A partir de hoje, espaço instalado no Prédio Rosa, na Praça da Liberdade, recebe projeto híbrido com três obras em seu espaço físico e seis exibidas on-line
O MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal reabre para atividades presenciais nesta terça (8), depois de passar quase nove meses fechado. A exposição CoMciência – Cristais do tempo será inaugurada no feriado e segue em cartaz até março de 2021.
Dividida entre três obras instaladas no espaço do museu e outras seis para visitação virtual, em proposta híbrida, a mostra dialoga com o contexto do momento, procurando questionar, por meio da arte, a relação do ser humano com si mesmo e com a natureza.
“É um campo de fronteiras. Nesse sentido, quando chamamos os artistas e pesquisadores, queremos que eles tragam o que há de limítrofe em termos de pesquisa científica, mas que só a arte poderia oferecer em termos de experimentação e criatividade”, explica Alexandre Milagres coordenador de programação do museu. Ele divide a curadoria da exposição com Tadeus Mucelli.
SELEÇÃO
A dupla selecionou nove obras de artistas de diferentes países. Montadas no museu estarão Reflexion: In sync/ Out of sync, da colombiana Claudia Robles-Angel; Vegetal reality shelter (VRS), do brasileiro Guto Nóbrega; e Emancipacíon microbiana, da mexicana Maro Pebo.
No espaço virtual, o público poderá visitar Estrelas no deserto, de Felipe Carrelli; Obs-cu-ra, de Bruno Alencastro; e O céu na Terra, de Luciana Ohira e Sérgio Bonilha – artistas brasileiros. Há também Untangling noises of matter, do holandês Louise Braddock Clarke; Silver tree: the sounds of wind through the crystalline forest, Saturn’s breath e Think like a mountain, da australiana Penelope Cain; e The universe according to Dan Buckley, do canadense Roberto Santiaguida.
Algumas mais interativas, outras menos, as instalações têm em comum a reflexão sobre o lugar do homem no mundo. A arte permite repensar a necessidade de empatia e conexão entre as pessoas, acreditam os curadores. É o caso de Reflexion: In Sync/ Out of sync (Reflexão: Em sintonia/ fora de sintonia). Ao entrar na sala onde está a obra, a dupla de visitantes tem os batimentos cardíacos medidos por um aparelho. O sistema de luz e som só deixa de ser dissonante quando há sincronia entre as duas frequências.
“Esta obra permite perceber o tanto que as pessoas têm de se sincronizar, além de se sintonizar umas com as outras. Vivemos isso no cotidiano, mas ela dá um olhar de profundidade”, descreve Milagres.
A perspectiva da ligação com o mundo a partir da origem mais elementar da vida humana é o tema de Emancipacíon microbiana, da mexicana Maro Pebo. O sangue da autora, historiadora de arte e bióloga foi a matéria-prima do trabalho, que tem a mitocôndria como destaque principal, em forma de escultura.
“Somos o que somos porque há muito tempo uma bactéria se juntou a um ser multicelular. Nossa relação ancestral com o mundo microbiano se dá nessa perspectiva. Vivemos o que vivemos hoje por essa relação com um vírus que nos assusta e impede uma série de coisas, mudando todo o contexto global da nossa espécie. A obra ajuda a entender a relação com o mundo microbiano”, observa Alexandre Milagres.
A trinca de atrações presenciais contempla também o reino vegetal, com a proposta do brasileiro Guto Nóbrega. Nela há um pequeno sistema hidropônico com plantas, seis canais de áudio e projetor de vídeo, combinado a um espelho esférico. No interior desse abrigo, plantas são monitoradas quanto à resposta galvânica de suas folhas, que se altera de acordo com a respiração do visitante quando ele entra no espaço e interage com o sistema.
“Teremos uma planta vivendo ali os três meses da exposição. Ela vai interagir com as pessoas, sentir a nossa presença. É uma imersão a respeito do que é viver num planeta que precisa da biodiversidade”, diz Milagres.
Ao comentar as obras expostas por meio da internet, o curador ressalta que elas “não devem ser relativizadas como uma solução pobre da experiência maior”. Segundo Milagres, a importância das experiências virtual e presencial é a mesma.
“Trouxemos o entendimento de que as exposições têm que nascer híbridas. O lugar da arte é colocar pessoas em experiências renovadas, alterar sentidos, modificar a atenção. Neste momento, ampliamos e democratizamos o acesso a uma exposição que não é só de BH. Ela é global, com artistas de todo o mundo. Por isso, deve ser acessível a todo o mundo”, argumenta.
A gravidade do enfrentamento à pandemia guiou a seleção das obras inscritas no edital que norteou a mostra. “Neste momento, muito difícil para todo mundo, não poderíamos nos esquivar de colocar pesquisadores e artistas pensando a respeito (da COVID-19). Mas não queríamos algo pessimista. Queríamos o oposto, proposições para vivermos um futuro distinto do que vemos agora”, explica Milagres.
“Não queremos só mais um experimento, mas um olhar sobre o que pode mudar a nossa relação com o agora. Quando falamos de fissuras no presente, é porque durante muito tempo direcionamos a ciência e a tecnologia para questões que não nos ajudaram a resolver situações como a da pandemia, por causa de uma perspectiva muito imediatista, que procurava agilizar as questões do mundo – e não resolvê-las. Queremos construir um caminho distinto”, diz o curador.
FUTURO
Com a iminência da segunda onda da COVID-19, o museu adotará protocolos planejados a longo prazo.
“Lançamos edital no primeiro semestre pensando numa possível reabertura que ocorresse de forma segura. Isso foi feito de forma continuada, com reuniões, estudando os melhores procedimentos e soluções. Levamos muito tempo trabalhando nessa reabertura, para termos limite de pessoas por metro quadrado, caminhos específicos para o fluxo de visitantes, máscaras, álcool em gel e tudo o que é necessário”, garante Milagres.
COMCIÊNCIA – CRISTAIS DO TEMPO
MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal. Praça da Liberdade, Prédio Rosa, Funcionários. Abertura nesta terça-feira (8), das 13h às 17h. Mostra on-line: www.mmgerdau.org.br. Visitação presencial: quinta e sexta, das 16h às 20h; sábado, domingo e feriado, das 13h às 17h.Entrada franca.
Fonte: UAI