Paulo Paiva*
Depois de Cristo, durante quase 17 séculos, a população e a economia mundiais cresceram lentamente. Esse equilíbrio foi rompido no século XVII com exuberante expansão econômica, resultado das transformações tecnológicas, principalmente das mudanças na geração de energia e suas consequências sobre a produtividade, e das mudanças demográficas, como redução da mortalidade infantil, que determinaram constante e rápido crescimento da população. As taxas de crescimento demográfico mantiveram-se altas, o volume da população atingiu níveis jamais vistos e a estrutura etária foi rejuvenescida, com a predominância da participação relativa de crianças e jovens. Expansão demográfica e aumento da produtividade foram responsáveis pelo progresso econômico extraordinário alcançado pela humanidade desde então.
No século XXI, nova onda de revolução tecnologia transforma profundamente os processos de produção e comercialização em velocidade sem precedentes na história, mas o crescimento demográfico caminha para seu fim.
Como resultado da redução do número de filhos por mulher em idade fértil, a expansão demográfica está se desacelerando em ritmo crescente. Assim, menos pessoas se somam à população, reduzindo a proporção de crianças e jovens e, em consequência, aumentando a de idosos.
Até o final deste século a população mundial continuará aumentando, mas a taxas decrescentes, e se envelhecendo. A proporção de idosos passará de 9%, em 2019, para 16%, em 2050, e 23%, em 2100.
Das 7,7 bilhões de pessoas estimadas para 2019, a população chegará a 9,7 bilhões em 2050, atingindo 10,9 bilhões no final do século.
Esse crescimento, contudo, não será distribuído proporcionalmente entre os países. Ao contrário, se concentrará em países e áreas mais pobres. Dois terços dele se darão em regiões que ainda têm alta fecundidade. Aí, mesmo com redução no número de filhos por mulher, o total de nascimento continuará alto e crescente porque coortes relativamente maiores de mulheres chegarão ao seu período reprodutivo.
Os países da África subsaariana serão responsáveis pela metade do crescimento demográfico entre 2019 e 2050 e o total de sua população dobrará até lá.
A Europa e a América do Norte terão suas populações estabilizadas nos próximos 30 anos, enquanto na Ásia haverá um acréscimo de cerca de 500 milhões de pessoas, mesmo com redução no ritmo de crescimento, conforme recentes projeções das Nações Unidas.
Com essas tendências demográficas as desigualdades sociais no mundo se agravarão. Se a revolução digital reduzir as oportunidades de emprego, aprofundando a exclusão interna nos países, as crises sociais determinarão os rumos da humanidade neste século.
Como as mudanças demográficas podem ser antecipadas, há ainda esperança de que os governos utilizem essas informações para planejar e executar políticas e programas que busquem a inclusão e o bem-estar de todos.
*Paulo Paiva
Professor associado na Fundação Dom Cabral