A maior mina de diamantes do mundo – mais famosa pelas cobiçadas gemas rosa e vermelha que produz todos os anos do que por ser uma grande produtora de pedras de qualidade inferior – está sendo fechada pela Rio Tinto após quase quatro décadas. Rivais da Rússia ao Canadá esperam que isso ajude a mudar a indústria.
A mina Argyle, na remota Austrália Ocidental, vem transformando o setor desde 1983 quando a operação começou a fornecer gemas para os dois extremos do mercado. A RBC Capital Markets e a Panmure Gordon estão entre corretores, bancos e competidores que preveem que o fechamento pode impulsionar os preços em queda desde 2011, de acordo com o PolishedPrices.com, provedor de dados do setor.
A produção em Argyle, a cerca de 2.600 quilômetros a nordeste de Perth, deve fechar antes do final do próximo ano, depois de finalmente esgotar sua oferta de pedras economicamente viáveis, disse Arnaud Soirat, chefe de cobre e diamantes da Rio Tinto.
“Haverá uma quantidade razoável de oferta que sairá do mercado”, disse Soirat em entrevista no local da mina. “No final de 2020, interromperemos as operações e iniciaremos a reabilitação do local”.
Argyle é mais conhecida como a fonte de cerca de 90% dos valorizados diamantes em tom rosa-magenta que figuram entre os preços mais altos do setor. A Sotheby’s leiloou o “Estrela Rosa” de 59,6 quilates, extraído pela rival da Rio Tinto, a De Beers, por US$ 71 milhões em abril de 2017, preço recorde em leilão para qualquer gema. Embora atraiam mais atenção, as pedras cor de rosa representam menos de 0,01% da produção total de Argyle.
A mina também é o maior produtor de diamantes em volume e foi isso que colocou a operação no centro do excesso da oferta global. Mais de três quartos da produção da Argyle é composta por diamantes marrons de menor valor e a produção geral da mina é vendida por uma média de US$ 15 a US$ 25 por quilate, estimou o Canaccord Genuity Group em 2017. Isso é muito menos do que o preço médio de US$ 171 por quilate obtido no ano passado pela De Beers.
Um excesso de diamantes baratos e pequenos corroeu os lucros de quase todos os mineradores e tornou cada vez mais difícil para os cortadores, polidores e comerciantes do setor obterem lucro. Em dezembro, alguns dos clientes da Rio Tinto se recusaram a comprar as pedras mais baratas, enquanto a De Beers foi forçada a reduzir alguns preços e oferecer concessões aos compradores.
No entanto, com o apetite estável do consumidor por diamantes e as principais minas, incluindo a Argyle, com previsão de fechamento, “a compensação racional entre oferta e demanda deve levar ao aumento de preços”, disse em março o CEO da Stornoway Diamond, Pat Godin. A queda na produção, liderada pelo fechamento da Argyle, ajudará a reavivar os preços, disse em maio a produtora Mountain Province Diamonds, com sede em Toronto.
Cerca de 21 milhões de quilates por ano da produção global de diamantes – incluindo cerca de 14 milhões por ano da Argyle – devem sair do mercado até 2023, volume que será parcialmente compensado pela adição de novas minas, de acordo com o Alrosa PJSC da Rússia, maior produtor mundial de diamantes. O déficit entre demanda e oferta anual pode ficar entre 11 milhões e 35 milhões de quilates até 2023, informou a empresa em apresentação no mês passado.
“Em termos de diamantes rosa, o impacto será ainda mais dramático” com o fechamento da Argyle, disse Soirat, da Rio Tinto, na entrevista. “Você pode imaginar as leis de oferta e demanda aplicáveis e o impacto que terá sobre esses raros diamantes rosa, vermelho, azul e roxo”.
O fechamento da Argyle vai tirar cerca de 75% da produção de diamantes da Rio Tinto, mas o impacto nos ganhos da empresa será insignificante. Os diamantes geram apenas cerca de 2% dos ganhos, enquanto o minério de ferro responde por quase 60%.
Fonte: UOL Economia.