Fonte: Conexão Mineral
Um mês e meio antes do rompimento da Barragem I de Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), a Vale promoveu seu Webinar de Sustentabilidade e um dos temas abordados foi justamente a gestão de barragens de rejeitos de minério de ferro. A mineradora estava confiante com seu sistema de gestão ao afirmar que “todas as barragens de minério de ferro da Vale estão seguras e operando dentro dos limites normais”.
O que deu errado, resultando em mais uma terrível tragédia envolvendo barragem de rejeitos, ainda não se sabe. Mas enquanto os relatórios técnicos sobre o rompimento não estão disponíveis, cabe ao setor analisar o trabalho que a Vale realizava até então e traçar um paralelo com suas ações, na tentativa de evitar mais um trágico acontecimento. Na indústria aeronáutica, cada erro é analisado e gera recomendações que aumentam a segurança, beneficiando todo o setor e a sociedade em geral.
Quadrilátero Ferrífero tem 111 barragens da Vale
No Webinar de 11 de dezembro do ano passado, a mineradora mencionou que tem como objetivo reduzir o número de estruturas desse tipo e informou que em 2018 seu portfólio passou de 150 para 136 unidades. Atualmente, existem 111 barragens no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, 16 na região Norte, 8 no Centro-Oeste e 1 no Nordeste.
Em 2017, segundo dados do Relatório de Sustentabilidade da Vale, a área de ferrosos aplicou US$ 182 milhões na gestão das barragens. Os recursos foram investidos em serviços de manutenção, monitoramento, obras de melhoria, auditorias, análises de riscos, revisões dos Planos de Ação para Emergências de Barragens de Mineração (PAEBM) e implantação de sistemas de alerta, entre outros.
Ainda de acordo com o Relatório de Sustentabilidade 2017, a empresa vem desenvolvendo um projeto de automação das estruturas, que inclui melhoria da sinalização e da iluminação e videomonitoramento e instrumentação automatizada de suas estruturas. Estas ações, cujas conclusões estão previstas para 2019, cumprem os requisitos da legislação brasileira, Portaria nº 70.389/17 do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), atual Agência Nacional de Mineração (ANM).
Na Vale Fertilizantes, foi implantado o Sistema de Gestão de Plano de Segurança de Barragens (SGPSB), que tem como principal benefício o controle auditável de documentos. Outras iniciativas de destaque, segundo a Vale, foram a revisão dos Planos de Ação para Emergências de Barragens de Mineração (PAEBM) e a implantação do monitoramento microssísmico e a aplicação de geofísica para monitoramento das estruturas do maciço e do substrato do reservatório, além de melhorias no Sistema de Gestão de Barragens (SIGBAR). Ao todo, foram investidos US$ 1,6 milhão nessas iniciativas.
A área de Metais Básicos realizou investimentos que somaram aproximadamente US$ 25 milhões em 2017, mais precisamente no alteamento da barragem de rejeitos do Salobo e na obra do Dique do Puma 1, na operação de Onça Puma, ambas no Pará, norte do Brasil. Foram investidos US$ 11,5 milhões nas represas da operação em Sudbury e Thompson, relacionados a estudos de engenharia e modernização de barragens. Todos os números são do Relatório de Sustentabilidade 2017 da Vale.
Integração de processos a partir de 2016
Até 2015, a gestão de barragens da Vale era descentralizada e cada unidade era responsável pela segurança da sua estrutura. A partir de 2016, a mineradora implantou um processo integrado, baseado em análise de riscos. Esse sistema, que deve passar por mudanças já que o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, afirmou que pretender ir além e acima das normas nacionais e internacionais para barragens, era baseado até então no tripé: equipe dedicada e qualificada, formada por cerca de 130 técnicos com mestrado; processos, que contemplam melhorias técnicas em segurança, riscos e emergências, padronização, definição de responsabilidades e integração; e sistemas de TI, como o Sistema de Gerenciamento de Geotecnica e Hidrogeologia (Geotec), de gerenciamento diário, com inspeções e monitoramento, e o Sistema de Gestão de Riscos Geotécnicos (GRG), composto pelo banco de dados das estruturas, painel de risco e comunicação.
No Webinar, a Vale afirmou 100% das barragens de minério de ferro da empresa possuem Declaração de Estabilidade emitida por auditores externos e que em 2018 todas foram auditadas. Ressaltou também que “existe a necessidade de continuar evoluindo, levando em conta as recomendações da análise de risco geotécnico”.
Segundo dados divulgados no evento, a mineradora cumpre as exigências legais, que incluem a auditoria externa semestral com a Declaração de Condição de Estabilidade (DCE), revisão periódica de desempenho da segurança de barragens com o DCE, plano de ação de emergência e simulados e sistema de monitoramento integrado e automatizado. E vai além, com a análise de risco pela metodologia GRG, painel internacional de especialistas, comitê de liderança geotécnica, inspeção cruzada de segurança de barragem, apoio a simulados de emergência, auditoria de todas as barragens de minério de ferro a cada três anos.
Em 2018, a Vale realizou nove exercícios externos de simulação de emergência em Minas Gerais, Pará e Mato Grosso do Sul e tem 15 planejados para 2019.