Mais do que debater sobre os desafios da mineração brasileira, a Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (EXPOSIBRAM 2019) abordou o longo caminho que o setor deverá percorrer para reconquistar a confiança e a empatia da população, após os dois rompimentos de barragens ocorridos em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019).
O tema foi discutido no painel “Desafios da reconstrução da reputação da mineração brasileira”. “A escolha dos participantes foi estratégica porque são as pessoas que não atuam na mineração e, por isso, podem nos apontar quais as falhas que o setor comentou e como podemos solucioná-las para reconquistar a confiança da população”, afirma o diretor de Comunicação do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Paulo Henrique Leal Soares.
Segundo ele, o setor reconhece a necessidade de mudanças e está trabalhando para alcançar um nível operacional mais seguro. “Temos que transmitir à sociedade – e convencê-la – de que a indústria de mineração é capaz de aumentar a segurança operacional dos processos e, assim, evitar novos acidentes. Entendemos que reputação não pode ser comprada ou alugada, mas conquistada. Estamos trabalhando para que a sociedade volte a acreditar que estamos fazendo todo um trabalho para evitar novas ocorrências e estamos convictos de que isso depende mais da adoção de medidas práticas, que tenham resultados concretos do que de discursos e narrativas”, pontua.
Na EXPOSIBRAM, o Instituto anunciou iniciativas que demonstram o foco do setor com as mudanças positivas. Além da Carta Compromisso do IBRAM Perante a Sociedade, que teve seu conteúdo divulgado na cerimônia de abertura do evento, na última segunda-feira, 9, houve o lançamento do Guia IBRAM de Boas Práticas de Gestão de Barragens e Estruturas de Disposição de Rejeitos, bem como a assinatura do acordo de cooperação entre IBRAM e a Associação de Mineração do Canadá para implantar no Brasil a metodologia TSM – leia mais no Portal da Mineração – www.portaldamineracao.com.br
Pesquisa de reputação
Segundo uma pesquisa realizada pelo Reputation Institute, sob encomenda do IBRAM, a avaliação pública do setor não é positiva. Dos 450 entrevistados em todo o país, 74% registraram nenhuma ou pouca familiaridade e empatia com a mineração nacional. O nível de medo e desconfiança chega a 70%. A metade fez associações negativas com a atividade e 18% se referiram especialmente ao rompimento das barragens, como exemplo.
Segundo a diretora executiva do Reputation Institute, Ana Luisa de Castro Almeida, a retomada do setor passa, de forma obrigatória, pela reconquista da confiança perdida nos últimos anos e pela adoção de práticas que estejam em consonância com o discurso praticado pelas companhias. “É preciso esquecer o passado. Vivemos na era da indústria 4.0, onde as empresas são acompanhadas durante todo o tempo e em todos os seus aspectos. Elas estão mais expostas. No caso da mineração, o setor foi impactado pelo descompasso entre o que foi prometido e o que foi realmente realizado no caso de Mariana”, ressalta.
A jornalista e escritora Cristina Serra, autora do livro reportagem “Tragédia em Mariana”, lançado em 2018 com base no seu trabalho de campo e na coleta de materiais e documentos sobre o caso leu trechos da obra para demonstrar a quebra de discurso da mineradora Samarco em relação às consequências do rompimento da barragem para a comunidade local. “O discurso é perfeito, mas a prática deixou a desejar, o que comprometeu a percepção que as pessoas têm do setor”, ressalta.
Também participaram do painel o diretor executivo da Agenda Pública, Sergio Rodrigo de Andrade, a especialista sênior em setor extrativista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Natascha Nunes da Cunha e, ainda, o vice-presidente sênior da Mining Association of Canada (MAC), Ben Chalmers.
Fonte: Assessoria de Imprensa