Desenvolvemos um monitor para rastrear os embarques de minério de ferro nos principais portos do Brasil e da Austrália, que representam mais de 55% da oferta global de minério, além de serem responsáveis por mais de 83% das importações da commodity na China. Como a maioria dos dados de exportação disponíveis são defasados, torna-se relevante analisar essas informações em bases diárias e semanais.
Esses dados impactam diretamente os negócios das empresas do setor que estão sob nossa cobertura, além de exercerem forte influência em questões econômicas como um todo para o país.
As informações sobre as embarcações são extraídas das plataformas MarineTraffic e VesselFinder e incluem dados dos navios cargueiros, como o tipo de embarcação, arqueação bruta (gross tonnage), porte (summer deadweight), comprimento e largura. Como o minério é transportado apenas por navios de carga, estimamos apenas a carga útil de navios categorizados como Ore e Bulk Carriers. As estimações da carga de minério de ferro por navio são realizadas usando Regressão Linear.
Bulk Carriers são navios de grande porte especialmente projetados para transportar cargas a granel sólido, como grãos, carvão, minério, bobinas de aço e cimento. Já os navios designados como Ore Carrier também são navios de grande porte e servem especialmente para carregar minério. São navios maiores e mais reforçados, devido à alta densidade das cargas de minério.
Para o quarto trimestre de 2020, estimamos uma queda de 5,3% e alta de 0,2% na comparação com o terceiro trimestre nos embarques de minério de ferro no Brasil e na Austrália, respectivamente. Adicionalmente, acreditamos que os dados de produção do quarto trimestre de 2020 e das primeiras semanas de 2021 no Brasil possam dar suporte aos preços de minério de ferro no curto prazo.
De acordo com nosso modelo, na semana até o dia 24 de janeiro os embarques do Brasil subiram 13% e da Austrália caíram 14,7%. No Brasil, o destaque positivo foi o volume de Itaguaí, que sofreu menos impactos das chuvas. Já o destaque negativo ficou para Ponta da Madeira, que ainda achamos prematuro dizer que houve impactos do incêndio de uma semana atrás, pois o nível de chuvas foi muito forte. Na Austrália, a forte queda pode ser explicada pelo fechamento de alguns terminais na região de Pilbara devido a um ciclone.
Conhecendo os principais terminais de minério
O Brasil é o segundo maior produtor de minério de ferro do mundo, onde a produção totalizou 480 milhões de toneladas em 2019. O minério produzido no país é majoritariamente exportado para a Ásia (China, Malásia e Japão) e os embarques concentram-se em seis terminais principais: Ponta da Madeira, Tubarão, Itaguaí, Ilha Guaíba, Açu e Porto Sudeste. Confira os destaques abaixo:
Ponta da Madeira
Ponta da Madeira é o maior porto de carregamento de minério de ferro do Brasil. O terminal é localizado em São Luís (MA), próximo ao Porto de Itaquí e foi escolhida como o final da Estrada de Ferro Carajás, onde o minério é descarregado para embarque no exterior.
O porto é utilizado apenas para a exportação de minério de ferro, mas também movimenta minério de manganês produzido pela Vale (VALE3) no Sistema Norte. Em 2019, 190 milhões de toneladas de minério de ferro foram embarcadas pelo terminal. Ponta da Madeira é um porto privado de propriedade da Vale (VALE3).
O minério escoado por Ponta da Madeira normalmente é enviado à países asiáticos
Figura 3: Principais destinos de minério de ferro de PdM (%)
Tubarão
Tubarão é o segundo maior porto de minério de ferro do Brasil e é localizado próximo ao Porto de Vitória (ES). O porto contém quatro terminais marítimos, sendo eles: Minério de Ferro, Praia Mole, Produtos Diversos e Granéis Líquidos. Embora o porto lide principalmente com embarques de carvão, grãos, fertilizantes e granéis líquidos, cerca de 92% do volume exportado são minério de ferro e pelotas.
O porto de Tubarão é um porto privado e atualmente administrado pela Vale (VALE3).
Ainda que exporte principalmente minério de ferro, Tubarão é o porto que menos destina a commodity à Ásia
Figura 4: Principais destinos de minério de ferro de Tubarão (%)
Itaguaí
Localizado no estado do Rio de Janeiro, o Porto de Itaguaí é um dos mais importantes polos de exportação de minério do país. O porto é público e seus principais terminais são a Cia. Portuária Baía de Sepetiba (CPBS), TECAR e Porto Sudeste.
