A corrida da Tesla, Samsung SDI e de outras gigantes de tecnologia para garantir o fornecimento de lítio um elemento essencial em baterias para veículos elétricos e smartphones – está criando uma oportunidade única para duas superpotências mundiais do setor de mineração aumentarem os ganhos a partir de seus recursos naturais.
A Austrália e o Chile veem no lítio sua chance de escapar de um ciclo no qual há décadas commodities como minério de ferro e cobre são extraídas internamente, mas refinadas e transformadas em produtos valiosos no exterior.
Quase 75% das matérias-primas do lítio vêm de minas na Austrália ou de lagos salgados no Chile, dando aos países poder de barganha nos contratos com clientes em um cenário de oferta apertada. Os países mineradores esperam trazer refinarias e fábricas que possam ajudar a impulsionar empresas de tecnologia domésticas.
As primeiras medidas para este plano começam a ser colocadas em prática.
Enterrando uma pá na terra perto da cidade portuária australiana de Bunbury, um executivo da americana Albemarle, fornecedora líder de lítio, anunciou em março um plano de 1 bilhão de dólares australianos (US$ 690 milhões) para construir a maior processadora de lítio do mundo. Enquanto isso, em Mejillones, no norte do Chile, Samsung SDI e Posco, ambas com sede na Coreia do Sul, formaram uma parceria para construir uma fábrica de componentes químicos usados em baterias.
“O Chile e a Austrália levam vantagem”, disse Daniela Desormeaux, presidente da consultoria SignumBOX, de Santiago. Esses países têm lítio e, “ao mesmo tempo, incentivos estatais para que processadoras da matéria-prima possam se instalar”.
A Austrália e o Chile têm extensa experiência em mineração de rocha e exportação. A Austrália, maior produtora de minério de ferro do mundo, envia bilhões de toneladas da matéria-prima usada na fabricação de aço para usinas no Japão e na China desde a década de 1960. O Chile, maior fornecedor mundial de cobre, exporta mais da metade de seus embarques como concentrado semirrefinado.
“É um modelo econômico interessante”, disse Peter Klinken, cientista-chefe da Austrália Ocidental e assessor do governo do estado, em conferência realizada em Perth, em fevereiro. “Pegue uma rocha grande, transforme em uma rocha pequena, coloque-a em um navio e depois compre algo realmente caro em troca.”
O fornecimento de baterias íon-lítio precisa aumentar mais de 10 vezes até 2030, prevê a BloombergNEF. Os veículos elétricos devem responder por mais de 70% dessa demanda. Com isso, usuários finais começam a se mexer: a Volkswagen e a Volvo Cars fecharam contratos de fornecimento de longo prazo desde abril.
Fonte: UOL