Comércio registra perdas de até 60% para o feriado de Páscoa; cidade vai lançar campanha para conscientizar turistas de que não está na rota da lama
Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco desde 1980, a cidade de Ouro Preto (a 96 km de Belo Horizonte) vive uma crise turística e econômica por causa do medo do rompimento de barragens.
Comerciantes, empresários e políticos temem que a baixa procura dos turistas no Carnaval se reflita também no feriado de Páscoa, bastante tradicional na cidade, e cujo efeito já é possível imaginar com o cancelamento de reservas em pousadas, hotéis e restaurantes para o período.
O município de Ouro Preto abriga diversas barragens de rejeitos de minério, dentre elas a do Doutor, que faz parte da mina de Timbopeba, da Vale, que é a maior do Estado, com produção de 30 milhões de toneladas ao ano. Forquilhas I e Forquilhas III, que fazem parte da mina de Fábrica, e estão em nível de alerta máximo, também ficam localizadas no município.
No entanto, como garantem as autoridades, um eventual rompimento de uma dessas estruturas não teria qualquer efeito sobre a cidade. No caso de Timbopeba, por exemplo, a mina está localizada há mais de 25km de distância da icônica praça Tiradentes, no centro da cidade. Fábrica fica há mais de 60km de lá.
O esvaziamento da cidade em períodos de alta procura como finais de semana e feriados tem feito com que figuras ligadas à cidade se manifestem para tentar minimizar o receio que turistas têm tido de visitar a cidade histórica.
O professor, ex-secretário de Estado de Cultura e ex-prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, é uma das autoridades que tem debatido o efeito do medo das barragens no cotidiano da cidade.
– Quando se fala em barragem de Ouro Preto, as pessoas imaginam a cidade, suas ladeiras. Mas muitas dessas barragens estão a mais de 50km da cidade. Ouro Preto tem uma área de mais de 1.300 km², o dobro da de Belo Horizonte, a cidade não corre nenhum risco com relação a essas barragens da Vale.
De acordo com o ex-secretário, empresários e comerciantes tem relatado a ele queda de até 60% na procura para o feriado de Páscoa. A data é tradicional em Ouro Preto e uma das atrações é caminhar pelas ruas enfeitadas pelos moradores por tapetes coloridos com temas religiosos.
– Os empresários do turismo estão apavorados. Não tem reserva para a Semana Santa, há uma série de cancelamentos em restaurantes, hotéis, pousadas, Airbnb. Já houve prejuízo no Carnaval por causa de todo esse noticiário e a informação equivocada persiste.
O secretário de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto, Zaqueu Astoni, diz que a falta de informações sobre a segurança da cidade com relação às barragens tem afastado os turistas. No entanto, ele acredita que uma maior divulgação sobre o assunto é capaz de reverter o quadro.
Astoni irá participar do lançamento da campanha da Semana Santa nesta sexta-feira (5) e diz que a cidade já encomendou 60 toneladas de serragem para enfeitar as ruas de pedras com os tapetes.
– Estamos na expectativa de que, com o lançamento da campanha, iremos conseguir reverter o cenário e atrair cerca de 20 mil pessoas em todos os dias do feriado. Não é uma tarefa fácil, mas toda a população, o setor de turismo e comércio estão unidos para mostrar que Ouro Preto está de pé e apta para continuar sendo destino do turismo.
História
O ex-prefeito Ângelo Oswaldo também critica o que chama de condenação da mineração, uma atividade histórica no Estado e, sobretudo, em Ouro Preto, que já viveu o ciclo do ouro, do alumínio e, agora, vive o ciclo do ferro, como recorda o ex-prefeito da cidade.
– Estamos em um Estado chamado Minas Gerais. Nós somos mineiros, palavra que significa ‘quem trabalha na mina’. Há um radicalismo exacerbado com relação à mineração. Estamos em território minerador. Proibir a mineração aqui seria o mesmo que proibir a pesca no litoral do Espírito Santo. Nós temos é que compatibilizar a mineração com as normas técnicas da engenharia.
Fonte: R7