partir de plantas hiperacumuladoras, não consegue substituir por completo as técnicas tradicionais de mineração, explicou Baker. Mas a tecnologia tem o valor adicional de permitir que áreas com solos contaminados voltem a ser produtivas. Os pequenos agricultores poderiam plantar em solos ricos em metais, e as empresas de mineração poderiam usar essas plantas para limpar suas antigas minas e resíduos e até gerar alguma receita.

    “É a cereja do bolo”, disse Baker.

    O pai da fundição mineral moderna, Georgius Agricola, viu esse potencial 500 anos atrás. Ele fundia metais a partir de plantas em seu tempo livre. “Se você souber o que procurar em uma folha, conseguirá deduzir quais metais estão no solo abaixo”, escreveu Agricola no século XVI.

    Rufus Chaney, que foi agrônomo do Departamento de Agricultura dos EUA por 47 anos, cunhou a palavra “fitomineração” em 1983 e, ao lado de Baker, ajudou a realizar o primeiro teste no estado do Oregon, em 1996. Seu nome está imortalizado em uma das plantas sugadoras de níquel usadas nos testes da Malásia.

    Agora, depois de décadas atrás das chaves e fechaduras das patentes, Baker disse que “os freios estão fora do sistema”. Como as patentes não são mais um problema, os cientistas esperam que a tecnologia possa beneficiar pequenos agricultores na Malásia e na Indonésia.

    “A esperança é que possamos exibi-la, ter provas de conceito, demonstrar às pessoas como ela funciona e que de fato funciona”, acrescentou Antony van der Ent, cientista de plantas do Instituto de Minerais Sustentáveis da Universidade de Queensland, na Austrália. Sua dissertação deu início ao projeto da Malásia.

    O níquel é um elemento crucial do aço inoxidável. Seus compostos químicos são cada vez mais usados em baterias de veículos elétricos e em energias renováveis. Ele é tóxico para as plantas, assim como para os seres humanos, quando ingerido em altas doses. Nas áreas onde o níquel é extraído e refinado, a terra fica destruída e poluída com os resíduos.

     

    Em áreas cujos solos são naturalmente ricos em níquel, normalmente nos trópicos e na bacia do Mediterrâneo, as plantas se adaptaram ou morreram. Na Nova Caledônia, um território francês do tamanho de Nova Jersey, no Pacífico Sul, e importante fonte de níquel, os botânicos conhecem pelo menos 65 plantas que amam o níquel.

    Tais plantas são a vegetação que mais frequentemente absorve metais; outras sugam cobalto, zinco e metais igualmente cruciais. Com os novos eletrônicos estimulando a crescente demanda por minerais raros, as empresas estão explorando o espaço sideral e até o fundo do oceano. Porém uma tecnologia muito menos explorada, e também uma das antigas da humanidade, é a agricultura.

    A linguagem da literatura sobre fitomineração, ou agromineração, sugere um futuro no qual plantas e máquinas coexistem: biominério, fazenda de metal, plantações de metal. “Plantas fundidoras” soa tão incongruente quanto talhar oxigênio.

    Os defensores da fitomineração veem o maior potencial na Indonésia e nas Filipinas, dois dos maiores produtores de minério de níquel do mundo, onde centenas de minas escavam o solo para as fundições. Os dois países provavelmente abrigam muitas plantas hiperacumuladoras de níquel, mas as pesquisas têm sido escassas.

    As hiperacumuladoras não somente toleram os metais; suas raízes necessitam deles. O níquel pode ajudar a planta a combater pragas, ou até permitir que ela absorva mais prontamente o potássio, um recurso escasso, do solo. Independentemente disso, não há necessidade de modificar geneticamente ou fazer seleção artificial para obter plantas que absorvam mais níquel. As plantas fundidoras já são tão eficientes quanto a indústria extrativa gostaria que fossem.

    Elas têm o potencial de minimizar o maior problema do setor de mineração: minas abandonadas, que poluem as vias navegáveis. Uma mina desativada poderia receber plantas hiperacumuladoras, extrair os metais remanescentes e ainda gerar uma receita adicional. Essa proposta poderia convencer as empresas a investir em reabilitação ou em limpeza dos resíduos de minas.

    Atualmente, a maneira mais comum de extrair níquel para eletrônicos consome muita energia – geralmente proveniente do carvão e do diesel – e gera grandes quantidades de resíduos ácidos. Uma fundição comum custa centenas de milhões de dólares e usa um minério cada vez mais escasso, que contém somente 1,2 por cento de riqueza em níquel.

    Por outro lado, as plantas em uma pequena fazenda de níquel podem ser colhidas a cada seis meses em terras cuja concentração de níquel é de apenas 0,1 por cento. Depois de duas décadas, as raízes teriam dificuldade para encontrar níquel suficiente, mas todos os metais tóxicos teriam sido sugados e a terra voltaria a ser fértil o suficiente para receber plantações comuns.

    O fato de a plantação de níquel ser tão produtiva e lucrativa elevou temores de que os fazendeiros possam pressionar pela derrubada de florestas tropicais para possibilitar o cultivo, como aconteceu com o óleo de palma, uma cultura rentável que vem devastando as florestas nativas de Bornéu. Mas, segundo os pesquisadores, esse não é um resultado provável. As áreas com maior potencial para fitomineração tendem a ser cobertas de gramíneas, e poucas outras plantas conseguem crescer em terras selecionadas para a agricultura mineral.

    “Podemos cultivar essas plantas em solos já desmatados. É uma forma de colocar de volta, em vez de retirar”, disse Baker.

    Fonte: NSC Total

     

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