domingo, 22 de dezembro de 2024
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    Mineração precisa incorporar conceitos ESG em 2022

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    A próxima década será uma das mais transformadoras da história da indústria da mineração, mas a inovação precisa ser amplamente adotada entre as empresas do setor para que as metas de descarbonização e ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa) sejam alcançadas, de acordo com o estudo “Tracking the Trends 2022 – Redefinindo a mineração”, elaborado pela Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo.

    No relatório, que ressalta que a forma como as empresas se preparam hoje moldará sua vantagem competitiva na próxima década, são destacadas dez tendências que podem redefinir a forma como as companhias desse setor se prepararam para viabilizar a transição energética, o processo de descarbonização e adequação às práticas ESG.

    As tendências que compõem a 14ª edição da pesquisa são: ‘Alinhamento da alocação de capital ao ESG’; ‘Remodelando as cadeias de valor tradicionais’; ‘Atuando no ambiente regulatório e tributário pós-Covid; ‘Incorporando ESG nas organizações’; ‘Evoluindo o mundo de trabalho da mineração; ‘Estabelecendo um novo paradigma para as relações indígenas’; ‘Continuando a jornada em direção às organizações lideradas pela inovação’; ‘Gerando valor por meio de operações integradas’; ‘Preenchendo a lacuna de vulnerabilidade de Tecnologia da Informação e Tecnologia Operacional (TI-OT)’ e ‘Preparando as operações para as mudanças climáticas’.

    Todas as tendências globais se aplicam ao setor no Brasil, de acordo com a sócia-líder da indústria de Mineração da Deloitte, Patrícia Muricy. No entanto, a especialista destaca que duas delas devem ganhar força no País e às quais as organizações da indústria devem ficar mais atentas para evoluir mais do que tem ocorrido até agora: o estabelecimento de novos paradigmas para as relações com as comunidades indígenas e a incorporação dos conceitos de ESG nas operações.

    “A questão da relação entre mineradoras e comunidades indígenas e suas terras ancestrais ainda não atingiu uma forte maturidade aqui no Brasil, como vemos em países como o Canadá e a Austrália, por exemplo. Esse assunto precisa estar na agenda das organizações do setor, pois ainda há um longo caminho a ser percorrido para que essas questões sejam devidamente endereçadas. As mineradoras podem reforçar o trabalho com os proprietários e comunidades tradicionais de terras – que, de acordo com o nosso relatório, não são contra a mineração – para que todos os benefícios de ambos os lados sejam abordados e conhecidos, respeitando crenças e culturas”, destaca.

    Para que as empresas do setor consigam atingir seus compromissos, muitas vezes públicos, referentes ao ESG, é necessário incorporar, de fato, esses conceitos aos processos e metas de performance das organizações. Também em muitos casos é necessário dar um passo atrás, explicando de forma simples e pragmática o que significam cada uma das letras que compõem a sigla – e o conceito ESG.

    “Ainda vejo muitas empresas operando como silos. Como resultado disso, vemos o departamento de ESG remando em um sentido, enquanto alguns outros silos remam na direção oposta, muitas vezes por não terem a visão do todo. Para isso não acontecer, as métricas ESG devem ser explicadas em uma linguagem que a operação entenda e possa agir efetivamente. É necessário que se conheça os benefícios e ter itens práticos e acionáveis para implementar. Os profissionais da operação devem entender que, embora suas métricas de desempenho possam estar relacionadas à produção, redução de custos e segurança, por exemplo, a empresa está colocando muito esforço e dinheiro em projetos ESG, então remar na direção oposta está custando muito dinheiro e esforços às empresas”, destaca Patrícia Muricy. “Tudo começa com a liderança. A alta administração precisa abraçar verdadeiramente o ESG, mas primeiro eles precisam entender verdadeiramente o que é E, o que é S e o que é G”, conclui.

    Configuração funcional

    Sobre essas duas tendências vistas com mais força no Brasil, o relatório global da Deloitte destaca que as empresas de mineração devem ser configuradas funcionalmente para responder e abordar oportunidades, desafios e riscos relacionados ao ESG. As empresas devem criar modelos operacionais para apoiar seus compromissos ESG, fornecendo uma estrutura para alcançar seus objetivos e uma forma de demonstrar como estão honrando seus compromissos.

    Em um nível prático, esses modelos operacionais devem facilitar a visibilidade, a atribuição de responsabilidade e a colaboração entre os departamentos, juntamente com uma estrutura de governança clara. Quanto às relações com as comunidades indígenas, o estudo aponta que elas, em todo o mundo, muitas vezes desejam estabelecer um novo tipo de entendimento e conexão com empresas de mineração que participam de seu ambiente.

