Será possível que existam diamantes demais? Segundo vários representantes da área de produção e comercialização destas gemas nos últimos anos, é possível. As maiores mineradoras de diamantes do mundo, inclusive as duas maiores, Alrosa e de Beers, têm problemas de estoques. Assim como muitos lapidadores que adquirem as pedras brutas e as vendem a varejistas. Em todos os estágios da cadeia de suprimento existe uma quantidade enorme de pedras preciosas, cuja comercialização sempre dependeu de sua raridade.
A demanda muito forte em muitos outros setores levaria normalmente a cortes dos preços. Mas os consumidores estão adquirindo pedras que passaram por vários níveis de intermediação, que absorveram grande parte da volatilidade dos preços, assim como marcas e joalherias. Isto tem mantido os preços no varejo relativamente constantes. No entanto, as dificuldades não param de aumentar para a indústria de mineração de diamantes que movimenta US$ 17 bilhões.
No ano passado, a mina de Argyle, no estado da Austrália Ocidental, produziu de 10 milhões a 15 milhões de quilates do total mundial da produção de diamantes – de 140 milhões a 145 milhões de quilates. Em Argyle também foram encontradas algumas das gemas mais raras do mundo: diamantes rosa, púrpura e vermelhos. Recentemente, a proprietária da mina, a Rio Tinto, anunciou que a Argyle será fechada em 2020.
Excesso de diamantes
Paul Zimnisky, analista independente do setor, disse que o excesso de diamantes brutos, juntamente com a volatilidade do câmbio, as guerras comerciais e o conturbados mercados de ações, virou o setor de pernas para o ar. Os preços dos diamantes brutos caíram cerca de 6% este ano, e as pedras polidas baixaram cerca de 1%, segundo dados. “Os preços dos diamantes brutos alcançaram a maior alta de todos os tempos em 2011”, afirmou Zimnisky, “mas basicamente vêm caindo desde então”.
Além disso, problemas de financiamento afetaram os principais clientes das mineradoras: negociantes e lapidadores de pedras brutas, cujas sedes se encontram predominantemente na Índia e na Bélgica. Os bancos vêm deixando este setor em razão das fraudes e de empréstimos podres. A desvalorização da rupia também tornou as pedras mais caras para os fabricantes indianos, que lapidam cerca de 90% das pedras do mundo todo.
A De Beers disse que reduziu a produção de diamantes brutos em 11% no primeiro semestre de 2019. “Precisamos ajudar os clientes a sair desta tempestade”, disse Bruce Cleaver, diretor executivo da empresa. “Entretanto, já vimos anteriormente crises como esta no setor. Tenho confiança em que ela vai passar”, garantiu.
A Rio Tinto declarou que a principal razão do fechamento da Argyle foi o fato de que o valor das pedras remanescentes na mina não justifica a sua extração. Mas, em última análise, o fechamento poderá ser útil para a indústria.
Oferta e demanda
A mina Argyle produziu cerca de 865 milhões de quilates de diamantes brutos desde 1983. Pouco mais de um milhão destes, ou 0,13%, foram classificados como pink, uma raridade que chega a alcançar vários milhões de dólares por quilate, mas a maioria era de pedras marrons e brancas de qualidade inferior. Perder estas pedras representará uma queda de 10% na produção anual mundial de diamantes e poderá reequilibrar oferta e demanda.
A crescente popularidade de diamantes fabricados em laboratório – e a produção na China e na Índia – é outro potencial empecilho para as mineradoras. Embora as pedras de laboratório constituam apenas cerca de 2% do mercado de diamantes, a produção está crescendo de 15 a 20% ao ano. Os diamantes sintéticos podem custar 30 a 75% menos do que as pedras naturais.
No entanto, o apetite dos consumidores pelos diamantes naturais é grande. Segundo relatório do setor, as vendas de diamantes aumentaram 2% em 2017, em razão da demanda nos Estados Unidos, que representam mais da metade do mercado de pedras lapidadas naturais, e a da China, que constitui 15%.
Para Zimnisky, a persistente demanda dos consumidores é tranquilizadora, embora ele continue cauteloso. “Um diamante pode ser para sempre, mas o seu fascínio vai e vem”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Fonte: Estadão.