quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
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    O poder do cobre: como o metal pode ajudar a evitar epidemias como a Covid-19

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    Imagine um material capaz de acabar com os microorganismos que encostem nele. Parece ficção científica, mas esse material existe – e poderia ser útil na luta contra epidemias se fosse devidamente empregado em espaços públicos, ambientes hospitalares e até mesmo dentro de casa. Estamos falando do cobre, metal de cor avermelhada que é conhecido pelos seres humanos desde 5 mil anos a.C.

    Atualmente, estudos científicos comprovam aquilo que diversas civilizações antigas notaram por instinto: ele mata os mais variados germes pelo simples contato com a superfície metálica. É isso mesmo. Grande parte das bactérias, fungos e vírus (inclusive o novo SARS-CoV-2, responsável pela atual pandemia de Covid-19) não resiste ao entrar em contato com o cobre ou suas ligas metálicas, como latão.

    Uma pesquisa publicada no New England Journal of Medicine descobriu que o vírus da atual pandemia pode sobreviver por três dias em superfícies plásticas e até dois dias em aço inox, mas ele morre em apenas 4 horas sobre superfícies de cobre. Em outras palavras, isso significa que, em nome da saúde coletiva, deveria haver mais cobre por aí do que existe hoje, especialmente em espaços públicos, em itens que são muito tocados pelas pessoas, como maçanetas, balcões e barras do transporte público, por exemplo.

    “Já há estudos que comprovam a diminuição de contaminações no geral quando o cobre é utilizado em corrimãos, em ambientes hospitalares, em macas, nas ferragens e metais de banheiros”, explica a professora de microbiologia Suzan Pantaroto de Vasconcellos, do departamento de ciências farmacêuticas da Unifesp. “De maneira geral, seria correto e muito importante utilizar o cobre. Creio que o problema basicamente é o custo associado à questão estética, porque este metal vai ficando esverdeado com o passar do tempo – mas mesmo assim ele mantém a propriedade microbicida, porém com aspecto pouco atraente”, pondera.

    Quase mágico
    As propriedades antimicrobianas do cobre são conhecidas há muito tempo. Para se ter ideia, um dos tratados médicos mais antigos do mundo, datado de 1.600 a. C., foi encontrado no Egito e descreve como o cobre era utilizado naquela época para esterilizar feridas, tratar queimaduras, infecções e fazer higiene em geral.

    A partir do século 19, a potência medicinal do metal foi observada quando centenas de trabalhadores de uma fundição de cobre em Paris, França, se mostraram imunes aos surtos de cólera que aconteceram seguidas vezes naquela região. Desde então, o uso de cobre na medicina se disseminou, sendo empregado para tratar uma série de doenças, de eczema a sífilis. Foi somente com a criação dos antibióticos, na segunda metade do século 20, que o cobre e seus poderes antimicrobianos começaram cair no esquecimento.

    Mas, afinal, como o cobre é capaz de matar o SARS-CoV-2? A professora Suzan, da Unifesp, explica: “Ele é um metal muito reativo. Consegue entrar na composição da capa lipoprotéica que envolve o vírus e muda sua conformação, fazendo com que a partícula viral se desestruture”.

    O lado da indústria
    Segundo dados do US Geological Survey, o cobre é o terceiro metal mais consumido no planeta e a maior parte dele (75%) é utilizada na fabricação de fios elétricos, cabos de telecomunicações e eletrônicos. Mas há ações pontuais que fomentam a volta do material para a área da saúde, com o objetivo de minimizar contaminações.

    É o caso da empresa espanhola Alcora Salud Ambiental, que aposta há 5 anos no poder antimicrobiano do cobre e comercializa folhas do metal para revestir qualquer superfície que as pessoas costumam tocar – de mesas a celulares. Os produtos vendidos pela companhia são fabricados pela Cunov, sediada no Chile (o país é o maior produtor mundial de cobre).

    “Estamos recebendo muitas solicitações de informações devido à pandemia”, diz Miguel Fernandez, diretor geral da Alcora Salud Ambiental. “No entanto, é uma tecnologia mais usada para prevenir do que para remediar”, esclarece ele – mais um motivo para se investir na adoção do material para o longo prazo, como tentativa de minimizar o surgimento de futuras epidemias.

    “Nós realmente pensamos que o cobre estará aqui para ficar. É uma solução econômica muito boa e evitará muitas infecções. Tenho certeza de que todas as pessoas começarão a se acostumar a ver diferentes móveis de cobre, elementos dentro dos prédios e até nos transportes públicos”, defende Miguel.

