A gestão de rejeitos da mineração deve ser pensada pelas empresas do setor tendo em conta a preocupação de buscar soluções voltadas a gerar benefícios sociais e ambientais com esta atividade intrínseca à atividade mineral. “As mineradoras não vão conseguir fazer negócios se não levarem em conta o ‘imperativo social’, ou seja, precisam pensar no meio ambiente e no aspecto social não mais como custos, mas como benefícios que podem gerar para a coletividade”.
A afirmação foi feita por Jan, Managing Director da empresa Hatch Austrália, no primeiro painel do webinar ‘Sustentabilidade no uso dos rejeitos da mineração: economia, regulação e aproveitamento’. O webinar foi iniciado às 9h desta 3ª feira (1º/12) e será encerrado às 13h.O evento é iniciativa do IBRAM – Mineração do Brasil, com apoio institucional do Ministério de Minas e Energia e patrocínio da Vale.
A íntegra deste webinar estará disponível no Youtube – www.youtube.com/PortaldaMineracaoBrasil
O presidente do Conselho Diretor do IBRAM – Mineração, Wilson Brumer, disse, na abertura do evento virtual, que “o ideal seria não produzirmos nenhum rejeito, mas como isso ainda não é possível, cabe melhorar continua mente sua gestão e investir em muita pesquisa e inovação e novas rotas tecnológicas para reduzir a quantidade de rejeitos, como também estruturar uma cadeia produtiva baseada no aproveitamento econômico desses resíduos industriais”.
Nessa mesma linha, Jan Kwak, disse que “o melhor é produzir menos rejeitos, em vez de apenas (cuidar de) gerenciá-los”. Ele afirmou que a empresa Hatch fez pesquisa com o Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) sobre as tecnologias que desempenham papel importante no gerenciamento de rejeitos. “Foram listadas 150 tecnologias. É algo muito positivo. Significa que há muito acontecendo nesse segmento e muitos grupos trabalhando neste tema. O desafio é integrar esses trabalhos e gerar valor a partir disso”, afirmou, listando algumas das tecnologias pesquisadas: fragmentação de pulso elétrico; explosão de ultra intensidade; desmonte de rocha; fragmentação térmica; seleção de minério na cava.
O diretor geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), Victor Bicca, também participou da abertura e informou que em “curto espaço de tempo iremos redenominar o conceito ‘rejeito’ para ‘subproduto’ da lavra mineral. Logo, o plano de aproveitamento econômico preparado pelos engenheiros de minas terão que ser mais exaustivos para prever o uso futuro desses hoje conceituados ‘rejeitos’. Eles passarão a ser produtos tão ou mais importantes do que o produto principal da empresa mineradora”, disse. Ele lembrou que desde 27/11, conforme anunciado na EXPOSIBRAM 2020, semana passada, a ANM lançou consulta pública para receber contribuições sobre o aproveitamento de rejeitos da mineração. A consulta estará aberta até 11 de janeiro de 2021.
Bruno Eustáquio Ferreira Castro de Carvalho, secretário executivo adjunto do Ministério de Minas e Energia, associou a gestão de rejeitos minerais ao impulsionamento da economia circular, por meio do aproveitamento econômico desses materiais. Ele lembrou que o aspecto ‘sustentabilidade’ e demais conceitos de ESG (meio ambiente, responsabilidade social e governança) relacionado aos rejeitos está previsto no Programa Mineração e Desenvolvimento apresentado recentemente pelo governo federal. Este é, segundo ele, um dos instrumentos para mostrar “onde queremos chegar ao buscar transformar recursos naturais em riqueza e em bem-estar”.
Daniel Franks, pesquisador do Sustainable Minerals Institute, da The University of Queensland, também participou do primeiro painel ‘Futuro da Geração e Aproveitamento de Rejeito no Mundo’. Este painel foi mediado por Tito Martins, CEO da Nexa Resources.
Franks ressaltou a importância para o Brasil e os demais países desenvolverem políticas de destinação adequada aos rejeitos. Ele citou pesquisa que revela a produção de 44,5 bilhões de m3 de rejeitos no mundo. Para dar uma ideia desse volume, ele disse que em uma cidade como Manhattan (EUA), se este volume fosse espalhado em toda sua área, atingiria a altura de 700 metros. “O volume de rejeitos aumentou muito no mundo; dobrou entre 1969 e 1989, por exemplo”, citou.
Diane Tang-Lee, Tailing Manager do ICMM, falou das iniciativas do Conselho para modernizar as normas orientativas para a gestão de barragens de rejeitos no planeta. Falou também do guia de boas práticas do ICMM sobre gestão de barragens, com conteúdos sobre boa governança, cultura empresarial de segurança e boas práticas de engenharia.
Patrícia Daros, gerente de Conhecimento e Empreendedorismo de Impacto da Vale, disse que a companhia tem sido proativa nos últimos anos para estruturar um negócio envolvendo o aproveitamento econômico dos rejeitos, levando em conta a cadeia produtiva como um todo para que gere valor ambiental e social, além do retorno financeiro para o investimento. Ela lembrou que a Vale estruturou o projeto S11D, no Pará, em que não há barragens para os rejeitos, lembrando que há pouca produção desses resíduos naquela operação e estes acabam voltando ao processo produtivo. “Com o avanço tecnológico temos uma forma de mineração muito adequada à sustentabilidade”, afirmou.
Ela mencionou projetos-piloto da Vale para produzir blocos para a construção civil fabricados com rejeitos e também o uso de resíduos para remineralização, ou enriquecimento, de solos para a agricultura, bem como para a preservação de florestas.
Fonte: Portal da Mineração