São Paulo e Rio – A Vale pode receber ainda nesta sexta-feira, 25, uma licença que permita a retomada da Samarco, paralisada há quatro anos, desde o rompimento da barragem em Mariana, em Minas Gerais. A informação foi passada pelo diretor-executivo de Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, em teleconferência nesta manhã para comentar os resultados da mineradora no terceiro trimestre, divulgados na quinta.
Na tarde desta sexta-feira, 25, o Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais (Copam) analisará o pedido da Samarco de licença corretiva para poder voltar a operar. Siani disse que não poderia dar informações na teleconferência, mas que se houver decisão favorável, a Vale divulgará detalhes, como provisão de volumes e prazos.
Após dois trimestres seguidos de prejuízos por conta do rompimento de sua barragem em Brumadinho, Minas Gerais, a Vale registrou lucro líquido de R$ 6,5 bilhões no terceiro trimestre, alta de 13,7% com relação ao igual período do ano passado. O resultado reverteu o prejuízo de R$ 384 milhões registrado no trimestre imediatamente anterior. O bom desempenho se deveu ao menor peso de provisões e despesas relativos ao desastre e também, do lado operacional, ao aumento da produção e das vendas de minério de ferro no período.
Dividendos da Vale
A Vale só falará sobre o pagamento de dividendos e o programa de recompra de ações depois do progresso desejado na recuperação de Brumadinho, afirmou o presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeo. O executivo afirmou que logo haverá condições de tratar do assunto. A remuneração aos acionistas foi suspensa desde a tragédia que deixou 251 mortos e 19 desaparecidos em Brumadinho.
No terceiro trimestre a mineradora conseguiu reduzir sua dívida líquida em praticamente 50%, para US$ 5,321 bilhões. A liberação de US$ 1,8 bilhão bloqueados, a forte geração de caixa e a recompra de bonds emitidos no exterior ajudaram no enxugamento da dívida. Ao fim de setembro, a alavancagem da Vale estava em 0,5 vez, ante 0,9 vez no trimestre imediatamente anterior.
Os números animaram analistas, que já acreditam na retomada do pagamento de dividendos pela mineradora. “A empresa está progredindo rapidamente para zerar a dívida líquida, o que implica que dividendos robustos podem demorar apenas alguns meses”, afirmou o analista do BTG Pactual, Leonardo Correa.
Com discurso mais conservador, Siani disse que se a dívida líquida da companhia for analisada de forma isolada ela é, de fato baixa, mas a mineradora está olhando, neste momento, seu endividamento de forma ampliada. Assim, está considerando as provisões feitas por conta da tragédia de Brumadinho, de US$ 4,7 bilhões. Com isso, o valor chega a US$ 10 bilhões.
A Vale tinha colocado como meta ter uma dívida líquida de US$ 10 bilhões, por considerar esse nível como ótimo. “A provisão também é um passivo e estamos enxergando nosso endividamento de forma expandida, com as demais obrigações. Vamos voltar a falar desse assunto quando as outras obrigações se confirmarem”, disse o executivo, em teleconferência.
Em teleconferência com analistas na manhã desta sexta-feira, Bartolomeo disse que a Vale trabalha para ter um portfólio de produtos adequado e que represente a “Vale do futuro”, com foco na qualidade de seus produtos. Hoje, destacou, há um descompasso no mercado, com mais oferta de produtos de maior qualidade. A demanda no futuro, frisou, irá crescer, tendo em vista a preocupação crescente com questões ambientais.
O presidente da Vale disse ainda que o resultado do terceiro trimestre mostra que a companhia está no caminho de normalização, após um segundo trimestre de transição. “Estamos sustentando uma forte geração de caixa.”
Fonte: Estadão