Edgar Dantas e Uílame Umbelino acreditam no potencial do Estado. Mas falta modernização. Não há verticalização, diz Uílame
Um Estado de riqueza enorme e onde tudo é potencial. Essa é a avaliação de dois dos mais importantes nomes do Rio Grande do Norte, quando o assunto é o setor mineral do Estado. A atividade, no entanto, precisa se modernizar e recuperar experiências anteriores que deram certo, mas que foram abandonadas. As análises são de Edgar Dantas e Uílame Umbelino. O primeiro é geólogo, professor aposentado da UFRN e fundador do curso de Mineração do IFRN (quando a instituição ainda se chamava ETFERN). Já o segundo, é professor do Departamento de Física da UFRN, com pesquisas direcionadas para a mineração.
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec/RN), a produção mineral do Rio Grande do Norte está concentrada basicamente em três polos. No Seridó, segundo a pasta, se concentram as minerações de scheelita, caulim, feldspato, ouro, tantalita-columbita, calcário, gemas (turmalina, água marinha) e rochas ornamentais.
Na região Oeste está a produção de calcário, argila branca, rochas ornamentais e gema (água marinha). Já a Região Metropolitana é caracterizada pela produção de água mineral e minerais de emprego imediato na construção civil (areia e brita). O Estado, segundo o professor Uílame Umbelino, está entre os cinco maiores produtores de minério do Brasil, mesmo sendo um Estado composto por uma pequena área.
O território potiguar é caracterizado pela diversidade, que envolve minerais metálicos, não metálicos e energéticos. Para o professor Edgar Dantas, o principal produto mineral do Rio Grande do Norte hoje é a água subterrânea. “O RN possui, atualmente, uma grande quantidade de decretos de lava (autorizações de extração de uma substância mineral) para a água. Aliás, com nossa água mineral, já se fabrica até cerveja em Mossoró. Aqui temos várias fontes importantes e de boa qualidade, especialmente em Natal”, frisa.
O professor Umbelino, por sua vez, destaca a produção de petróleo, gás, sal e de minérios de metais, como tungstênio, tântalo, nióbio, molibdênio, ferro, lítio, berílio e gemas (ouro, diamante, rochas ornamentais). “São minérios estratégicos na economia e na tecnologia de hoje. O Estado é riquíssimo em gemas, as quais podem ser fontes para polos de joias. Junto com o turismo, isso gera muita riqueza.”, pontua.
Para Edgar Dantas, há uma dificuldade no Estado para atuar com a produção de gemas minerais, que são extremamente cobiçadas, por se tratar de pedras preciosas. “Como geólogo, já trabalhei praticamente com todas as gemas do RN, mas nunca quis estar dentro desse tipo de negócio, porque é um lugar de muitos riscos. E estou falando de risco de vida mesmo”, afirma.
“O que acontece é o seguinte: o cara pega uma punhado de pedra preciosa, põe num saquinho, vem um avião e carrega esse material e ninguém tem como controlar. Por isso, é melhor manter distância”, descreve. “A verdade é que o Estado nunca aproveitou nossas riquezas de gemas. Então, a gente perde potencialidades da indústria e do comércio”, complementa Umbelino.
Para dar vazão a essas potencialidades, Dantas defende que é preciso retomar experiências positivas para o setor. “Tenho uma leitura disso em cima de experiências anteriores que deram certo, mas que foram abandonadas. Tivemos o fundo de minério do RN, por exemplo. O Estado tinha um determinado percentual de tudo o que era produzido aqui e poderia reinvestir os recursos nesse fundo”, comenta.
“É preciso ter garantia de recursos, que passa obrigatoriamente por todas as instituições responsáveis pelas definições para o setor. Hoje nós temos capacitação e projetos específicos, mas não temos uma diretriz programada para que isso seja incorporado. Acho que o Governo [do Estado] atual está tentando, mas é preciso um planejamento claro”, complementa Dantas.
Uílame Umbelino disse que o Estado precisa desenvolver valor agregado para os minérios, a fim de gerar riquezas e indústria. “Lamento um pouco que a atividade mineral nesse aspecto continua funcionando igual: pega-se minério e vende-se. Não há verticalização da produção. Em vez de vender brocas, máquinas de alto desempenho e capacitores, vende-se a commodity, que é o minério de tântalo ou de tungstênio, por exemplo”, declara.
Segundo o professor, o distrito de São Sebastião (atual município de Governador Dix-Sept Rosado), pertencente a Mossoró, era quem concentrava as minas de gesso. A produção, que correspondia a 90% da exploração do País, era exportada por navios, carregados praticamente de forma manual, em Grossos e Areia Branca, juntamente com cargas de sal. As minas pertenciam à família Rosado.
De acordo com Dantas, o surgimento de cursos de engenharia no RN, cuja primeira formação data de 1957, portanto, bem depois do início da história da mineração no Estado, permitiu descobertas e entendimentos das potencialidades locais, como a sheelita (chamada de mineral branco) e o nióbio-tantalatos (minério preto pesado).
“É tamanha a diversificação de nióbio-tantalatos do RN e da Paraíba que eles, gradativamente, nunca deixaram de ter importância na economia rural. Cidades como São Tomé, Carnaúba dos Dantas e Parelhas são lugares do minério preto”, explica Edgar Dantas. Segundo ele, como o próprio nome indica, os nióbios-tantalatos são fontes de dois metais importantes: nióbio e tântalo.
Outra atividade que impulsionou a exploração mineral no Estado foi a produção de telha colonial e cerâmica vermelha, que possuem em sua composição o caulim e o feldspato. “Natal já foi famosa, principalmente no Nordeste, por causa da telha colonial vermelha. Se você chegasse em Belém (PA) e quisesse encomendar a telha do RN, você encontrava, assim como em São Luís (MA), interior da Bahia e Goiás”, diz.
“A melhor telha vermelha era fabricada aqui no litoral (em Arez, Goianinha, São José de Mipibu, Santo Antônio dos Barreiros e Ceará-Mirim). Com relação à cerâmica vermelha, hoje em dia, dificilmente existe uma cidade do interior que não tenha uma indústria dela”, afirma Dantas.
Com as mudanças das últimas décadas, na avaliação de Edgar Dantas, a mineração também passou por transformações, que nem sempre têm sido favoráveis ao setor. No Estado, por exemplo, apenas a família Salustino, em Currais Novos, mantém uma mina em funcionamento, a Brejuí. “A família trabalha com a recuperação de rejeito da mina”, diz.
“A mina Bodó, que possui talvez a maior produção de scheelita, está parada por questões familiares. Mas as mudanças se dão também pela modificação do processo demográfico em todo o planeta. Hoje as pessoas vivem mais nas cidades do que no campo”, afirma.
Uílame Umbelino destaca que, mesmo com as mudanças dos últimos tempos, o RN continua em destaque quando se fala em produção. “Em termos de tungstênio e scheelita, somos o maior produtor brasileiro, disparado. É tanto que a mineração Salustino (Brejuí), continua vendendo. A mina Bodó tem uma série de vantagens, porque o minério é muito limpo”, indica.
Umbelino fundou recentemente a startup RN Materials, com o objetivo de produzir materiais refratários a partir dos minérios daqui e ajudar a impulsionar o setor. “A startup está nascendo através de um programa do Sebrae-RN junto com a Finep, entidade ligada ao Governo Federal. Estamos em plena execução do edital”, afirma.