O rio Paraopeba dá sinais de recuperação à sua condição anterior ao rompimento da barragem 1, na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que ocorreu em janeiro de 2019. Essa é uma das conclusões do estudo realizado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) que também aponta para um horizonte favorável em relação à recuperação da biodiversidade ao longo de toda calha do rio Paraopeba.
O estudo, realizado entre abril de 2019 e abril de 2020, que envolveu mais de 150 pesquisadores, foi contratado pela Vale com o objetivo de verificar os impactos ambientais causados pelo rompimento e, a partir dos dados gerados, melhorar e ajustar as ações de recuperação ambiental ao longo de toda a área afetada, principalmente a bacia do rio Paraopeba. As amostras de água do rio Paraopeba foram colhidas em períodos sazonais distintos (seco e chuvoso). Ao todo, foram 127 pontos de coleta ao longo de 495 km do rio e nos reservatórios de Retiro Baixo e Três Marias, abrangendo 21 municípios.
Avaliação da qualidade da água
A avaliação da qualidade da água do rio Paraopeba e seus tributários apresentou redução de diversos parâmetros físico-químicos independente da influência de fatores climáticos. A análise conjunta dos parâmetros alumínio dissolvido, antimônio total, cobre dissolvido, ferro dissolvido, manganês total e zinco total mostra que há uma progressiva redução da concentração indicando a recuperação próxima às condições de um rio classe 2 em períodos de seca.
No período chuvoso, o aumento na concentração de alguns desses parâmetros como alumínio, ferro, manganês e turbidez pode estar relacionado à suspensão do material depositado no fundo do rio e a novas contribuições provocadas por materiais naturais do solo, característicos da região, como ferro e manganês.
Influência de áreas urbanizadas, industrializadas e agropecuárias na região não afetada pela pluma de rejeitos
Foi realizado um levantamento de dados primários da bacia indicando que o rio Paraopeba atravessa áreas antropizadas, com características originais alteradas, com diversos usos agrícolas e agropecuários, além de áreas industriais e urbanizadas. O levantamento inclui ainda dados secundários, anteriores ao rompimento, os quais já mostravam valores máximos superiores aos definidos pela legislação para diversos elementos químicos em solos, sedimentos e nas águas superficiais dos tributários do rio Paraopeba, como no caso de ferro, manganês, alumínio e mercúrio. Para as amostras de sedimentos de corrente, foram detectados os metais cadmio, cromo e chumbo, acima do nível 1 da resolução CONAMA 454/2012.
Os dados do estudo para essa conclusão foram comparados ao desenvolvido pelo Serviço Geológico Brasileiro em seu projeto Geoquímica Multi Uso, entre 2008 e 2011.
Os elementos em suspensão (orgânicos) nas águas do Paraopeba refletem contaminações por despejos urbanos, industriais e agropecuários, uma vez que os córregos e rios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), tributários do rio Paraopeba, trazem grandes quantidades de nutrientes, micro-organismos e matéria orgânica relacionados ao aporte de efluentes domésticos e industriais.
Caracterização dos rejeitos e de sedimentos do Rio Paraopeba
A caracterização geoquímica dos rejeitos é uma etapa muito importante para entender seu potencial de impacto no ambiente afetado e/ou oferecer riscos à saúde humana. Para essa caracterização, o estudo realizou duas campanhas de amostragem de rejeitos em perfis de até 1 m de profundidade, assim como quatro campanhas de amostragem de sedimentos do rio Paraopeba: três em 2019 e uma no período de chuvas, após as enchentes ocorridas em fevereiro de 2020. Foram realizados ensaios para caracterizar o material em termos de frações minerais presentes e composição química, assim como para avaliar a estabilidade do rejeito. Esse método deu embasamento para avaliar a possibilidade de contaminação de áreas atingidas pelo rejeito em decorrência das fortes chuvas e enchentes.
Os minerais do minério de ferro e os silicatos das rochas encaixantes, presentes no rejeito da barragem B1, são muito resistentes ao ataque químico e ao intemperismo porque sua solubilidade em água é muito baixa. Os óxidos de ferro presentes nos sedimentos foram depositados, principalmente, ao longo de um percurso inferior a 110 Km, e não foram transportados além de Pará de Minas em quantidades significativas. A partir de São José, e do Ribeirão Grande, o baixo Paraopeba apresenta quantidades insignificantes de minerais de minério de ferro. Esses óxidos de ferro não provocam contaminação dos cursos de água, uma vez que têm solubilidades desprezíveis. Areia e silte, originários das rochas encaixantes do minério de ferro, misturam-se às areias existentes na calha do rio e delas não se distinguem.
Caso as argilas trazidas pelos rejeitos da barragem contivessem elementos tóxicos, elas poderiam causar contaminação das áreas e, consequentemente, de plantas e de animais. Uma centena de amostras da barragem 1 e de toda a área atingida pelos rejeitos foram analisadas exaustivamente para mais de 20 elementos sob condição de ataque ácido, incluindo dissolução de todos os silicatos pelo uso de misturas ácidas contendo ácido fluorídrico. Os teores extraídos em meio ácido foram todos baixos, semelhantes aos encontrados em solos da região.
Enchentes não provocaram alteração relevante nos solos atingidos
Com as enchentes do Paraopeba, cujo nível atingiu cerca de oito metros acima do normal, áreas foram alagadas, mas a contaminação destas áreas por metais pesados e elementos tóxicos provenientes dos rejeitos da barragem 1 foi descartada pelo estudo. Com base em mais de 20 mil resultados da composição de amostras, os teores de metais pesados contidos nos rejeitos e sua forma química mostram que os rejeitos que alcançaram o rio não alteraram significativamente os solos alagados pelas cheias do início deste ano.
Fonte: Portal da Mineração