    Saúde em folhas de cobre
    No Brasil, as iniciativas nesse sentido estão recomeçando após não receberem a merecida atenção das autoridades públicas de saúde no passado. “Há alguns anos tentamos implementar um projeto de uso do cobre antimicrobiano no país, mas encontramos uma resistência muito grande na área médica-hospitalar”, revela Maria Antonietta Cervetto,  presidente da Associação Brasileira do Cobre.

    “Tentamos difundir a ideia junto à Anvisa, mas poucos médicos se interessaram e o assunto morreu. Ainda assim, fizemos ações pontuais: aplicamos em carrinhos de supermercado, em balcões do aeroporto de Congonhas (SP) e em mesas de escolas”, diz.

    Maria Antonietta, que também é presidente da empresa Cecil, de laminação de metais, conta que em breve lançará em canais de e-commerce de folhas adesivas de cobre, para que as pessoas possam aplicar nas superfícies que desejarem. A previsão é que o produto custe a partir de R$ 200 (folha de 1 m x 20 cm). “Ele dura e mantém as propriedades antimicrobianas por toda a vida se for bem cuidado”, explica.

    Estética x funcionalidade
    Maçanetas, torneiras, acessórios de banheiro, interruptores, catracas, barras de segurança, corrimãos e quaisquer outras áreas sensíveis à higiene podem se beneficiar do uso do cobre para evitar contaminações. Um bom exemplo aconteceu no Chile, onde o parque de diversão Fantasilandia aplicou o cobre em todas as superfícies mais expostas ao toque do público. Tudo para reduzir o contato dos visitantes com germes prejudiciais à saúde.

    Estudos indicam que o material é capaz de matar em minutos até mesmo os microorganismos mais resistentes, como as superbactérias. Mas essas vantagens ainda precisam ser amplamente divulgadas para que medidas concretas sejam tomadas em larga escala.

    “Existe hoje no Brasil o costume de usar materiais baratos, como plástico e aço. Assim, somado às questões estéticas, o uso do cobre e das ligas de cobre diminuiu ao longo do tempo. Imagino que com a pandemia vamos passar a olhar mais para essa questão da saúde associada ao material”, afirma Paulo Cezar Martins Pereira, superintendente de vendas e marketing da Termomecanica, uma das líderes brasileiras no setor de transformação do metal. Ele ressalta que o cobre pode até custar mais do que outros, mas a vida útil compensa o investimento. Outro ponto positivo é o fato de que o material pode ser 100% reciclado.

    “O curioso é que na construção civil já se usa bastante cobre em metais sanitários. Ele está também nas ferragens e fechaduras, por exemplo, mas por motivos estéticos acaba recebendo uma camada de níquel-cromo, para ficar brilhante e não oxidar, só que isso impede a ação antimicrobiana”, explica Nelson Leme, diretor na Associação Brasileira do Cobre e vice-presidente do conselho de administração da Termomecanica. E no mundo pós-corona, estaremos mais abertos à funcionalidade do que à estética? “Se for eficiente é o que importa. Isso será valorizado. Acredito que as coisas serão vistas desta maneira no futuro”, opina Nelson.

    Cultura milenar
    Se os poderes do cobre ainda são desconhecidos para muitos no mundo ocidental, nada disso é novidade para os indianos. “Na Índia, cobre e latão estão associados à pureza. Além de seu uso em rituais religiosos, eles são frequentemente usados nos utensílios de cozinha por suas propriedades medicinais. São naturalmente antimicrobianos”, diz a designer Manasa Prithvi, fundadora do Ira Studio, que visa preservar a cultura e as técnicas tradicionais de seu país por meio do design.

    “Todos os nossos produtos são inteiramente feitos à mão. Ficamos longe da massificação. As peças não são ditadas por tendências e, com essa liberdade criativa, podemos projetar algo que permanece único e atemporal”, explica a designer. Para ela, a beleza de trabalhar com esse tipo de material é justamente a transformação que ele sofre ao longo do tempo. “Se você se permitir abraçar o processo natural de envelhecimento do material, o produto poderá ser atemporal”, finaliza.

    Lindo, resistente, atemporal, reciclável e com poder de ajudar os seres humanos a diminuir contaminações. Quase como um tesouro à espera de ser redescoberto pela humanidade.

    Fonte: Casa VOGUE.

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