O terceiro dia do I Encontro Regional de Minas Gerais Iclei (Governos Locais pela Sustentabilidade) América do Sul – começou com a discussão em plenária do tema “Diversificação econômica e reconversão de territórios”. O objetivo era mobilizar os participantes em um debate sobre a redução da dependência de governos locais com a mineração a partir da diversificação local e regional.
O fim do ciclo minerário no Estado e a necessidade urgente de diversificação da economia para que os territórios que abrigam a atividade extrativista sejam capazes de oferecer à população desenvolvimento e qualidade de vida se encaixa com o tema geral do evento, que é “Desenvolvimento Sustentável na Reconversão de Territórios”.
A histórica e conturbada relação entre a mineração e a sociedade não só em Minas Gerais e no Brasil, mas no mundo, foi desafiada a entrar em um novo ciclo, marcado pelo diálogo franco, transparência e responsabilidade.
Logo na abertura do evento, o cônsul do Reino Unido em Minas Gerais, Lucas Brown, destacou que a vida moderna não pode abrir mão da mineração. A própria sustentabilidade das demais cadeias produtivas está intimamente ligada aos minerais que nos permitem, por exemplo, armazenar a energia produzida por fontes limpas em baterias transportáveis.
“Se queremos enfrentar um processo de transição energética até chegarmos a uma economia de baixo carbono, vamos precisar minerar ainda mais. Mas, enquanto a mineração aumenta, precisamos aumentar os nossos padrões. Nós do Consulado estamos sempre promovendo e implementando as melhores práticas, seja pela adoção de energias renováveis, por padrões de gestão e governança, por exemplo. No Reino Unido temos um histórico com a mineração, nem sempre com boas experiências, com minas fechadas, fechamentos abruptos, que nos deixaram lições. Vivemos quase todo o tempo sob o ciclo da mineração que vai dos estudos até o fechamento da mina. Hoje, com o ESG, estamos vendo uma evolução na mineração. Sabemos dos desafios, mas estamos num momento de mudança na mineração, que quer saber também do depois, do legado que pode deixar depois que a mina se exaure”, explicou Brown.
Nesse sentido, o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, que participou da mesa “Reconversão dos territórios: casos de sucesso e boas práticas”, chamou a atenção para a necessidade de uma “conversão” da atividade.
“É importantíssimo que o governo brasileiro e o governo de Minas Gerais façam políticas públicas que se associem também às empresas. Importante que elas tenham também essa mentalidade da reconversão e da compatibilização com a sociedade. A mineração precisa ser compatível com as áreas urbanas. As minerações em Minas Gerais acontecem nas áreas urbanas. Elas transformaram agressivamente não só a paisagem natural, mas as paisagens urbanas”, defendeu Santos.
O gerente de Meio Ambiente da Anglo American Brasil, Tiago Alves, após a assinatura do Protocolo de Intenção para a adoção de iniciativas de viés sustentável com o Iclei, falou sobre a necessidade de uma nova mentalidade para o setor.
“A mineração errou muito ao longo da história, mas é uma atividade essencial, e queremos ter a coragem de mudar. Aprendemos, historicamente, que trabalhar sozinhos não traz resultados. A mineração tem que perder a arrogância e abrir os ouvidos e o coração. A diversificação econômica é extremamente necessária. O impacto que a mineração traz pode ser positivo e é essa mineração que queremos fazer”, refletiu Alves.
O Iclei também assinou protocolos de cooperação com a UrbBrasil e o Instituto Espinhaço. E outro com a Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig).
Projeto Eden inspira ações pelo mundo
A seção “Diversificação Econômica e Reconversão de Territórios” contou a experiência do projeto Eden. Localizado em Cornwall na Inglaterra, o local é um complexo com palcos, restaurantes, jardins e duas gigantescas estufas compostas por domos que chegam até 100 metros de altura. Um deles abriga a maior floresta tropical em ambiente controlado do mundo, com espécies trazidas do mundo inteiro e, o outro, milhares de espécies vegetais de clima mediterrâneo.
A escolha do terreno de uma antiga mina, além de revitalizar a área, apresentava características importantes para o projeto, como estar voltado para o Sul e possuir diferentes visadas para o mar.
De acordo com o CEO do Eden, David Harland, o espaço é o mais importante atrativo turístico da Inglaterra fora da capital Londres e já serve de inspiração para outros projetos pelo mundo.
“Somos um negócio que gera lucro, mas de maneira diferente, com propósito, lembrando às pessoas que fazemos parte e somos dependentes do mundo natural. Cremos na ação. É possível transformar um lugar totalmente degradado em um lugar bonito”, explicou Harland.
O projeto funciona através de uma parceria que une entes públicos e privados em cada lugar que acontece e cerca de 80% de tudo que é consumido vem de produtores locais.
“Essa é uma das nossas métricas que mais gosto. Precisamos ter em mente as pessoas daquele lugar. Sobre Minas Gerais, vejo que existem muitas oportunidades e esse evento mostra que existe vontade. Se pudesse dar um conselho, seria: continuem”, afirmou o CEO do Eden.