terça-feira, 5 de novembro de 2024
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    Vale pretende atrelar 40% do bônus de executivos a metas de reparação de Brumadinho

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    Mineradora pretende pagar a seus administradores até R$ 115,204 milhões em 2019

    Após o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, no fim de janeiro, a Vale quer atrelar 40% dos bônus de seus executivos a ações para a reconstrução organizacional e a gestão de crise para reparação de danos de cunho ambiental, social e humanitário decorrentes da ruptura da barragem,  que resultou até o momento em 216 mortes e 88 desaparecidos.

    A empresa ainda vai definir quais serão essas ações. Com isso, esse percentual do bônus só será pago aos executivos se a companhia conseguir alcançar as metas que forem estabelecidas.  A informação consta do edital de convovação da Assembleia Geral Extraordinária da companhia, marcada para o dia 30 de abril no Rio de Janeiro. Parte do bônus que estará atrelada ao custo de Brumadinho faz parte do chamado “painel de metas”. Do total do bônus,  outros 20% estão relacionados às vertentes de sustentabilidade, saúde e segurança dos colaboradores e comunidades. Os 40% restantes se referem às métricas econômico-financeiras da empresa.

    Essa nova regra de pagamento de bônus só vale a partir do ano que vem (em relação ao exercício de 2019), já que o pagamento de bônus deste ano (relativo ao exercício de 2018) foi cancelado devido à tragédia de Brumadinho. Ao todo, a Vale ainda informou que pretende pagar até R$ 115,204 milhões em remuneração total a seus administradores referente ao exercício de 2019.

    A tragédia de Brumadinho também levou à companhia em 27 de janeiro a suspender a distribuição de dividendos aos acionistas. Além disso, a Vale, como forma de apurar as causas da tragédia, criou “Comitês Independentes de Assessoramento Extraordinário”, compostos por membros independentes cujo objetivo é dar suporte ao Conselho de Administração.

    Até o momento, a companhia tem, em ações judiciais, cerca de R$ 16,9 bilhões de ativos bloqueados, o que inclui as próprias ações da mineradora em tesouraria. A empresa também pode sofrer com possíveis ações coletivas nos Estados Unidos.

    Entre as sanções administrativas, a Vale foi multada em pelo Ibama em R$ 250 milhões, além de uma multa diária de R$ 100 mil. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Brumadinho também aplicou multas que somam cerca de R$ 108 milhões. Todas as multas estão sendo contestadas pela mineradora.

    Gestão de risco, dizem analistas

    Segundo Marcos Assi, diretor-presidente da Massi Consultoria e professor da Fundação Álvares Penteado (Fecap), atrelar parte do bônus a metas para reparar os danos de Brumadinho tem como objetivo mostrar ao mercado que a companhia está adotando efetivamente uma gestão de risco. Ele lembra que nos relatórios  da companhia não havia menção alguma a riscos em suas barragens.

    – Como a empresa não tinha mostrado ao mercado que  tinha essa gestão de risco, agora ela quer forçar seus gestores a buscarem ações para minimizar os riscos. É uma forma de proteger a empresa e responsabilizar os executivos. É uma mensagem que mostra que ‘se houver problemas vocês não vão receber o bônus no futuro’ – disse Assi.

    Flávia Maranho, coordenadora da Celso Lisboa Escola de Negócios e professora nas áreas de Administração Financeira e Governança Corporativa, acredita que a proposta envolvendo o pagamento de bônus com Brumadinho é válida, mas não vai ser suficiente para reverter a tragédia em Minas Gerais.

    – É uma ação válida. Em 2018, apenas 20% do bônus estava atrelado a questões ligadas à saúde e ao meio ambiente. Agora, esse número dobrou. Mas é preciso mais. A empresa deve melhorar os controles internos para melhorar os processos – afirmou Flávia. – Mas o acidente de Brumadinho justificaria o não pagamento de bônus neste ano.

    Para Wanderlei Passarella, diretor da Synchron Participações, que atua na profissionalização de processos de governança corporativa, é legítimo atrelar bônus em função de metas. Mas ele ressalta que as metas devem envolver a redução de risco em toda a operação e não apenas em Brumadinho:

    – Por outro lado, no meu entendimento, seria mais produtivo estabelecer uma meta de redução do risco global atrelado à operação de mineração e às barragens. Reconstruir é importante, prever novas catástrofes é mandatório.

    Com isso, a proposta de remuneração global dos administradores (membros do Conselho de Administração, Fiscal, diretoria estatutária e integrantes dos comitês de assessoramento) da Vale para o ano de 2019, que precisa passar pelo aval dos acionistas, é de R$ 115,204 milhões. São ao todo 45  pessoas, entre titulares e suplentes. O Conselho de Administração conta com 20 membros, seguido do conselho Fiscal (8) e diretoria estatutária (8). Os três comitês de assessoramento que têm nove integrantes ao todo.

    “Esse valor é 37,58% inferior ao valor proposto para o exercício social de 2018, que foi de R$ 184,571 milhões, em função principalmente dos pagamentos da remuneração variável que deixaram de compor a remuneração da Diretoria Executiva neste ano, conforme deliberado pelo Conselho de Administração em função da ruptura da barragem Brumadinho”, informou a Vale.

    Fonte: O Globo

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