Prefeito Duarte Júnior vê como positiva a retomada das atividades da empresa para aquecer a economia da cidade; operação deve começar em 2020
A Prefeitura de Mariana, a 110 km de Belo Horizonte, calcula que os cofres do município devem ter um incremento mensal de R$ 2,3 milhões com a volta das atividades da mineradora Samarco, prevista para o segundo semestre de 2020.
Embora o valor seja importante para que novos projetos sejam desenvolvidos na região, ele representa apenas 32% dos R$ 7 milhões que a prefeitura deixou de receber com a paralisação da mina, após o rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015.
O anúncio do retorno foi feito pela empresa, na última quarta-feira (29), três anos e meio após a tragédia que deixou 19 mortos e mais de 300 famílias desabrigadas.
As atividades vão ser retomadas parcialmente, iniciando com 26% da capacidade. Por isso, a arrecadação vai ser menor do que era antes. Para o prefeito Duarte Júnior (PPS), mesmo que de forma mais enxuta, a novidade já é um alívio.
O chefe do Executivo calcula que desde o colapso, Mariana perdeu uma média de R$ 5 milhões por mês, totalizando R$ 210 milhões até o momento.
Os valores são referentes aos repasses da Cefem (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) e à arrecadação de ISS (Imposto Sobre Serviço) e ICMS (Imposto Sobre Circulação De Mercadorias e serviços).
— Para a cidade, o retorno da Samarco é muito positivo. Representa geração de emprego e de renda não só para a população daqui, mas também para cidades do Espírito Santo, onde a empresa também opera.
A notícia chegou em um momento em que representantes de Mariana trabalham para não sofrer mais problemas causados por mineração. Em março deste ano, a Vale anunciou a paralisação da mina Alegria. Duas semanas antes, a Justiça já havia suspendido as operações da mina Timbopeba, que fica na vizinha Ouro Preto e rende repasses para à cidade.
As duas estruturas pertencem à Vale e têm grande influência no caixa municipal. Duarte Júnior calcula que a cidade deixaria de arrecadar R$ 8 milhões por mês com as paralisações. Contudo, após um acordo, a empresa se comprometeu a fazer os repasses da Cefem (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais), mesmo enquanto as máquinas não estiverem paradas.
— Essa perda seria um rombo muito grande. Nosso orçamento que hoje é de R$ 20 milhões anuais, cairia para R$ 12 milhões. Apenas com a folha de pagamento dos servidores, nós gastamos R$ 11 milhões.
Mesmo com a perspectiva de aquecimento da economia local, a ideia das máquinas de mineração da Samarco serem reativadas não agradou todo mundo. José do Nascimento de Jesus, presidente da Associação de Moradores de Bento Rodrigues, distrito destruído pela lama, é contra a operação.
— Para mim, isso é injusto. Só deveria ser autorizado depois que a Samarco pagar tudo que ela nos deve. Ela está fazendo os dépósitos mensais prometidos, está pagando nossos aluguéis, mas o reassentamento das nossas famílias ainda não aconteceu.
Jesus se refere à construção do novo distrito, que estava prevista para ser concluída em março deste ano, mas foi postergada para agosto de 2020. Na última semana, a Fundação Renova, entidade criada para administrar as ações de reparação, anunciou o início das construção das primeiras casas.
Operações
Segundo a Samarco, a empresa vai passar a contar com um processo diferente do usado na barragem de Fundão e na de Brumadinho. Uma usina de tratamento de rejeito será instalada no local para separar a parte líquida do material sólido.
Assim, os recursos hídricos serão tratados e reaproveitados e a massa restante será depositada à seco em uma cava.
Fonte: R7