Relações tensas com a Austrália e choques de oferta de minério de ferro no Brasil podem reacender as ambições da China de reduzir sua dependência de grandes produtores estrangeiros para a matéria-prima essencial usada pela gigante indústria siderúrgica do país.
A China há muito tempo procura diversificar suas fontes de minério de ferro – mais de 60% das importações vêm da Austrália, e cerca de 20% do Brasil – para reduzir os riscos de oferta e a volatilidade dos preços.
Esse objetivo ganha novo impulso após interrupções nas operações da Vale, o que provocou alta dos preços menos de 18 meses depois do rompimento da barragem em Brumadinho.
A disputa diplomática entre China e Austrália também causa especulações de que o minério de ferro poderia ser alvo no conflito.
“A China definitivamente precisa acelerar investimentos em ativos de minas de minério de ferro no exterior com uma perspectiva de longo prazo.
Também pode reduzir a volatilidade dos preços causada por lacunas de curto prazo entre oferta e demanda, garantindo uma fonte estável”, disse Ban Peng, analista da Maike Futures, em entrevista por telefone. “No entanto, levará anos entre o investimento e a produção total”.
No mês passado, o secretário-geral da Associação de Ferro e Aço da China, He Wenbo, convocou usinas a desenvolverem em conjunto grandes projetos de minério de ferro no exterior ou comprar participações em empresas de mineração estrangeiras, informou a agência Caixin, citando uma proposta de discussão para a reunião parlamentar do país em Pequim.
A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma já disse que a China deve aumentar a produção doméstica e apoiar a comunicação com fornecedores globais em todo o mundo para mecanismos mais razoáveis de precificação.
Disputa comercial
As tensões entre China e Austrália aumentaram depois que o governo australiano pediu uma investigação independente sobre as origens do coronavírus, o que provocou a ira de Pequim. As commodities entraram no radar da disputa.
A China impôs tarifas antidumping à cevada australiana, suspendeu importações de carne de quatro frigoríficos e pode ter como alvo mais produtos.
A China promete diversificar o fornecimento de minério de ferro há décadas, e empresas já investem em operações no exterior, incluindo a mina Channar, uma joint venture entre Sinosteel e Rio Tinto na Austrália, e o projeto Marcona da Shougang no Peru.
A obtenção de ativos para produção pode levar tempo. O projeto Sino Iron da estatal Citic, na Austrália, começou a exportar minério cerca de quatro anos depois do planejado e continua a enfrentar desafios de sustentabilidade financeira de longo prazo.
“A longo prazo, é possível substituir algum minério de ferro australiano”, disse Rohan Kendall, analista-chefe de custos de minério de ferro e aço da Wood Mackenzie.
“Mas os grandes depósitos não desenvolvidos de minério de ferro tendem a estar localizados em países de maior risco, menos desenvolvidos e de maior custo.
A China não vai querer substituir o minério de ferro australiano, mas gostaria de criar mais concorrência no mercado.”
Por Bloomberg
Fonte: Money Times