O relevo da mineração na Bahia vem ganhando contornos inovadores. Dez novas empresas passaram a operar no setor este ano, além das 380 anteriormente registradas. Existem atualmente 545 áreas requeridas pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). São áreas onde já foi detectada alguma presença de minerais e que vão passar por estudos.
A CBPM mantem 39 contratos assinados. Quinze deles incluem áreas já arrendadas, sob concessão e exploração da iniciativa privada. Outras vinte e quatro estão em fase de pesquisa complementar, ou seja, no estágio inicial do projeto de mineração.
Diversidade
As possibilidades de negócios futuros ganham força diante da diversidade de metais presentes no estado. De acordo com os especialistas, 42 substâncias minerais podem ser encontradas no território baiano.
Já se sabe que a Bahia é o maior produtor de cromo, magnesita, diatomita e talco. O estado também é o segundo maior produtor de quartzo, bentonina, grafite e salgema do país, e ocupa o pódio entre os principais produtores de cobre, níquel e pedras preciosas, como esmeralda e ametista.
Entre as rochas ornamentais, a Bahia é o único produtor mundial de granito azul, e o único no país que produz mármore travertino, conhecido como bege bahia.
“Boa parte destes minerais está no semiárido. Por isso costumamos dizer que esta área, que abrange 68% do território, tem uma riqueza encoberta, e que o semiárido é muito mais rico no subsuperficieo do que solo. As possibilidades de desenvolvimento são enormes”, afirma Rafael Avena, diretor técnico da CBPM.
Potencial
Algumas partes do estado estão se destacando nas projeções dos especialistas. Cinco grandes minas foram descobertas nos últimos dez anos em áreas da CBPM. As minas de níquel em Itagibá, a de vanádio em Maracás, a de bentonita em Vitória da Conquista, a mina de ouro em Santa Luz, e a de fosfato em Irecê.
“A Bahia é o principal produtor de minérios do Nordeste e vem avançando as pesquisas visando os minerias portadores de futuro, entre eles lítio, grafite para grafeno e nióbio. Todos são importantes e estratégicos no desenvolvimento tecnológico de produtos como baterias para veículos elétricos, celulares e fibra ótica”, aponta Avena.
Os novos roteiros da mineração apontam também para a região de Ipirá, com possíveis reservas de grafite.Novos depósitos de ouro foram encontrados em Rio do Pires, Abaíra e Umburanas.
No oeste, Coribe aparece com enorme potencial para produção de grafite, grafeno e calcário.
Em Campo Alegre de Lourdes, na divisa com o Piauí, foram registradas ocorrências de jazidas de fosfato, e no norte do estado reservas de ferro.
“A Bahia é o estado mais bem estudado geologicamente do Brasil. Todo o território está coberto por estudos aerogeofísicos. Depois que verificamos a existência de um depósito mineral, abrimos a licitação pública para chamar a iniciativa privada para dar continuidade as pesquisas complementares, explorar a área e viabilizar a mina”, explica Avena.
Licitados
Alguns estudos já estão mais avançados e recentemente duas licitações foram finalizadas.
A primeira envolve a pesquisa para exploração de chumbo, zinco e fosfato na região de Irecê. A partir de 2020, a empresa Pedra Cinza, ligada a Bamin, deve investir inicialmente R$ 4 milhões de reais nesta área.
Em Iramaia, na parte sul da Chapada Diamantina, nos próximos meses a Empresa Enviromentals Participações começará as pesquisas complementares para explorar ouro. O investimento inicial também será de R$ 4 milhões de reais.
E não para por aí. No início do próximo ano estão previstas novas licitações para exploração de cobre, níquel e cobalto na região entre Campo Alegre de Lourdes e Pilão Arcado .
Já em Belmonte as pesquisas têm como foco os depósitos de areia silicosa. Ela é usada para produção de vidros especiais que podem compor a fabricação de equipamentos de energia solar e silestone, material diferenciado para bancadas de banheiro.
“O grande desafio é encadear industrialmente esta matéria prima. Atrair investidores para a cadeia de suprimentos mineral e verticalizar o processo produtivo, finalizando a fase de processamento aqui mesmo no estado”, aponta o geólogo Adalberto Figueiredo Ribeiro, da gerência de empreendimentos minerais e gestão ambiental da CBPM.
