*Jorge Valente
Fonte: Sol.Sapo
Tudo o que é essencial não nos pode faltar, nem durante uma crise como a da pandemia covid-19, nomeadamente os pães, frutas, legumes, hortaliças e inúmeros outros produtos da indústria alimentícia. Para que o país continue produzindo para a nossa mesa, as minas são imprescindíveis, seja para adubar, corrigir e/ou fertilizar o solo, seja para compor as rações que alimentam os animais que consumimos. O nitrogénio, fósforo, potássio e calcário são minerais essenciais para a produtividade e rentabilidade do agronegócio. E, se até hoje não nos faltaram alimentos, e continuarão não faltando, é porque minas estão produzindo insumos para as indústrias da nossa cadeia alimentar.
A pandemia covid-19 teve, e tem, o mérito de nos ter mostrado, entre outras valências, quão é importante a infraestrutura hospitalar e o quanto devemos aos profissionais da saúde. Minérios também estão presentes aqui, não apenas na construção de hospitais, mas também nas indústrias químicas e farmacêuticas. Estão nos equipamentos médicos e cirúrgicos, bisturis, tesouras, camas, ventiladores, etc., no conteúdo dos medicamentos e suas embalagens e nas ambulâncias e demais veículos de testes clínicos e socorro. E, se até hoje nada disto nos faltou, e continuará não faltando, é porque minas continuam produzindo tais insumos.
A adequada informação da população foi essencial para a sociedade, como um todo, enfrentar a pandemia covid-19, na sua prevenção e no acompanhamento das ocorrências. Seja para a comunicação à distância, seja para a computação e processamento de dados, em computadores, telemóveis, visores de TV e de aparelhos diversos, rádios e jornais, alguns minérios são essenciais, inclusive para chips e a, hoje popular, fibra ótica, feita com silício puro. Se estamos bem informados, é porque minas continuam produzindo os insumos que a informática e as indústrias da comunicação necessitam.
Um dos minerais mais valiosos que temos é o ouro, o qual é essencial para a sociedade. Presente desde a antiguidade, deu origem às primeiras moedas e ainda hoje é usado como segurança financeira. Também é usado na joalharia e na arquitetura religiosa, mas a sua aplicação é muito mais ampla. Por ser um bom condutor de eletricidade, está nos chips dos computadores e processadores de TVs, telemóveis e equipamentos médicos precisos, permitindo cirurgias vasculares e visualização em microscópios eletrónicos de varredura. Por ser um excelente refletor, está nos satélites artificiais e como catalisador na indústria automotiva. Se hoje não falta ouro para a indústria eletrónica, nem para a suas outras inúmeras finalidades, é porque há minas que o produzem.
A essencialidade da energia, nas habitações, cidades e indústrias, nem precisa de ser apontada. A eletricidade não seria produzida, transportada, distribuída e utilizada sem minérios (cobre, alumínio, etc.). Igualmente os combustíveis, todos, não apenas os dos veículos que usamos. E as baterias não existiriam sem lítio, cádmio, níquel, terras raras, etc.. As indústrias nada produziriam se funcionassem com energia manual humana e/ou animal. Se hoje há energia para tudo funcionar, é porque há minas que produzem os respetivos insumos, necessários e suficientes, em qualidade e quantidade.
Enfim, todos os minérios são essenciais, hoje, como sempre. A pandemia covid-19 mostrou-nos, também, que é necessário que o país produza mais, internamente, equipamentos médicos e não só. Muitos países, grandes e pequenos, mesmo em estado de emergência e com as pessoas confinadas, declararam a mineração como atividade essencial, não parando a sua operação. Portugal tem muitos recursos geológico-mineiros, mas apenas explora alguns deles. Por exemplo, além de outras, tem reservas conhecidas de ouro, tungsténio e lítio que podem ser exploradas, evitando a importação desses minérios. Dependemos de matérias primas minerais importadas, porque as minas são a indústria base das outras indústrias.
Jorge Valente: Eng. de minas (IST), CP (Competent Person) e Senador do Aliança
Fonte: Sol.Sapo