Afetada pelas fortes chuvas de janeiro e fevereiro e pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a indústria nacional de mineração registrou produção de 220 milhões de toneladas no primeiro trimestre de 2020, queda de 17,7% frente ao mesmo período do ano anterior.
Apesar das incertezas quanto aos próximos meses, a chegada da doença ao País poderá afetar não apenas os níveis de produção das mineradoras, mas os investimentos previstos para este e os próximos exercícios.
Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). “A continuar a situação atual, a expectativa de maneira realista é de queda de produção. Enquanto a China vem recuperando suas atividades, a Europa está paralisada em termos de importação de produtos minerais”, admitiu o presidente do conselho diretor da entidade,
Wilson Brumer, em coletiva de imprensa virtual.
O diretor-presidente do Instituto, Flávio Ottoni Penido, por sua vez, lembrou que os US$ 32,5 bilhões previstos em investimentos no setor mineral brasileiro de 2020 a 2024, dos quais entre 20% e 25% serão aplicados em Minas Gerais, totalizando até US$ 8,1 bilhões, até o momento estão mantidos, mas que poderão sofrer alterações.
“Não temos observado suspensões ou cancelamentos. De fato, os investimentos de mineração precisam ser calculados e provisionados para longo prazo. No entanto, é provável que alguns cronogramas sofram alterações conforme ocorra o impacto da pandemia no setor”, disse.
De acordo com o Ibram, o faturamento do setor no primeiro trimestre somou R$ 36 bilhões, em dados que excluem a produção de petróleo e gás. Os estados do Pará e Minas Gerais tiveram a maior participação na receita do setor, com 45% e 36%, respectivamente.
O instituto informou ainda que o setor exportou 17% menos nos três primeiros meses deste ano, totalizando 147 milhões de toneladas, na comparação com o mesmo período em 2019, quando foram 179 milhões de toneladas. Conforme Brumer, a variação cambial e o preço internacional dos minérios ajudaram no valor das exportações, que alcançaram US$ 7 bilhões no mesmo período.
“Chama atenção que o saldo do setor mineral na balança comercial foi de US$ 5,7 bilhões, superando o saldo Brasil de US$ 5,6 bilhões. Isso mostra a importância do setor para o comércio exterior brasileiro”, destacou.
Tributos – Com isso, também de janeiro a março deste exercício, a indústria minerária recolheu cerca de R$ 12 bilhões em impostos, encargos e taxas ao setor público. Desse total, mais de R$ 1 bilhão em referência à Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem).
Em relação a Minas Gerais, conforme já publicado, nem mesmo os aumentos do dólar e da cotação do minério de ferro no mercado internacional, que contribuíram para a arrecadação dos royalties da mineração no decorrer primeiro trimestre deste ano foram capazes de elevar as receitas do Estado na comparação ao mesmo período de 2019.
A Cfem chegou a R$ 392,1 milhões no acumulado de janeiro a março de 2020 em Minas, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), baixa de 1,58% sobre os mesmos meses de 2019, quando o valor recolhido chegou a R$ 398,4 milhões.
O resultado respondeu por 38,3% do montante arrecadado com a contribuição em todo o País e, mais uma vez, a contribuição do Pará superou a do Estado, chegando a 50,63% do total nacional. O Pará recolheu R$ 518,7 milhões no acumulado de janeiro a março deste ano. Historicamente o maior produtor mineral e o maior recolhedor da Cfem, Minas já não ocupa a liderança nacional da produção de minérios desde o ano passado.
“Após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (RMBH), diversas minas do Estado seguem com suas operações suspensas ou com a capacidade de produção reduzida. Esse minério de ferro tem sido suprido por mineradoras da Austrália – cujo teor de ferro do insumo siderúrgico se assemelha ao do Quadrilátero Ferrífero – e o blend feito com o minério do Pará”, explicou Penido.
Para os próximos meses, o cenário é de preocupação. Conforme Brumer, há perspectiva de melhoria apenas para o final do ano e 2021. No entanto, ele ponderou que não há sinalização de demissões por parte de nenhuma das empresas associadas ao instituto.
“O setor mineral, assim como outros segmentos, está junto à sociedade para promover a recuperação econômica, ao mesmo tempo em que lutamos contra a propagação da pandemia global, tomando todas as providências para garantir saúde dos nossos funcionários e colaboradores”, afirmou.
Fonte: Diário do Comércio.