Em Itarantim, a Mineradora B4F produz atualmente cerca de 500 toneladas de nefelina concentrada por mês. A nefelina é um tipo raro de aluminossilicato, quando purificado ele pode ser aplicado em diversos segmentos da indústria como aditivo para melhoria de performances de vários produtos. Até o final de 2020, a empresa deve dobrar a produção com a abertura de uma nova lavra. A empresa gera 40 empregos diretos.
“Poderíamos aumentar 50% este número caso bons ventos soprem. A B4F continuará crescendo pela força de seus colaboradores”, afirma Fernando Cabral, fundador e presidente da B4F Minerais do Brasil S/A.
Fertilizantes
Novas pesquisas também estão sendo realizadas envolvendo minerais usados na atividade agrícola. A empresa Galvani está realizando estudos para retomar a produção de concentrado de rocha fostática em Irecê. A jazida já havia sido usada para extração do minério secundário, mas estava parada. Agora a ideia é extrair o minério primário. A expectativa é de que oitenta novos postos de trabalho sejam gerados quando a mina voltar a operar.
A empresa já mantém em Campo Alegre de Lourdes, no norte do estado, a produção de 200 mil toneladas de rocha fosfática por ano. De lá o produto é enviado para a indústria em Luiz Eduardo Magalhães, no oeste do estado, onde vira matéria prima para a produção anual de 500 mil toneladas de fertilizantes.
A produção abastece o agronegócio da região do Matopiba, a fronteira do agrícola que une partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piaúi e Bahia. As duas unidades da mineradora juntas geram 550 empregos diretos e 230 indiretos.
“A Bahia, pelas suas dimensões e características de suas diversas regiões, é riquíssima em oportunidades naturais. Projetos de infraestrutura em implementação ou em estudos desenham uma terra de muito progresso e de maior geração e distribuição de riquezas” afirma Ricardo Neves de Oliveira, diretor presidente da Galvani.
O transporte da produção é realizado através de rodovias, e a empresa espera a complementação do trecho da BR-020, entre Campo Alegre de Lourdes e Barreiras para agilizar a extração mineral na região.
Alinhada com a mineração moderna, a empresa implantou ações de sustentabilidade nas duas unidades de produção. Em Luiz Eduardo Magalhães a mineradora mantém o Parque Vida Cerrado, o único Centro de Conservação da Biodiversidade, Pesquisa e Educação Sócio Ambiental da região. O parque protege mais de dez espécies de animais da savana brasileira.
Já em Angico dos Dias, o Instituto Lina Galvani incentiva a realização de feiras, exposições culturais, atividades gratuitas de esporte, lazer e educação para crianças e adolescentes, além de ações integradas de promoção da qualidade de vida na terceira idade.
Magnesita
Há quem diga que sem a magnesita seria mais difícil fundir os outros metais. A rocha usada na produção de refratários é utilizada para revestir equipamentos que operam em altas temperaturas, como os fornos e chaminés da indústria metalúrgica.
A Bahia produz magnesita graças as minas de Brumado, no sudoeste da Bahia. A mina está sob concessão da Mineradora RHI Magnesita.
Uma parcela da produção é vendida para o mercado, mas a maior parte segue para a indústria da empresa em Contagem, Minas Gerais. A mineradora emprega mais de 680 pessoas na Bahia, e fomentou fornecedores locais que geram outros 580 empregos. Acreditando nos bons ventos do mercado, recentemente a empresa investiu cerca de R$ 40 milhões de reais na modernização da produção.
“Estamos muito confiantes. A mina de Brumado e o complexo industrial de Contagem têm um viés extremamente estratégico para a nova companhia e para a indústria nacional. Temos grande confiança em nossos clientes. Trabalhamos juntos para fazer parte, não como um fornecedor de refratário, mas como um parceiro que consegue fazer a diferença na cadeia produtiva dele”, afirma Francisco Carrara, presidente da RHI Magnesita para América do Sul.
Ranking
Em 2018 as mineradoras que atuam no estado pagaram mais de R$ 117 milhões de reais em impostos atráves da Compensação Finaceira pela Exploração de Recursos Minerais (CEFEM). A Bahia é o quarto estado que mais arrecada com esta atividade econômica. A união fica com 12% dos valores arrecadados, o estado recebe 23% dos impostos, e os municípios ficam com 65%.
Veja abaixo a lista dos 10 Municípios da Bahia que mais arrecadaram impostos com a produção mineral, segundo a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico:
1) Jacobina
2) Barrocas
3) Juazeiro
4) Jaguarari
5) Andorinha
6) Nordestina
7) Brumado
8) Alagoinhas
9) Maracás
10) Simões Filho
Fonte: Jornal Correio.