É dos bandeirantes do século XVI que o cientista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em Amazônia do mundo, lembra quando se fala em incentivar o garimpo na Amazônia . Foram eles, num tempo em que a barbárie era regra e lei, que escravizaram índios Brasil afora e exauriram a terra até a última pepita de ouro, deixando apenas um rastro de destruição.
— O garimpo deixa a terra devastada. Explora gente miserável em trabalho muitas vezes análogo à escravidão, polui rios, desmata, alimenta prostituição e não dá nada em troca para a sociedade, só para o dono do garimpo, muitas vezes políticos locais. Estimular o garimpo é retroceder no tempo e anular o progresso. É voltar ao regime dos séculos XVI e XVII — destaca ele.
O garimpo, segundo Nobre, faz o chamado trabalho sujo: desmata, expulsa índios e abre caminho para todo tipo de exploração.
— A mineração acoplada à industrialização e à tecnologia, com respeito ao meio ambiente, à preservação da floresta, pode gerar empregos e desenvolvimento. O garimpo, por definição da atividade, jamais. Ele explora o que pode e vai embora. Não existe garimpo sustentável. Ele existe por períodos curtos, nos quais traz exploração, doenças, crimes e danos ambientais.
Nobre afirma que a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), imposto pago pelas mineradoras, muitas vezes não volta como benefício para a sociedade. Ele cita o exemplo de Parauapebas (PA), que capta impostos da Vale em Carajás e segue com graves problemas de infraestrutura e população na miséria.
O cientista lembra que a mineração como um todo é responsável por cerca de 8% do desmatamento da Amazônia, dos quais cerca de 5% são relativos à abertura de infraestrutura sem cuidados ambientais:
— O Brasil jamais será desenvolvido se pensar na mineração desacoplada na industrialização. Esse é o único caminho possível para a mineração na Amazônia.
O diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), André Guimarães, diz que a lógica do garimpo é a mesma das madeireiras ilegais: arrasa uma área imensa para explorar uma pequena parte. Segundo ele, para que o todo o país seja beneficiado é preciso planejar e pensar no bem comum:
— Ninguém é contra o desenvolvimento. A mineração industrial com planejamento, regras que garantam a revitalização após a exploração, o desenvolvimento tecnológico e a sustentabilidade traz desenvolvimento. As áreas indígenas e as unidades de conservação devem ser preservadas. E é possível ter muito desenvolvimento. Já o garimpo, pelo próprio histórico totalmente negativo, é inviável — salienta Guimarães.
Fonte: O Globo.