Stefan Salej
Nesta semana as associações da indústria no Brasil comemoram o seu dia. As comemorações devem incluir um minuto de silêncio pelas 300 vitimas do estouro da barragem de Brumadinho, ou melhor, o Córrego do Feijão. E com esse minuto deve vir a reflexão sobre que indústria ainda temos e queremos como sociedade e qual será a cara da indústria nos próximos 20 anos. Provavelmente os discursos não vão abordar esses temas, mas os desafios, aos tintins da champanhe e do whisky, cachaça não entra, de como manter o sistema empresarial com financiamento obrigatório, e em especial, os das reformas da previdência, da desburocratização e da reforma nunca chegada, a tributária.
A indústria, mesmo atingindo hoje magros 11 % versus mais de 30 % do PIB há 25 anos, não vai fechar. Os modelos econômicos mudam com o avanço da história e nada é igual ao dia anterior. Os movimentos tecnológicos são mais profundos neste início de século, os paradigmas mudaram, e com eles mudam as matrizes econômicas. A indústria de ontem não é mesma de hoje e nem será a de amanhã. Porque também o consumidor não é o mesmo, então o mercado também muda e a indústria tem que mudar para se adaptar ao mercado.
No Brasil, especificamente, além de todos os desafios que a indústria enfrenta nos outros lugares, estamos no momento em fase de incertezas que seguram os investimentos e levam as empresas a procurarem não expansão, mas, essencialmente, sobrevivência. É um momento bem nocivo e difícil, mas por outro lado um dia tem que passar.
E talvez aqui podemos também olhar o copo meio cheio ou meio vazio. Sem dúvida, o momento de incerteza e crise pode levar os ousados para um novo patamar. Uma dessas ousadias é a expansão para o exterior. Há inúmeros exemplos, bem descritos pela Fundação Dom Cabral, de sucesso. Outra vertente é procurar mercados novos no imenso mercado chamado Brasil. E também surgem oportunidades de fusões mesmo entre as empresas de pequeno porte. Aliás, no Brasil faltam empresas medias que no mundo inteiro são sustentáculo de desenvolvimento e de geração de empregos.
Na área de mudanças tecnológicas, a indústria 4.0 não requer que o Senai instale um laboratório, mas que a sociedades toda mude para um patamar tecnológico diferente. Nesse capítulo as mudanças na área de infra-estrutura, leia-se energia, e de telecomunicações, são cruciais. E sem dúvida a grande mudança deve ser na área de educação, seja ela tecnológica ou não.
Quantas de nossas indústrias estão hoje prontas para esses desafios, entre os quais, como no caso do acidente de Córrego de Feijão, se inclui a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável. A falta desses dois mata e destrói a sociedade e a própria indústria. E não é substituída por nenhum indicador financeiro ou tecnológico.
A indústria, hoje mais e mais integrada com serviços e outras atividades clássicas, como o agronegócio e o comércio, tem um espaço para sair da sobrevivência para o crescimento, especialmente se houver um ambiente político que facilite ou pelos menos não atrapalhe a transformação industrial e seu desenvolvimento.
Para os desafios também há respostas, como as start ups, um alto grau de empreendedorismo existente no país e um mercado cheio de oportunidades.
* Ex Presidente da Fiemg e Vice Presidente da CNI
Vice Presidente do Conselho do Comercio Exterior da FIESP
Coordenador adjunto do GACINT Grupo de acompanhamento de conjuntura internacional da USP