O fundo do mar é um lugar rico em metais como cobre, níquel, manganês e cobalto, elementos essenciais para a fabricação de baterias para veículos elétricos. Com o aumento da demanda por esses materiais, a indústria cogita transformar as planícies oceânicas em imensos campos de mineração.
Os primeiros pedidos de exploração comercial devem ser apresentados nos próximos dois anos, apesar das regulamentações incompletas e da falta de estudos mais precisos sobre os impactos ambientais que esse tipo de atividade pode trazer para todo o ecossistema marinho de águas profundas.
Por um lado, os defensores da indústria dizem que a mineração em alto mar é mais ecológica do que a mineração terrestre, tornando-se a melhor opção para a escassez de minerais usados na fabricação de veículos elétricos. Já os cientistas dizem que os dados sobre essas regiões oceânicas são insuficientes para avaliar as consequências na biodiversidade marinha.
Reservas metálicas no fundo do oceano são ricas em minerais essenciais para a fabricação de baterias de veículos elétricos.
“É um paradoxo da sustentabilidade. Temos um mundo inteiro exigindo que lidemos com as mudanças climáticas, mas não existe uma solução que não impacte a biodiversidade e que realmente ajude a mitigar essas alterações do clima. Precisamos fazer algo e temos que fazer escolhas”, diz o diretor da mineradora belga Global Sea Mineral Resources, Kris Van Nijen.
Diante de tantas incertezas, cientistas, grupos conservacionistas e algumas empresas fabricantes de baterias querem impedir a mineração em alto-mar. Em março deste ano, as montadoras BMW e Volvo, além da Samsung e do Google, se comprometeram a não comprar minerais extraídos do fundo dos oceanos.
Redução de carbono
Para fabricar as baterias de carros elétricos, os metais podem ser extraídos da terra, do mar ou reciclados. Os defensores da mineração marinha dizem que obter minerais oceânicos seria mais seguro para os trabalhadores do que a mineração convencional, além de representar uma pegada de carbono menor ao evitar o desmatamento.
“Se o níquel vier de uma mina terrestre tradicional na Indonésia, você tem a garantia de que suas emissões de carbono atmosférico serão muitas vezes maiores do que se o metal viesse de reservas marinhas. A exploração dessas jazidas pode reduzir a emissão de carbono em até 94%”, afirmam representantes da DeepGreen, empreiteira canadense de mineração oceânica.
Águas internacionais abrigam trilhões de jazidas ricas em minerais. Estima-se que campos subaquáticos entre o Havaí e o México, em uma área do tamanho dos Estados Unidos, contenham seis vezes mais cobalto e três vezes mais níquel do que as reservas terrestres exploradas atualmente.
Para os especialistas, a melhor opção de preservação ambiental seria abandonar as minerações marinhas e terrestres e investir na reciclagem de produtos eletrônicos para garantir a coleta de materiais essenciais. “A reciclagem pode ter um papel importante, provavelmente, após a década de 2030. Até lá, um fluxo constante de minerais recém-extraídos pode elevar o preço dos veículos elétricos ou prejudicar sua produção”, diz o analista da Agência Internacional de Energia Tae-Yoon Kim.
Impacto ambiental
O oceano absorve boa parte dos gases de efeito estufa, com o carbono se movendo da superfície para o fundo do mar. Esse processo ocorre nas plataformas continentais mais rasas, onde a luz abundante e os animais empurram o carbono para baixo da coluna d’água, deixando apenas uma pequena porção descer até o fundo do mar.
Ainda não se sabe qual seria o impacto ambiental que a mineração marinha poderia desencadear com a exploração em águas profundas. “Se os sedimentos carregados de carbono ficarem perto do fundo do mar, é improvável que contribuam para a poluição atmosférica, mas se eles chegarem até o espelho d`água podemos enfraquecer a capacidade dos oceanos de absorver mais CO2”, acrescenta a professora de ciências da Universidade Estadual de Utah, nos EUA, Trisha Atwood.
A aspiração da lama profunda do oceano também pode afetar os micróbios que vivem no fundo do mar e consomem dióxido de carbono. Esses micróbios absorvem o carbono que não é emitido pelas pessoas, mas ocorrem por processos orgânicos e inorgânicos em andamento. Essas bactérias podem ser responsáveis por até 10% do carbono natural absorvido pelo oceano anualmente.
“A comunidade microbiana leva muito tempo para se recuperar após um distúrbio de mineração. Esses processos são importantes e estão absorvendo CO2 há milhões de anos, então é possível que a exploração de águas profundas possa ter um impacto significativo se for praticada em escala industrial. Precisamos pensar para qual futuro essa prática nos levará”, encerra o ecologista da Heriot-Watt University, na Escócia, Andrew Sweetman.
Fonte: NPR