    Questões como descarbonização e gestão de recursos naturais, garantindo diversidade de talentos e lideranças, são todos subconjuntos potenciais de como os povos indígenas podem ajudar as empresas do setor a se relacionarem melhor e cumprirem suas responsabilidades. Ao planejar novos projetos, as mineradoras devem procurar oportunidades que se alinhem com os próprios objetivos e prioridades das comunidades locais, respeitando suas culturas e tradições. Mas para isso é necessário estabelecer um diálogo transparente e evitar as pressões políticas.

    Tendências

    Outras linhas globais que devem impactar a atividade:

    Alinhando a alocação de capital ao ESG – Embora grande parte do foco hoje seja a mudança climática e a descarbonização, as empresas devem pensar de forma holística e garantir que suas decisões de alocação de capital reflitam seus compromissos ESG. Construir um portfólio de negócios, iniciativas e projetos que sejam estrategicamente sólidos, que criem valor, sejam resilientes e sustentáveis em conjunto minimizará o risco diante de incertezas futuras e aumentará o valor agregado das participações de uma empresa ao longo do tempo.

    Remodelando as cadeias de valor tradicionais – A transição energética está reformulando a cadeia de valor tradicional da mineração, criando desafios e oportunidades para os mineradores. É provável que haja um realinhamento de portfólios para posicionar para a transição energética, novas alianças em toda a cadeia de valor à medida que as emissões do escopo 3 entram em foco, novos entrantes ou concorrentes para algumas commodities e empresas explorando modelos de negócios mais circulares além de seus negócios principais.

    Operando no ambiente regulatório e tributário pós-Covid – Com os preços de algumas commodities subindo em 2021, muitos países estão buscando regulamentações para recuperar a receita perdida durante a pandemia. Isso pode ir desde a expropriação e nacionalização de ativos até a implementação de novas formas de tributação pelos governos. As empresas devem aprender a operar no novo ambiente demonstrando seu valor além dos impostos – incluindo seus esforços ESG – aos governos.

    Evoluindo o mundo do trabalho da mineração – Por várias décadas, os mineradores se depararam com a escassez de profissionais, mas a pandemia intensificou esse desafio. Enfrentar o mercado de trabalho cada vez mais competitivo exige que as empresas de mineração e metalurgia se posicionem como empregadores atraentes, capazes de atender às prioridades em evolução. Propósito e objetivo social, reimaginar o trabalho e construir uma cultura de liderança inclusiva são oportunidades para os mineradores garantirem uma vantagem estratégica e sustentável por meio do capital humano.

    Continuando a jornada em direção às organizações lideradas pela inovação – Embora a necessidade de inovação seja uma tendência importante no setor, diversos fatores recentes devem motivar as organizações a intensificar seus esforços. Isso inclui novas práticas de trabalho remoto estimuladas pela pandemia e a necessidade de encontrar novas maneiras de descarbonizar. As empresas de mineração devem reestruturar e repensar os processos de inovação para que possam adotar e se beneficiar dessas mudanças.

    Gerar valor por meio de operações integradas – As empresas de mineração devem fazer melhor uso da transformação digital para impulsionar a tomada de decisões integrada eficaz. Isso é mais importante do que nunca, pois o atual foco elevado nas práticas ESG colocou pressão sobre as empresas para gerenciar não apenas seu ambiente operacional, mas também desafios sociais e regulatórios. Os insights e a visibilidade fornecidos pela digitalização podem ajudar as empresas a capacitar os profissionais em todos os níveis para tomar decisões, além de permitir que respondam a situações ambíguas e complicadas, gerando assim um valor significativo.

    Preenchendo a lacuna de vulnerabilidade de Tecnologia da Informação (TI) – Tecnologia Operacional (OT) – A segurança cibernética das empresas de mineração tradicionalmente se concentra em funções como finanças ou recursos humanos, e não no solo em locais de minas. No entanto, com mais dispositivos conectados, algumas das maiores vulnerabilidades cibernéticas do setor estão relacionadas à tecnologia operacional, sistemas de controle industrial e sensores. Como muitas empresas de mineração estão no início de suas jornadas digitais, é importante dedicar tempo, atenção e investimento agora para garantir que as operações não fiquem expostas a ataques no futuro.

    Preparando as operações para as mudanças climáticas – As empresas de mineração devem se preparar para os impactos físicos que as mudanças climáticas podem causar em seus negócios e operações, bem como além de seus próprios locais de operação – como eventos meteorológicos que interrompem corredores logísticos. As ferramentas digitais podem oferecer insights que podem ajudar a lidar com esses riscos, além de fornecer transparência de redes complexas de fornecimento crítico e logística.

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