Queda na produção de minério de ferro em Minas após desastre pode chegar a 130 milhões de toneladas – Créditos: REUTERS/Washington Alves
A descontinuidade parcial da atividade de extração minerária em Minas Gerais, em decorrência da instabilidade de barragens de rejeitos de mineração, trará impactos não somente para a indústria, mas também para atividades de comércio e serviços do Estado. Em termos de faturamento as perdas podem chegar a R$ 8 bilhões somente neste exercício.
Foi o que revelou um levantamento da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), que considerou não apenas a paralisação das operações nas principais minas do Estado, mas também os setores demandantes da mineração.
Conforme a entidade, os impactos diretos dizem respeito às perdas vinculadas às atividades de comércio por atacado, varejo, veículos, reparação de veículos automotores e motocicletas.
Já os indiretos incluem as perdas nos setores fornecedores destas mesmas atividades nos seus encadeamentos produtivos.
“Este impacto ocorrerá num cenário extremo, caso toda a cadeia produtiva da mineração e de seus demandantes não consigam se ajustar no decorrer deste exercício. Assim, teríamos todas as atividades prejudicadas, inclusive as de comércio e serviços tanto no que se refere ao suprimento quanto à demanda por parte dos consumidores”, explicou a gerente de economia da Fiemg, Daniela Britto.
Conforme o estudo, as perdas levam em conta a média ponderada de três cenários: pessimista (paralisação da produção de minério de ferro, outros minerais e de pelotas em 130 milhões de toneladas), atual (queda da produção anunciada pela Vale mais a paralisação da produção da mina de Brucutu e da Samarco por dois anos) e otimista (queda da produção anunciada pela Vale mais a paralisação da produção da mina de Brucutu e da Samarco paralisadas por um ano).
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), Lúcio Emílio de Faria Júnior, os impactos que poderão ser sentidos pelas atividades alertam, mais uma vez, para a necessidade de diversicação econômica mineira.
“Os problemas desencadeados pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, trarão como consequência a perda de receitas em diversos municípios mineradores do Estado e os impactos serão sentidos principalmente no emprego e na renda das pessoas que vivem nestas regiões”, explicou.
Faria Júnior também ponderou que, se por um lado, hoje existe uma eminente preocupação com os impactos causados pela extração mineral, por outro, são históricos os avanços proporcionados pelas empresas mineradoras nas cidades em que atuam, sob o ponto de vista da saúde e da educação. Por este motivo, segundo ele, é preciso avaliar com cautela e responsabilidade a descontinuidade da atividade em Minas Gerais.
“Minas sempre teve a economia voltada para a mineração e os demais setores acabaram se tornando demandantes ou dependentes da atividade. Agora, suspendê-la repentinamente trará impactos ainda maiores em todas as pontas da economia”, alertou
Diversicação – Para ele, o que pode e deve ser feito é uma diversicação gradual da pauta econômica do Estado.
“Isso, na verdade, já deveria ter ocorrido. Mas, como agora é mais urgente, precisamos, de fato, iniciar o processo. E, neste sentido, o Sistema Fecomércio pode ser útil, por meio do SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), na capacitação dos prossionais. Ações do tipo já estão sendo elaboradas”, disse.
Da mesma maneira, o economista da entidade, Guilherme Almeida, chamou atenção para a necessidade cada vez maior da diversificação da economia mineira sair de vez do campo acadêmico e chegar ao setor produtivo. Segundo ele, a dependência histórica do setor mineral trouxe o Estado à situação que se encontra hoje.
“Mais importante do que os números é a direção para onde eles apontam. Temos um erro
econômico histórico que precisa ser consertado o quanto antes, pois hoje vemos, na prática, setores de comércio e serviços, que dependem do emprego e renda das pessoas, sendo prejudicados por algo que aconteceu em outra atividade. Tudo isso fruto da concentração de renda em um único setor”, reiterou.
Fonte: Diário do Comércio