Fonte: Sistema Aliceweb, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Centenas de vidas foram perdidas e, mais uma vez, o meio ambiente sofre impactos de alta capacidade destruidora. Contudo, episódios como este servem de alerta para que o mercado busque alternativas mais sustentáveis e seguras, conciliando o desenvolvimento de empreendimentos e a responsabilidade com as vidas e o meio ambiente. E aqui mesmo, do Brasil, surgem alternativas para substituir as já tão famigeradas barragens usadas na mineração.
O diretor-presidente da Ourominas, Juarez Filho, é o idealizador de uma tecnologia nacional de mineração a seco. A solução foi apresentada recentemente ao mercado e funciona especificamente com os minérios de ouro e cobre. Os rejeitos associados à atividade de extração dessas minas têm um grande grau de risco, assim como no caso da barragem de minério de ferro de Brumadinho.
De acordo com o executivo da Ourominas, o equipamento idealizado por ele desidrata a terra para depois moer e posteriormente, através de um sistema especial e avançado, separa o ouro dos demais materiais. A taxa de aproveitamento prometida é de aproximadamente 90 %. Uma grande vantagem é que a tecnologia dispensa o uso de agentes químicos para beneficiar os resíduos do ouro. Normalmente, na mineração convencional, são usados produtos extremamente nocivos como mercúrio e cianeto, que podem eventualmente contaminar o solo.
Como o próprio nome sugere, por ser um sistema a seco, o sistema dispensa a utilização de água e a criação de barragens para depositar os rejeitos da mineração. Hoje, o Brasil tem 56 barragens de ouro, de acordo com dados de janeiro da Agência Nacional da Mineração ( ANM ), sendo pelo menos duas classificadas como de alto grau de risco, ambas em Minas Gerais. Além disso, a lista classifica 22 delas com alto dano potencial associado. “A preservação ambiental não é uma moda, ela veio para ficar. Cada vez mais estamos nos conscientizando que é preciso buscar alternativas ecológicas que respeitem o meio ambiente e sejam benéficas para as pessoas também”, afirmou Filho.
O diretor da Ourominas explica ainda que o passivo tóxico da mineração tradicional pode afetar gerações. “Se daqui a 10 anos uma família for morar na região que serviu para mineração, certamente o solo estará contaminado. Então, cabe ao setor se modernizar“, opina.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já deu declarações à imprensa sobre a necessidade das mineradoras deixarem de usar barragens como a que se rompeu em Brumadinho. Ele afirmou, no entanto, que nem em todos os casos é possível fazer a mudança para técnica a seco. A VALE já declarou usar esta técnica em projetos como Ferro Carajás S11D, no estado do Pará. Em 2016, a mineradora divulgou a meta de reduzir o uso de barragens e produzir menos 700 milhões de toneladas de rejeitos até 2025. Para isso, o plano era ampliar de 40 % para 70 % o beneficiamento a seco nas minas.
Juarez Filho, que atuou um período no garimpo, acrescenta que o resíduo de terra gerado no processo de beneficiamento a seco torna-se propício para ser convertido em peças de cerâmica e se transformar em outro negócio lucrativo. “A mineração a seco é a solução, não tem jeito. Ela fica um pouco mais cara no começo, mas depois ela começa a baratear e reduzir muito os custos. Isso sem contar todos os benefícios ambientais”, concluiu.