Para analistas, há espaço para novos ganhos com ações da empresa, na esteira do avanço do preço do minério; em um ano, alta é de 160%
A Vale atingiu na semana passada um feito histórico, ao cravar um valor de mercado próximo de R$ 600 bilhões na B3, a Bolsa paulista, consolidando a posição de empresa mais valiosa da América Latina.
Beneficiada pela explosão do preço do minério de ferro, seu produto carro-chefe, a empresa brasileira aparece quase R$ 120 bilhões à frente do gigante do e-commerce argentino Mercado Livre, segundo ranking da consultoria Economática. Em um ano, as ações da Vale mais do que dobraram de valor – com alta de 160%. E não devem parar por aí. Na avaliação de analistas, há espaço para novos ganhos.
Atualmente, o preço das ações da Vale está em torno de R$ 110, ainda longe do chamado preço-alvo de até R$ 158 projetado pelo mercado no fim deste ano. Essa projeção considera as perspectivas futuras de ganho de receita da empresa, com base num cenário de cotações do minério de ferro ainda em elevação.
Se a conta se confirmar, os papéis da Vale na B3 teriam ainda potencial para avançar até 43% no ano, levando seu valor de mercado total para cerca de R$ 858 bilhões (a preços de hoje).
Entre as instituições que apostam em novas valorizações, estão o JP Morgan (preço-alvo de R$ 158) e as corretoras Ágora e XP, com R$ 133 e R$ 122, respectivamente (ver quadro nesta página).
Esses números aparecem depois de a empresa se ver envolvida em dois casos de rompimento de barragens – Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019 –, que deixaram centenas de mortos e prejuízo ambiental ainda difícil de mensurar. Só no caso de Brumadinho, a Vale fechou acordo na Justiça de Minas Gerais para pagar indenização ao poder público de R$ 37,68 bilhões. A cifra não inclui ações individuais. Os dois episódios também mexeram com a confiança de investidores estrangeiros que têm se pautado pela agenda ESG (sigla em inglês para ações nas áreas ambiental, social e de governança).
“A Vale ainda está percorrendo esse caminho para retomar a confiança de alguns investidores mais focados em ESG”, afirmou o analista do setor de mineração do Itaú BBA, Daniel Sasson.
Depois da apresentação do balanço da empresa no 1.º trimestre – com lucro líquido de US$ 5,546 bilhões, alta de 2.220% sobre o mesmo período de 2020 –, Sasson está revisando suas estimativas para as ações da empresa na Bolsa.
“Temos espaço para revisão para cima por conta desse desempenho forte do preço do minério, que vem surpreendendo o mercado, pela magnitude e longevidade”, afirmou ele. A atratividade da ação da companhia também está amparada em pagamento de gordos dividendos a seus acionistas, visto que a empresa tem forte geração de caixa e sem previsão de grandes investimentos.
China
A explicação para a alta expressiva na Bolsa tem relação direta com o preço do minério de ferro, que desde o ano passado vem em curva ascendente. Em abril, o preço médio da commodity chegou a US$ 189 a tonelada, se aproximando do pico histórico de 2008 (US$ 196). E a leitura dos analistas é que o preço do insumo deve se manter por um período mais longo em patamares elevados, já que o cenário de oferta mais restrita e demanda em alta – puxada pela China – deve persistir.
O analista de mineração e siderurgia da XP, Yuri Pereira, comenta que, além desses fatores, o volume de produção da Vale foi afetado no início do ano por conta de chuvas e paradas de manutenção, algo que fez com que a mineradora entregasse um volume menor do que o previsto, diminuindo ainda mais a oferta.
Do lado da demanda, o analista lembra que a China, maior destino da produção mundial de minério de ferro, vem crescendo e tem aumentado a busca pelo insumo na esteira de estímulos governamentais do gigante asiático. Ainda na sua opinião, a Vale tem tido sucesso em fortalecer sua estrutura ESG, e não está com o foco, neste momento, em ampliar produção. “O foco da Vale está em arrumar a casa.”
Para o analista de pesquisa da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, o valor da Vale depende de algumas variáveis, tal como seu volume de produção e avanço na agenda ESG, algo que pode ajudá-la a reduzir a distância de seu preço em relação ao das mineradoras australianas.
Após IPO, CSN Mineração quer ampliar produção
O superciclo da commodity abriu espaço para uma abertura de capital prometida há vários anos – o da CSN Mineração, dona da mina Casa de Pedra, que possui um dos minérios de melhor qualidade do Brasil. A oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da empresa, comandada pelo empresário Benjamin Steinbruch, movimentou R$ 5,2 bilhões em fevereiro, com grande parte dos recursos indo para a CSN. Um dos planos da empresa é ampliar a capacidade de produção das atuais 33 milhões de toneladas por ano para até 108 milhões em 2033.
Ainda entre as grandes companhias do setor, há a expectativa também sobre planos da Usiminas para ampliação de sua produção de minério de ferro. A empresa estuda se investirá para explorar o minério chamado de compacto, um tipo mais “duro” – projeto que deve demandar investimentos da ordem de US$ 1 bilhão. Se sair do papel, a previsão é elevar o volume de produção de 12 milhões de toneladas para 29 milhões de toneladas por ano.
A Usiminas chegou a considerar a opção de vender sua participação de 70% na Mineração Usiminas, mas voltou atrás em 2019.
Fonte: Estadão