O Brasil novamente assume papel fundamental para definir a direção dos preços globais do minério de ferro, já que o país, segundo maior produtor do mundo, responde por uma fatia significativa da oferta.
Mas, assim que o choque de oferta diminuir, o destino do mercado dependerá da recuperação econômica ainda frágil da China.
O principal ingrediente siderúrgico é negociado acima de US$ 100 a tonelada desde o fim de maio, impulsionado pela interdição do complexo de mineração da Vale em Itabira, que responde por 10% da produção da empresa.
Além disso, a China produz aço em volumes sem precedentes, e isso ajuda a fortalecer o desempenho do minério de ferro entre as commodities em 2020, beneficiando fornecedoras australianas como BHP e Rio Tinto.
A primeira pergunta que investidores precisam responder é quanto tempo a Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, enfrentará restrições de fornecimento devido à pandemia de coronavírus que atinge Brasil.
Além do lado da oferta, a questão principal está na China: até que ponto o governo de Pequim vai estimular a infraestrutura, intensiva em aço, para impulsionar o crescimento.
A enorme indústria siderúrgica da China absorve cerca de 70% do minério de ferro transoceânico global e seu controle sobre o consumo mundial cresce cada vez mais em 2020.
Após a primeira onda do vírus ter sido controlada, a demanda disparou com a retomada de atividade de incorporadoras. Autoridades também ordenaram uma aceleração dos projetos de infraestrutura para combater a crise econômica.
Consequentemente, a produção de aço atingiu recorde mensal em maio, estendendo décadas de expansão.
“Como converter a explosão da demanda por aço após o controle eficaz de vírus da China em demanda sustentada ainda é um problema”, disse Wu Wenzhang, fundador e presidente da consultoria Shanghai Steelhome E-Commerce.
“O investimento em infraestrutura aliviará a pressão negativa sobre a economia, mas produtos relacionados ao consumidor e à exportação devem enfrentar obstáculos ao longo do ano.”
Projeções de preços
A previsão de preços no curto prazo é difícil desta vez, dada a incerteza sobre as intervenções judiciais na produção da Vale, disse o analista da RBC Capital Markets, Tyler Broda.
Os preços podem facilmente ultrapassar US$ 120 a tonelada se houver mais problemas de oferta no Brasil, de acordo com o Citigroup, segundo o qual a demanda por aço da China parece resiliente rumo ao verão à medida que setores como automotivo e manufatureiro começam a se recuperar.
“É difícil avaliar em que direção os preços podem ir no curto prazo”, disse Broda, da RBC. “O Brasil é uma grande parte da história, mas não o único fator.”
Há muito em jogo para produtoras de minério de ferro. Cada aumento de US$ 1 nos preços médios anuais de minério de ferro adiciona US$ 233 milhões a uma medida de lucro operacional da BHP, de acordo com comunicado de fevereiro.
Para a Rio Tinto, uma valorização de 10% dos preços gera aumento total de US$ 2,1 bilhões, informou a empresa em relatório em março.
As empresas também se mostram otimistas sobre as perspectivas de demanda a longo prazo. A BHP e a Fortescue avaliam opções para expandir a capacidade portuária, medida que poderia permitir aumentar as exportações, enquanto o programa de US$ 4 bilhões da Rio Tinto para o desenvolvimento de minas dará à empresa novas opções para aumentar os volumes.
Fonte: Money Times