terça-feira, 5 de novembro de 2024
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    Superpotências do lítio apostam em produção de baterias

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    A corrida da Tesla, Samsung e outras gigantes tecnológicas para garantir o fornecimento de lítio – um elemento essencial para as baterias dos veículos elétricos e smartphones – está a criar uma oportunidade única para duas superpotências mundiais do setor da mineração aumentarem os ganhos a partir dos seus recursos naturais.

    A Austrália e o Chile vêem no lítio a sua oportunidade de escapar de um ciclo que dura há várias décadas e no qual matérias-primas como o minério de ferro e o cobre são extraídas no país, mas refinadas e transformadas em produtos valiosos no estrangeiro.

    Quase 75% do lítio vem de minas na Austrália ou de lagos salgados no Chile, dando aos dois países uma vantagem clara na negociação dos contratos com clientes num cenário de oferta limitada. Os países mineradores esperam agora trazer refinarias e fábricas que possam ajudar a desenvolver as suas próprias indústrias tecnológicas.

    Perto da cidade portuária australiana de Bunbury, um responsável da americana Albemarle, líder no fornecimento de lítio, anunciou em março um plano de mil milhões de dólares australianos (690 milhões de dólares americanos) para construir a maior processadora de lítio do mundo. Ao mesmo tempo, em Mejillones, no norte do Chile, a Samsung e a Posco, ambas com sede na Coreia do Sul, formaram uma parceria para construir uma fábrica de componentes químicos usados em baterias.

    “O Chile e a Austrália têm uma grande vantagem”, afirmou Daniela Desormeaux, presidente da consultora SignumBOX, de Santiago. Esses países têm lítio e, “ao mesmo tempo, incentivos estatais para a instalação de empresas que processem essas matérias-primas”.

    A Austrália e o Chile têm uma vasta experiência na mineração e exportação. A Austrália, maior produtora de minério de ferro do mundo, envia milhares de milhões de toneladas da matéria-prima usada na produção do aço para fábricas no Japão e na China desde a década de 1960.

    “É um modelo económico interessante”, disse Peter Klinken, cientista da Austrália Ocidental e assessor do governo, numa conferência realizada em Perth, em fevereiro. “Pega-se numa rocha grande, transforma-se numa rocha pequena, coloca-se num navio e depois compra-se algo realmente caro em troca.

    O fornecimento de baterias íon-lítio precisa de aumentar mais de 10 vezes até 2030, segundo a BloombergNEF, sendo que os veículos elétricos devem representar mais de 70% dessa procura. E isso está a levar os utilizadores finais a mexerem-se: desde abril que a Volkswagen e a Volvo Cars têm estado a fechar contratos de fornecimento de longo prazo.

    O primeiro passo no processo de aumento do valor acrescentado do lítio é refinar a matéria-prima, algo que atualmente é feito sobretudo na China. O minério das minas ou a solução salina rica em lítio dos lagos subterrâneos da América do Sul são concentrados num pó cinza-prateado que é enviado para ser purificado e refinado em hidróxido de lítio e carbonato de lítio. Esses produtos químicos, por sua vez, são processados com materiais como níquel ou cobalto para produzir elétrodos de bateria, ou com solventes para fazer eletrólitos, as partes principais das células que são montadas em baterias.

    Cada passo do processo oferece mais oportunidades de lucro. Até 2025, o mercado de matéria-prima de lítio extraído pode chegar a 20 mil milhões de dólares, o que compara com 43 mil milhões para produtos refinados e 424 mil milhões para células de bateria, segundo um cenário descrito num estudo de 2018 publicado pela Association of Mining and Exploration Companies.

    Duas grandes mineradoras de lítio a operar no Chile, a Sociedad Quimica e Minera de Chile SA, ou SQM, e a Albemarle só foram autorizadas a expandir a produção sob a condição de venderem um quarto da sua produção ao menor preço de mercado às empresas que desenvolverão os materiais no próprio país. A SQM, que já realiza algum processamento no Chile, está a expandir a sua capacidade doméstica.

    A estratégia é “uma chave de ouro” para construir uma indústria de lítio de maior valor no Chile, disse Sebastian Sichel, vice-presidente executivo da agência governamental de desenvolvimento Corfo, proprietária das concessões de lítio no deserto de Atacama e que emite licenças para as mineradoras.

    Três grupos distintos – a Molibdenos y Metales SA do Chile, ou Molymet, o Sichuan Fulin Industrial Group, da China, e um consórcio da Samsung SDI e da Posco – prometeram no ano passado investir um total de 754 milhões de dólares para construir fábricas de cátodo de lítio e células de lítio no Chile para ganharem acesso ao material da Albemarle. Um segundo leilão em abril ofereceu acesso semelhante ao produto da SQM.

    A nova capacidade de refinação e produção química garantirá receitas adicionais ao Chile, enquanto os ganhos com as exportações de lítio também deverão aumentar. A matéria-prima tem potencial para se tornar uma das maiores exportações do país depois do cobre, salmão e vinho, disse Sichel.

    A Austrália pode gerar mais de 50 mil milhões de dólares australianos (35 mil milhões de dólares americanos) em receitas anuais e apoiar cerca de 100 mil empregos ao desenvolver um setor de materiais para baterias, de acordo com um estudo de 2018 para uma agência de desenvolvimento regional. Esse valor compara com cerca de mil milhões de dólares, atualmente, em exportações anuais de lítio. Em abril, o governo da Austrália prometeu 25 milhões de dólares para apoiar um programa de investigação de cinco anos para expandir a sua cadeia de fornecimento de baterias.

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