*Alessandro Nepomuceno
Fonte: Estado de Minas
A conciliação do desenvolvimento econômico com as questões de equidade social e impactos ambientais é um tema que já entrou no espírito do nosso tempo. Com a mineração não é diferente. Seja pela preocupação de seus empregados, gestores ou acionistas, não há mais mineração sem responsabilidade social e sustentabilidade.
Esse desafio se apresenta para a Kinross, que opera uma mina de ouro a céu aberto em Paracatu, no Noroeste de Minas Gerais. O que nos norteia é: qual legado estamos construindo com a cidade?. Esse assunto nos mobiliza, uma década antes da previsão de fechamento da mina. Estamos lançando o Plano de Desenvolvimento Sustentável, que consolida nosso compromisso, sistematiza as ações e traça metas para garantir que o legado seja positivo.
O plano traz uma novidade: a internalização de custos. Tem se tornado comum a surpresa dos investidores com os valores que envolvem o fechamento de uma mina. Para sanar isso, devemos assumir alguns custos enquanto operamos. Um exemplo na nossa mina: a prevenção da drenagem ácida. Em vez de lidar com o problema de má qualidade da água causado pelo enxofre, investimos pesado em um processo que recupera esse elemento e melhora a qualidade do efluente. Isso vai nos permitir fazer uma estratégia de fechamento mais convencional, já que evita o gasto com descontaminação, tratamento da água e coberturas mais caras.
Outro caso é o de reabilitação de áreas. Hoje, já fechamos cerca de 600 hectares (ha) dos 2.000ha abertos para operação. Este ano, esperamos atingir 700ha reabilitados. A previsão é fecharmos mais áreas e nos aproximar da recuperação total antes do fechamento. Estamos colocando isso no nosso fluxo de caixa agora. Isso é internalizar custos à medida que caminhamos.
Esse legado vem sendo construído ao longo dos anos, em ações ambientais e também sociais. Hoje, já investimos diretamente na geração de emprego e renda para as comunidades que estão ao nosso redor, além de capacitar professores da rede pública e articular grupos culturais do município, fomentar o turismo e resgatar as tradições locais. Isso acontece por meio do Programa Integrar, que viabiliza projetos de investimento social em Paracatu.
Nossa abordagem é focada em stakeholders locais e preconiza a participação efetiva da comunidade. Nosso plano está alinhado com as discussões do comitê local de desenvolvimento sustentável, formado em conjunto com a prefeitura, órgãos públicos e sociedade civil.
Se, por um lado, não é possível produzir riqueza sem se preocupar com impactos ambientais, por outro não há como investir em projetos de impacto social e ambiental sem a atividade econômica. A sustentabilidade vem do balanço positivo entre o impacto e a contrapartida.
Dizer isso significa que é necessário desenvolver atividades agora para suprir as necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das futuras gerações em encontrar as soluções para suas necessidades. A mineração do século 21 é marcada por esse paradigma, o da sustentabilidade. Não é mais possível dissociar a atividade desse conceito.
Devemos seguir as discussões mais avançadas da sociedade civil e dos organismos internacionais. Um exemplo para nos nortear são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Desde 2015, eles guiam o debate da sustentabilidade com 17 objetivos globais, que vão desde a redução das desigualdades, passando por vida terrestre, igualdade de gênero e vão até a inovação na infraestrutura. Cada vez mais esses objetivos têm encontrado ressonância nas empresas e já pautam nossos projetos em Paracatu.
Devemos estar atentos e empenhados em entender claramente o que a sociedade espera da mineração. A resposta para essa questão precisa ser continuamente construída, num trabalho sério e seguro de parceria entre empresas, cidadãos e poder público, participando juntos em todas as etapas da atividade mineradora: desde o licenciamento, até o encerramento das atividades de um empreendimento, de olho no futuro dos territórios que hoje geram riquezas por meio da extração e beneficiamento mineral.
*Alessandro Nepomuceno
Diretor de Sustentabilidade da Kinross Brasil Mineração
Fonte: Estado de Minas