Bahia se destaca na estrutura disponível para investigações geológicas
O primeiro registro da presença de minério de ferro em Caetité data de 1848. Três décadas depois, a presença do minério na região foi confirmada, o que aconteceu mais uma vez em 1937, numa localidade chamada Pedra de Ferro. Por boa parte do Século XX, empresas exploraram manganês na região, entretanto somente no início do século seguinte, em 2003, o geólogo João Carlos Cavalcanti, foi a campo e atestou a presença significativa de minério de ferro lá.
A partir da descoberta, surgiu o projeto da Bahia Mineração (Bamin) na região, que em breve deve colocar a Bahia entre os grandes produtores do minério no Brasil. Mas as idas e vindas no processo até que a viabilidade fosse atestada mostra os desafios da pesquisa na área da mineração, atividade que envolve riscos e custos elevados. A estimativa no setor é que a cada 100 projetos de prospecção iniciados, apenas um venha a ter a viabilidade confirmada.
Não é a toa que esse trabalho, que representa a primeira fase do processo de mineração, é praticamente dominado aqui na Bahia pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), empresa pública estadual. “O trabalho que fazemos envolve um risco elevado e um custo que pouca gente na iniciativa privada tem interesse em pagar”, explica o geólogo Ricardo Spreafico, gerente de geologia básica da CBPM. Segundo ele, um projeto de prospecção simples costuma custar entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão por ano.
O que ajuda a tornar o trabalho mais assertivo é o grau de conhecimento do subsolo. E neste sentido, os envolvidos no setor mineral reconhecem que a atividade conta com bastante informação aqui na Bahia. “Nós temos uma boa base geológica, nossos mapas estão sempre sendo atualizados e temos acesso a um acervo histórico rico”, explica Spreafico. “Em comparação com outros estados, a Bahia é muito bem estudada e temos um conhecimento científico disponível de alto nível”, diz.
Nos últimos anos a CBPM investiu no mapeamento cartográfico do estado em escalas de 1/250 mil e de 1/100 mil, além de ter feito um aerolevantamento de 100% do território, uma espécie de tomografia do subsolo.
Na hora de definir quais serão as áreas de prospecção, o trabalho na CBPM passa por uma avaliação do que existe de informação disponível, levando em conta também as demandas do mercado, explica Ricardo Spreafico.
Novas licitações
Quando o processo de prospecção é bem sucedido, dá-se início à outra fase do processo, que é a exploração. Nesta etapa, os estudos são aprofundados, para se chegar ao potencial disponível e se definir a tecnologia necessária ao processo. Quando se trata de uma pesquisa da CBPM, nesta fase acontece um processo de licitação da área. Em junho, a empresa estadual voltou a realizar um processo de licitação, após quatro anos de intervalo.
A empresa Pedra Cinza Mineração (PCM), criada em 2006 e controlada pelo Grupo ERG, venceu o leilão para desenvolver um programa de pesquisa nos municípios de Lapão, Irecê, Presidente Dutra, Ibititá e Uibaí. Os próximos passos são a execução de sondagem e amostragem em profundidade, a fim de avaliar o potencial mineral da área, segundo a assessoria de imprensa da empresa. A pesquisa será voltada para os minérios de Zinco-Chumbo e metais associados, além de fosfato.
Segundo a empresa, o potencial da área só será conhecido após o desenvolvimento da pesquisa mineral na área dos 20 mil hectares. Nesta fase, o investimento é de R$ 7 milhões nos dois primeiros anos da pesquisa, sendo R$ 2 milhões no primeiro ano e R$ 5 milhões no segundo.
De acordo com a CBPM, Pedra Cinza deverá pagar R$ 4 milhões quando for obtida a primeira portaria de lavra, além de 2,55% do faturamento obtido com a venda do concentrado zinco e chumbo, e R$ 18,50 por tonelada de concentrado fosfático. Quando estiver em operação, a mina deve render mais de US$ 6 milhões de dólares por ano ao estado como royalties – o equivalente a pouco mais de R$ 23 milhões.
Ainda para este ano estão previstas a abertura de mais quatro licitações: para exploração de Ouro em Iramaia/Maracás, Esmeraldas em Pindobaçu, Ferro em Ibipitanga e Cobre, Níquel e Cobalto de Caboclo dos Mangueiros, em Pilão Arcado/Campo Alegre de Lourdes, no norte do estado.
A avaliação do presidente da CBPM, Antônio Carlos Tramm, é a de que as licitações vem para demonstrar a viabilidade econômica não apenas da CBPM, mas da mineração na Bahia. “Esta é uma atividade fundamental para o desenvolvimento da política de emprego e renda do estado da Bahia”, diz.
Interesse privado
O geólogo João Cavalcanti é uma exceção em relação à falta de interesse privado nas etapas iniciais de pesquisa. A mina Pedra de Ferro, projeto que vem sendo tocado pela Bamin, não foi o seu primeiro trabalho, muito menos o último. A sua mais recente investida no mercado é a da província mineral do Vale do Paramirim, que engloba oito distritos mineiros, com cerca de 2 bilhões de toneladas de minérios diversos como Ferro, Zinco, Cobre, Grafeno, Terras Raras e Fosfato. “Vem sendo apontada por muita gente como a descoberta mais importante do Século XXI”, diz o geólogo.
Para ele, a Bahia tem um potencial ímpar no Brasil para o desenvolvimento da mineração. “Aqui tem uma diversidade tão grande, que se fosse um país seria autossuficiente em minérios”, diz. “Posso afirmar sem qualquer dúvida que a Bahia é o estado que oferece aos pesquisadores os melhores estudos geológicos básicos no país. Vários governos prepararam isso que, sem qualquer sombra de dúvidas, facilita muito o trabalho de prospecção de novas áreas”, aponta o geólogo João Cavalcanti.
Fonte: Correio*