quarta-feira, 8 de maio de 2024
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    Inovação e COVID-19

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    O isolamento social pode potencializar a Inovação?

    Em um momento tão difícil para todos, em que a proteção à vida e saúde é a prioridade, surgem vários aspectos secundários que precisam ser analisados no sentido de amenizar os efeitos da pandemia nas economias, empresas e indivíduos.

    Uma interessante análise é aquela que considera os efeitos do isolamento social e trabalho remoto na capacidade dos indivíduos e organizações de pensarem e propor soluções criativas ou inovadoras para suas vidas e processos de trabalho. Vejamos alguns aspectos dessa relação e se podemos realmente pensar em novas possibilidades em meio à pandemia…

    Comunicação

    Em tempos de isolamento social, embora a comunicação face a face ou presencial esteja diminuída, percebemos um crescimento vertiginoso na comunicação virtual 1 através das reuniões virtuais, aplicativos de mensagens, “chat” e plataformas corporativas. Parece razoável assumirmos que a efetividade, assertividade e até a produtividade desses encontros são maiores que as tediosas reuniões presenciais nas empresas e os muitas vezes improdutivos encontros informais de corredor.

    Afinal, todos entramos em encontros virtuais com uma agenda prévia bem discutida, há um moderador e líder claro e algumas limitações da tecnologia não nos atraem por muito tempo para ficarmos “conectados” em um mesmo ambiente e sobre um mesmo tema sem percebermos criação de valor. Há também os imprevistos e fatores de “distração” mais comumente presentes em trabalho remoto de casa. Tudo converge para sermos rápidos, assertivos e deliberativos.

    Pelo exporto, surge aqui um interessante paradoxo: O isolamento social e o trabalho remoto, que, a primeira vista, reduz a comunicação entre as pessoas, leva à uma comunicação mais efetiva e produtiva! Parece razoável pensarmos que esse processo de comunicação mais assertivo pode impulsionar a difusão, discussão e priorização de ideias e suportar os complexos processos de gestão de projetos. Sendo o processo de inovação.

    Trabalho em Equipe

    Nunca vimos tantas equipes criadas, tantos times multifuncionais, tantas reuniões entre organizações e seus clientes e fornecedores! Surge então uma relação direta e poderosa para a promoção e o incremento da busca pela inovação: o trabalho em equipe.

    Os processos de inovação são processos baseados no trabalho em equipe 2. Mesmo aqueles oriundos de um momento “eureka” particular de uma mente criativa ou dentro de um frio e isolado laboratório vão passar por discussões de priorização, ajustes, viabilidade e implantação. E estes últimos são processos baseados em discussão multidisciplinar.

    Tanta gente reunida, com diferentes pontos de vista e especialidades é o combustível para novas ideias, não apenas disruptivas, mas também incrementais sobre processos ineficientes e ultrapassados. Certamente surgirão assuntos a serem explorados dentro dos times, no departamento, na empresa como um todo e mesmo em toda cadeia de valor gerando a tão sonhada co criação.

    Criatividade

    Já dizia o filósofo Domênico de Mais 3: “O ócio pode transformar-se em violência, neurose, vício e preguiça, mas pode também elevar-se para a arte, a criatividade e a liberdade. É no tempo livre que passamos a maior parte de nossos dias e é nele que devemos concentrar nossas potencialidades”.

    Amantes ou não deste posicionamento filosófico, todos concordam que o isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19 originou um certo “tempo livre” ou “ocioso”. É comum vermos pessoas reclamando de ociosidade e tédio, mas, se bem administrado, esse tempo livre pode originar novas ideias, novos produtos e melhorias impactantes não apenas para as corporações, mas também para nossas vidas.

    Quem nunca acordou na madrugada e teve aquele “estalo” sobre como solucionar um problema ou mesmo criar um produto? Parece que a “cuca fresca” nas madrugadas pode ser mais comum do que se pensa nesse período de isolamento social…

    Disrupção nas “clássicas” cadeias de valor

    Nesse momento de pandemia, fechamento de fronteiras e exacerbação de comportamentos nacionalistas, temos vários estudos 4 sobre as rupturas nas tradicionais cadeias de valor e as consequentes oportunidades que surgem dessas descontinuidades.