Em 2019, o terminal embarcou mais de 37 milhões de toneladas de minério de ferro, respondendo por mais de 97% do total das exportações.
Minério de ferro representa mais de 97% do total exportado em Itaguaí
Figura 5: Principais produtos exportados em Itaguaí (%)
Ásia segue sendo o principal destino da commodity
Figura 6: Principais destinos de minério de ferro de Itaguaí (%)
Ilha Guaíba
Também localizado no estado do Rio de Janeiro, na baía de Sepetiba, o Porto de Guaíba é operado pela Vale e utilizado para a exportação de minério de ferro do Sistema Sul. Em 2019, 21 milhões de toneladas de minério de ferro foram embarcadas pelo terminal.
Não surpreendentemente, a Ásia também é o principal destino do minério de Ilha Guaíba
Figura 7: Principais destinos de minério de ferro de Ilha Guaíba (%)
Açu
Em operação desde 2014, com área total de 130km², o Porto do Açu também é localizado no estado do Rio de Janeiro. O Terminal de Minério de Ferro – um dos 9 terminais localizados no porto – é uma joint venture Anglo American-Prumo, usada para exportar minério de ferro das operações da Minas-Rio (segmento de mineração da Anglo American no Brasil). Ele possui capacidade de 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Em 2019, mais de 23 milhões de toneladas métricas de minério de ferro foram carregadas na instalação.
O minério de ferro de Açu também é bastante concentrado no mercado asiático
Figura 8: Principais destinos de minério de ferro de Açu (%)
A Austrália é o maior exportador mundial de minério de ferro, com 29% das reservas mundiais localizadas no país. Grande parte da commodity é encontrada e extraída na região de Pilbara, no oeste do país. Com a proximidade do país aos mercados asiáticos, mais de 83% das exportações de minério de ferro da Austrália Ocidental foram para a China em 2019 e 2020.
Os principais portos de minério de ferro da Austrália são Port Hedland, Dampier, Cape Lambert, Esperance e Geraldton. Confira os destaques abaixo:
Port Hedland
Port Hedland é o maior porto de exportação a granel do mundo e é localizado na região de Pilbara, no oeste da Austrália. Batizado em homenagem ao capitão Peter Hedland, que ancorou seu navio no porto em 1863 enquanto procurava descarregar gado para uma estação próxima, o porto de Port Hedland era originalmente conhecido como porto de mangue. As exportações de minério de ferro representam 99% do volume total embarcado.
Os berços de Port Hedland são operados pela BHP, Fortescue e Roy Hill.
Dampier
Dampier é um dos maiores portos de exportação a granel do mundo e também é localizado na região de Pilbara. Foi estabelecido em meados da década de 1960 para apoiar o desenvolvimento da região de Pilbara e a exportação de minério de ferro para mercados externos. Já o primeiro embarque de minério de ferro foi em agosto de 1966. As exportações de minério de ferro correspondem a mais de 80% do total exportado pelo porto.
Dampier é um dos portos marítimos de exportação de minério de ferro das operações de mineração da Rio Tinto, em Pilbara.
Cape Lambert (Port Walcott)
Ao lado de Port Hedland e Dampier, Port Walcott é um dos três maiores portos exportadores de minério de ferro na região de Pilbara e um dos cinco principais portos da Austrália por tonelagem. A instalação de carregamento de minério de ferro também é operada pela Rio Tinto.
A Rio Tinto expandiu Cape Lambert e Dampier em 2015, aumentando a capacidade anual para 210 e 150 milhões de toneladas, respectivamente. A capacidade anual de embarque em Port Hedland aumentou para 617 milhões de toneladas em 2019 devido ao investimento em dragagem portuária, tecnologia marítima e outras eficiências portuárias.
Esperance
Esperance é o maior exportador de níquel do Hemisfério Sul, tornando-se um importante portal internacional para a indústria de mineração de níquel da Austrália. Suas principais exportações são minério de ferro, níquel e grãos, embora os minerais correspondam a mais de 90% do total das exportações.
