quinta-feira, 9 de maio de 2024
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    Mais forte que diamante: corte de bolsas prejudica exploração de grafeno

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    Um material com espessura atômica, feito totalmente de carbono, mais forte que o diamante, mais resistente que o aço, um potente condutor de eletricidade e calor tem chamado a atenção de alguns países nos últimos anos. O grafeno, material derivado do grafite, possibilita a criação de uma nova cadeia industrial e, por isso, ganhou valor na agenda de governantes. O presidente da República Jair Bolsonaro não foge à regra e é considerado um entusiasta do material.

    Mas apesar do interesse presidencial e de o Brasil, de acordo com o Ministério de Minas e Energia, estar em segundo lugar no ranking mundial de reservas de grafite — mineração ocorre no país desde 1939 — a exploração e uso do material esbarra no corte das bolsas de incentivo à pesquisa, que atingem pesquisas do grafeno.

    Não é preciso ir longe para ver pesquisas que foram afetadas. Na Universidade de Brasília (UnB), quatro bolsas da Capes foram cortadas no mês passado. A informação é do coordenador do programa de pós-graduação e professor do Instituto de Química da universidade, Leonardo Paterno. Segundo ele, uma das bolsas pertence a um aluno que estuda as aplicações biomédicas do grafeno para tratamento do câncer.

    Leonardo Paterno acredita que o corte afeta diretamente o avanço das pesquisas do material e, com isso, o futuro da cadeia industrial do grafeno no Brasil. “O Brasil é avançado na pesquisa, mas precisa estar atualizado. O corte atinge a mão de obra, que são os alunos. O professor não vai para a bancada fazer a pesquisa, tem outras tarefas, quem vai fazer são os alunos e pesquisadores”, avalia.

    Além disso, o fomento da pesquisa em si depende desse investimento. “A pesquisa em grafeno é barata comparado às outras, mas, ainda assim, eu preciso de dinheiro para comprar equipamentos e insumos”, afirma Leonardo. “A ciência é bem fundada e estabelecida no mundo e no Brasil, mas essa mão de obra precisa ser valorizada”, completa.

    Qualidade 
    Especialistas afirmam que a grande quantidade do minério encontrado no país não o faz sair na frente na produção de grafeno. “O grafite é comum no mundo inteiro, não é uma particularidade do Brasil. É um material democrático. O que difere é a qualidade do grafite, Dependendo de como é a geologia do local de extração, o material muda”, explica Castro Neto. A pasta de Minas e Energia afirma que no Brasil “ainda não foi alcançada solução tecnológica para produção em larga escala”.

    Segundo pesquisadores, o momento é crucial já que outros países têm investido na área. “O investimento na China e Europa tem sido grande, então, significa que os frutos virão em breve. Uma vez que a produção está desenvolvida, é difícil você entrar na briga, você entra atrasado. Não faz sentido reinventar a roda”, avalia pesquisador Antonio Castro Neto, fundador e diretor do Centro de Pesquisa em Grafeno da Universidade Nacional de Singapura.

    O fundador da empresa 2DM, produtora de grafeno, explica que a indústria brasileira poderia se inserir na indústria do material com inúmeras possibilidades. Atualmente, o grafeno já é comercializado em alguns produtos. “O grafeno pode ter muitas aplicações. Vai desde reforçar outros materiais, como concretos, tintas, revestimentos, até aplicações mais tecnológicas na indústria eletrônica, como telas de celulares e painéis solares”, afirma.

    Castro Neto afirma que uma nova cadeia industrial, antes inexistente, está sendo formada com a descoberta do material. “No Brasil, é possível se inserir ao longo de toda essa cadeia, desde a extração até a indústria eletrônica, têxtil e outras”, indica. Na exploração do grafite, que é a matéria-prima do material.

    Produção 
    O primeiro pólo na produção do material está localizado em Minas Gerais. O projeto MGgrafeno, uma parceria da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMGE) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é a primeira planta piloto do Brasil para a produção de grafeno no país. O processo gera dois nanomateriais: o grafeno e as nanoplacas de grafeno.

    O diretor do centro de pesquisa em Singapura esteve no Brasil no último mês com Konstantin Novoselov, vencedor do prêmio Nobel de Física de 2010 por ter isolado o grafeno. Os dois tiveram uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro. Apesar de ter sido breve, Novoselov notou muita curiosidade do presidente no material e foi “entrevistado” pelo presidente, que fez muitas perguntas e tirou dúvidas.

    Antes mesmo de assumir o mandato como chefe do Executivo, Bolsonaro já demonstrava interesse no material. Em discursos no plenário da Câmara dos Deputados ou nas redes sociais, Bolsonaro já falou sobre a exploração do grafeno como possível fonte de investimento no país. “A produção de uma bateria de grafeno, que poderá ser recarregada em poucos segundos. Imaginemos a revolução na indústria automobilística com esta bateria para os carros movidos a energia elétrica”, afirmou Bolsonaro quando ainda era deputado.

    Em algumas citações sobre o material, o presidente atribuiu a falta de exploração do grafeno à existência do material em reservas indígenas. “No Brasil não existe terra rica que não exista também ali uma reserva indígena”, disse em um vídeo no qual fala do elemento.

    Frente  parlamentar 
    Na Câmara dos Deputados, o tema é debatido desde 2017. Já na época pesquisadores apontaram a falta de investimento de pesquisas sobre grafeno na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI). Em 2019, as discussões continuam e até uma frente parlamentar para discutir o tema foi criada. A iniciativa do deputado Giovani Cherini (PR/RS) também envolve o nióbio e ficou conhecida como Frente do Nióbio e do Grafeno. Além disso, dois projetos de lei que citam o grafeno tramitam na Casa. Um deles estabelece a Política Nacional de Investimento em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação dos Recursos Minerais. O outro limita a exportação e a exploração do grafeno e do nióbio.

    Fonte: Correio Braziliense

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