    Fluxos comerciais são interrompidos, barreiras tarifárias e não tarifárias se proliferam à mesma velocidade exponencial da contaminação e pessoas, ainda agentes das tradicionais cadeias de valor, têm sua mobilidade reduzida. Torna-se imperativo repensar novos canais de distribuição, desenvolver novos fornecedores e em como integrar a tecnologia à minha cadeia de valor.

    Essas disjunções, ou no mínimo, “perturbações” das estabelecidas cadeias de valor vão surgir em toda e qualquer interação durante a pandemia. Cabe ao profissional mais bem informado perceber os gatilhos dessas descontinuidades e utilizá-los em prol de soluções criativas, inovadoras e otimizadoras das “cansadas” e tradicionais cadeias de valor.

    Busca pelo conhecimento

    O isolamento social acarretou para muitas pessoas o trabalho remoto e a jornada reduzida o que possibilita a procura de novos conhecimentos. Com o suporte da tecnologia e a disseminação de conteúdo, temos muitas fontes disponíveis a um clique (embora algumas sem fundamento e de baixa qualidade, mas, sendo este o custo da difusão tecnológica, cabe a cada um escolher o que lhe parece confiável ou robusto).

    De repente podemos ler os livros que não tínhamos tempo e fazer aquele curso que sonhávamos de maneira virtual e no conforto de casa. Desnecessário reafirmar que para inovar ou otimizar processos e produtos temos de estar aptos e capacitados nos processos e modelos de negócios atuais. Então, durante esse período de isolamento social, as pessoas e colaboradores estão estudando mais e aprimorarão suas capacidades críticas e cognitivas. Bingo!  Pessoas mais preparadas vão, naturalmente, procurar novas oportunidades para os processos e produtos e organizações com os quais estejam envolvidos.

    Mas não adianta somente estudar e se capacitar. É preciso buscar fontes de qualidade e colocar o conhecimento em prática! Somente assim seremos afetivos agentes transformadores da sociedade.

    Com base nas relações expostas, concordo que sob alguns aspectos subjetivas e baseadas em percepções próprias do autor, podemos afirmar que estamos em um imenso mar de oportunidades para a inovação! Seja em termos de melhor gerir processos já em execução ou mesmo de promover e engajar as pessoas em iniciativas mais ousadas.

    Cabe a cada um de nós aproveitar o seu isolamento social e buscar comunicações mais efetivas, trabalhar em equipe, dar vazão à criatividade, criticar a cadeia de valor de nossas organizações e colocar o conhecimento em prática!

    Difícil? Talvez à primeira vista sim. Mas comecemos aos poucos sendo mais sociais (olha o paradoxo aí!) e ao mesmo tempo críticos sobre os processos organizacionais.


    Referências

    1 – Relatório Speedtesthttps://www.speedtest.net/insights/blog/tracking-covid-19-impact-global-internet-performance/

    2 – Liderança e Cultura Organizacional, Brillo J., Boonstra J.; Saraiva, 2019

    3 – O Ócio Criativo, Mais D.; Sextante, 2000

    4 – Relatório Accenture: COVID19-Maintaining-Supply-Chain-Resilience-in-Times-of-Uncertainty – www.accenture.com


    Adriano Clary.

    Mestre em Engenharia (UFMG) , MBA em Gestão Empresarial (ICHEC-Bruxelas), certificado em Marketing Internacional (INSEAD-Paris) e Doutorando em Ciência Aplicada a Decisão (Universidade de Coimbra), possui mais de vinte anos de experiência profissional ocupando cargos técnicos e gerenciais nas áreas de P&D, Desenvolvimento de Produtos, Qualidade e Marketing.

    Atua como empreendedor no segmento da educação, consultor em gestão da inovação e professor da Fundação Dom Cabral e Skema Business School, sempre buscando o alinhamento estratégico entre o desenvolvimento de produtos, capacidades organizacionais e as tendências tecnológicas e de mercado.

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