Gilberto Cardoso, diretor geral da Tarraco Commodities Solution, avaliou cenário e dificuldades para mineradoras e siderúrgicas passarem pelas mudanças
Em um mundo cada vez mais atento ao conceito ESG (sigla que designa as melhores práticas de meio-ambiente, social e governança), o tema meio ambiente tem ganhado força nos debates. Contudo, no mundo das commodities, a questão do verde pode significar um grande desafio para boa parte das empresas.
Durante evento realizado pela Ohmresearch, Gilberto Cardoso, diretor geral da Tarraco Commodities Solution, apontou como essa mudança para foco ambiental irá afetar mineradoras e siderúrgicas, sendo que muitas companhias ainda têm estruturas obsoletas e muito poluentes.
Segundo ele, o ponto mais importante é o uso do DRI (Direct Reduced Iron), chamado de ferro-esponja, na produção de aço, sendo menos poluente e com um processo mais limpo do que o feito atualmente. Porém, para se criar esse elemento, é preciso, entre outras coisas, um minério de ferro de maior grau de pureza (acima de 65%).
E os problemas surgem nesse momento. Cardoso aponta que talvez o mercado não terá matéria-prima suficiente para passar por essa transformação verde em seus processos de produção.
O executivo diz que as empresas do setor estão realmente preocupadas com esse cenário e que talvez elas não consigam atingir, por exemplo, suas metas e limites de KPIs (indicadores-chave de performance) por conta da falta de matéria-prima. “Estamos em uma mudança de paradigma e falta matéria-prima para fazer isso, e o primeiro mercado impactado pode ser a Europa”, avalia.
Por outro lado, ele explicou que as companhias que não conseguirem acesso a esse minério mais puro e a outros elementos importantes para a mudança podem encontrar acesso a outras estratégias. Entre elas, Cardoso diz que é possível que a pelota de minério usada hoje (menos pura) pode passa a ser utilizada para cumprir os requisitos da mudança.
Vale e BHP são boas oportunidades
E, diante desse cenário, Cardoso destacou que existem algumas oportunidades entre as empresas de mineração e siderurgia, tanto por conta de sua estrutura para se adequar ao novo modelo, mas também por terem exposição a ativos considerado mais “limpos”, como cobre e níquel.
E entre as empresas atuais, que já têm escala internacional, ele reforça algumas características para elas se destacarem, como terem um custo mais baixo, ativos com capacidade de expansão com custo de capex baixo ou médio, reservas de alta qualidade, posição de caixa mais confortável para financiamento, além de um histórico positivo em relação a acidentes.
E a Vale (VALE3), mesmo que nesse último quesito, no passado recente, não seja bem vista pela população em meio às tragédias de Mariana e Brumadinho, foi apontada pelo executivo como uma das mais bem posicionadas para entrar nesse novo mundo.
Ele lembra que a mineradora brasileira é a maior produtora de pelotas de minério de ferro do mundo, responsável por mais de 30% do mercado, estando mais confortável na questão de acesso ao minério de maior pureza.
Cardoso vê a companhia preparada para a transição, apesar de ressaltar que ela não tem tanta exposição ao mercado de cobre, compensado em parte pelo aumento da produção de níquel.
Outra empresa que o executivo destacou positivamente é a anglo-australiana BHP, que tem boa capacidade de expansão em suas plantas, já tendo uma grande exposição ao mercado atual e também – por meio de seu negócio com cobre e níquel -, à transição energética.
Com isso, ela não precisará fazer grandes investimentos para aderir à “revolução verde”. “É uma das empresas mais bem posicionadas nessa transição energética em commodities”, avalia. “A diversificação da BHP está jogando a seu favor”.
Cardoso ainda citou em sua fala a empresa ucraniana de mineração Ferrexpo, além da siderúrgica ArcelorMittal, que podem ser beneficiadas nessa transição.
Fonte: Infomoney