Geraldton
Geraldton facilita a exportação de grãos, minerais e gado, e a importação de combustíveis, fertilizantes e carga geral, ao mesmo tempo que recebe navios de cruzeiro, plataformas de petróleo e outras embarcações de exposição. As exportações de minério de ferro representam mais de 70% do volume total exportado.
Estimando o minério de ferro exportado por país e origem
Para estimar a carga útil dos navios, extraímos as informações sobre as embarcações que partem dos portos anteriormente citados das plataformas MarineTraffic e VesselFinder. Entre os dados dos navios cargueiros, destacamos como o tipo de embarcação, arqueação bruta (gross tonnage), porte (summer deadweight), comprimento e largura. Com essas informações, cruzamos com os dados realizados disponíveis pela Antaq e estimamos a carga útil de minério de ferro em cada navios usando Regressão Linear.
Portanto, nosso monitor nos permite ter um resumo dos volumes diários exportados do país ou do porto.
Embarques semanais no Brasil (em milhões de toneladas)
Embarques semanais na Austrália (em milhões de toneladas)
Além disso, também correlacionamos o volume exportado com os dados de chuva no mesmo período. As informações meteorológicas são extraídas do World Weather Online. Os dados de pluviosidade são importantes para anteciparmos possíveis impactos no fluxo de exportações advindos de fortes tempestades ou – em casos extremos – ciclones, podendo afetar a oferta da commodity no mercado. Confira alguns exemplos abaixo:
Em períodos de fortes chuvas, como as vistas na Austrália no dia 12 de dezembro de 2020, a atividade portuária é imediatamente impactada, uma vez que a autoridade portuária aplica procedimentos de retirada dos navios.
A autoridade portuária de Pilbara disse na quinta-feira (10/dez) que começou a remover grandes navios de Port Hedland, o maior centro de exportação de minério de ferro do mundo, após emitir um alerta de ciclone.
Reuters
As mineradoras estão fazendo a lição de casa?
Também comparamos os embarques de minério com o guidance anual das principais mineradoras do Brasil e da Austrália. Veja abaixo os números reportados:
Figura 11: Guidance de produção das principais mineradoras para 2021 (milhões de toneladas por ano)
Conforme as figuras 12 e 13 sugerem, enquanto as empresas australianas geralmente exportam acima de suas projeções, o Brasil normalmente está atrás de seu guidance.
Isso pode ter levado Vale a reduzir as estimações de produção de minério, conforme anunciado em dezembro de 2020.
Brasil
Figura 12: Estimativas de produção vs guidance
Austrália
Figura 13: Estimativas de produção vs guidance
Estudo de caso: Embarques da Vale como proxy de sua produção
Conhecendo todos os portos onde a Vale (VALE3) opera no Brasil nos permite monitorar a trajetória dos mineradora para garantir o cumprimento do guidance reportado. Dados históricos nos mostram que a soma do volume embarcado de Ponta da Madeira, Tubarão, Ilha Guaíba e um percentual de Itaguaí é um grande proxy da produção atual da Vale (VALE3) (ver Figura 15).
Figura 15: Produção trimestral reportada vs embarques (milhões de toneladas)
Figura 16: Monitor de meta de produção da Vale para 2020 (milhões de toneladas).
De acordo com a última atualização de estimativas, o guidance de produção de minério de ferro da Vale (VALE3) para 2020 está no intervalo de 300-305 milhões de toneladas (Figura 11). Por sua vez, estimamos um volume exportado adicional para a companhia de 81 milhões de toneladas no quarto trimestre, resultando em uma produção anual de 294 milhões de toneladas (ver Figura 15). Importante destacar que o volume de vendas pode ser bem diferente em determinados períodos, dependendo da estratégia de gestão de estoques da companhia.
Considerando o volume embarcado como uma proxy da produção, projetamos uma produção no intervalo de 292 e 296 milhões de toneladas para a Vale (VALE3) em 2020, levemente abaixo do seu guidance.
Quão próximo estamos da realidade?
Nosso modelo preditivo é avaliado por diferentes fontes. Para o Brasil, comparamos as estimativas com as exportações realizadas divulgadas pela Antaq e Secex, pois acreditamos que sejam as fontes disponíveis mais confiáveis. Quanto à Austrália, nossos números contrastam com as estimativas da Global Ports, extraídas da Bloomberg.
Figura 17: Embarques de minério de ferro vs benchmark (em toneladas)
Fonte: XP Investimentos