sexta-feira, 22 de novembro de 2024
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    Mineradora SAM antecipa demanda de ferro da Ásia

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    Há cinco anos no comando, em Belo Horizonte, da mineradora Sul Americana de Metais (SAM), o executivo chinês Jin Yongshi reservou a semana para nova rodada de visitas no Norte de Minas Gerais. A companhia, pertencente ao grupo Honbridge Holdings Ltda., com sede em Hong Kong, está na expectativa de obter em três meses e meio a licença prévia de instalação de seu megaprojeto de extração de minério de ferro na região.

    O orçamento é de R$ 7,9 bilhões, envolvendo áreas de quatro municípios: Grão Mogol, Fruta de Leite, Padre Carvalho e Josenópolis. Antigo, o plano da empresa de abrir uma espécie de fronteira mineral em terras sacrificadas pela seca e a escassez de emprego e renda passou por reestruturação em 2017, e agora volta a avançar, rebatizado com o nome Bloco 8. Na configuração anterior, quando era conhecido como Projeto Vale do Rio Pardo, foi rejeitado no início de 2016 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

    A decisão, à época, teve como base “riscos ambientais”, tendo em vista as grandes proporções da barragem de rejeitos projetada, então considerada a maior no país. A SAM pretende extrair 27,5 milhões de toneladas anuais de minério, tratadas por processo tecnológico capaz de elevar o teor baixo de 20% de ferro, como o material é encontrado na natureza, para 66,5%, concentrado de alta qualidade e demanda no mercado internacional. Isso explica o grande volume de rejeitos a ser gerado. No novo modelo, o complexo minerário contará com duas barragens de rejeitos e dois reservatórios de água, para garantir, de acordo com a companhia, o abastecimento das operações da SAM e das comunidades próximas, com distribuição entregue ao governo de Minas.

    O escoamento da região ao litoral da Bahia será feito por meio de mineroduto de 482 quilômetros a cargo de empresa independente, segundo o presidente-executivo da SAM. Jin Yongshi sustenta que com “inovações tecnológicas, de processo e de engenharia” que foram introduzidas, o projeto terá sistema de disposição de rejeitos seguro e desenvolvido com tecnologia moderna. O Movimento dos Atingidos por Barragens mantém posição contrária ao projeto e contesta também o novo modelo.

    Em setembro passado, o governo mineiro firmou com a SAM protocolo de intenções para o investimento, no qual a mineradora se compromete a privilegiar mão de obra local nas contratações e compras de material e insumos. Naquele mesmo mês, nota de protesto foi divulgada por 22 movimentos sociais, entre eles a Comissão Pastoral da Terra e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra.

    O presidente da SAM afirma que o uso da água e as condições das barragens e da deposição de rejeitos foram “bem estudados” na reestruturação. “Nosso projeto foi considerado prioritário pelo governo de Minas (o licenciamento está sendo analisado por grupo especial criado na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) pela sua localização e o valor do investimento, que levará desenvolvimento à região”, sustenta Jin Yongshi. Combinadas, as duas barragens de água, como destaca o executivo, atenderão cerca de 640 mil pessoas.

    O pedido de licenciamento foi entregue em 10 de janeiro deste ano, mas, como outros empreendimentos, teve a análise suspensa depois do desastre do rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, na Grande BH, em 25 de janeiro. A tragédia resultou na morte de 257 pessoas, cujos corpos foram identificados, entre empregados diretos da Vale, trabalhadores terceirizados, moradores e turistas. Outras 13 vítimas estão desaparecidas.

    Clientes especiais 

    A SAM já tem memorandos de intenção de compra do minério firmados com um de seus sócios, a chinesa Sha Steel, sexta maior siderúrgica do mundo, a também estatal chinesa Capital Steel e a siderúrgica Valin Steel. Os contratos preveem a entrega de aproximadamente 10 milhões de toneladas a cada uma das siderúrgicas. “Há carência no mercado internacional por minério de alta qualidade”, diz Jin Yongshi.

    Uma das inovações enfatizadas pelo presidente da SAM é que o projeto vai usar energia renovável a partir do quinto ano da operação, aproveitando o potencial que a região oferece para a geração solar e eólica. Yongshi diz que já tem mantido conversas com várias empresas do setor, as quais poderiam ter interesse em investir no Norte de Minas como parceiras da mineradora.

    A companhia de mineração estuda, ainda, o seu ingresso direto na implantação de usinas solares e eólicas (movidas pela força dos ventos). O complexo minerário será atendido em seus primeiros anos de operação, como previsto no projeto, por linha de transmissão ligada à Usina Hidrelétrica de Irapé, que passará pelo município de Josenópolis. Considerando-se o cronograma com o qual a SAM trabalha, a companhia iniciaria as obras no fim de 2022 para, com a licença de operação em mãos, colocar o empreendimento em funcionamento entre o fim de 2024 e o começo de 2025.

    Em Grão Mogol e Berilo, usina hidrelétrica de Irapé fornecerá, pelo projeto, a energia que vai mover o complexo minerário da SAM, se liberadas as licenças necessárias

    “Uma outra Carajás”

    O novo formato do projeto da SAM prevê duas barragens de rejeitos, uma delas menor que a outra. A barragem de maior porte terá o chamado alteamento por linha de centro. Com o objetivo de evitar infiltrações e a possibilidade de rompimento, a estrutura terá um filtro vertical acompanhando todo o seu corpo central. A diretora de Relacionamento e Meio Ambiente, Gizelle Andrade Tocchetto, afirma que durante a operação o corpo da estrutura será separado do espelho d’água por área seca de rejeito com distância mínima de 400 metros.

    “A cava (local onde será feita a extração) fica abaixo da barragem. Em caso de rompimento, o primeiro local para onde os rejeitos vão será a cava e, para evitar transbordamento, teremos um dique de contenção. Todo o material fica retido dentro da área do projeto e as máquinas vão operar por controle remoto”, afirma.

    Segundo o presidente da SAM, além da geração de 1,1 mil empregos permanentes na operação, outros 6,2 mil serão gerados no pico das obras do complexo minerário. “A região pode se tornar uma outra Carajás (onde a Vale ergueu o S11D, maior projeto de mineração do mundo).” A SAM tem direitos minerários sobre jazida de 31 bilhões de toneladas de metadiamectito, entre recursos medidos e indicados. O licenciamento ambiental do empreendimento é pleiteado por 18 anos. (MV)

    Fonte: Estado de Minas

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