Encontrar um lugar para ficar não é tão fácil hoje em dia na cidade mineira de Itabirito.

Os quartos de hotel são escassos e os aluguéis aumentaram, dizem os moradores, à medida que estranhos descem ao assentamento nas montanhas em busca de fortuna – ou talvez apenas um salário estável – nos depósitos de minério de ferro encontrados nesta região tropical de vales verdes e riachos.

Os preços dos componentes da indústria do aço dispararam no último ano, transformando a modesta cidade de cerca de 60.000 habitantes em um ponto importante para o boom global de commodities.

“É um momento especial”, disse o prefeito Orlando Caldera. “O comércio está a todo vapor, mesmo com a pandemia e todas as suas dificuldades.”

Com o crescimento voltando em todo o mundo com o levantamento das restrições ao coronavírus, a crescente demanda por matérias-primas e alimentos básicos está sendo uma dádiva de Deus para os mineiros brasileiros e muitos de seus agricultores.

Itabirito está localizada na chamada “praça do ferro” de Minas Gerais, cuja história é marcada pela busca por ouro e diamantes, e viu explosão de empregos e ganhos inesperados para os cofres públicos.

O município, que fica a uma hora de carro da capital Belo Horizonte, recebeu R $ 59 milhões (US $ 11,5 milhões) em receita de mineração no primeiro trimestre de 2021, um aumento de oito vezes em relação ao mesmo período do ano passado.

No entanto, sua nova prosperidade contrasta com as dificuldades que muitos brasileiros estão enfrentando como resultado da Covid-19. A doença matou mais de 500.000 pessoas no país sul-americano e empurrou a taxa de desemprego para quase 15%.

“Não tínhamos desemprego em massa”, disse Caldera, estimando que 80% dos 3.600 empregos criados no ano passado estavam relacionados à mineração. “Ao contrário, há um superávit de vagas.”

A Agile Minerals, fabricante de equipamentos e componentes de mineração, abriu uma nova fábrica em uma antiga fábrica de peças de automóveis em Itabirito no ano passado e triplicou sua força de trabalho para 300.

Demitida em decorrência da pandemia, Mariani Vaz, de 32 anos, voltou à sua cidade natal para assumir um cargo na empresa depois de mais de uma década.

“Quero construir uma vida aqui, porque temos oportunidades”, disse ela. “A cidade é pequena e conhecemos todo mundo, mas vejo muitos rostos novos. A vida aqui é um pouco mais cara do que outras cidades da região, mas vale a pena.”

Uma noite, no final da semana, Adair chega em casa com suas roupas de trabalho e está na casa dos cinquenta. Desempregado após fechar uma planta de liga em 2016, ele encontrou trabalho há um ano em uma planta local de minério de ferro.

Em sua opinião, Jair Bolsonaro pode receber algum crédito pelo sucesso do setor. “As coisas estão melhorando – dá para ver o movimento. O mercado está aquecido”, acrescentou.

A fraca taxa de câmbio, embora atingisse os consumidores com a inflação, foi uma bênção para os mineiros brasileiros. Ele reduz os custos operacionais em comparação aos concorrentes estrangeiros e aumenta os lucros em moeda local, já que o minério de ferro é cotado em dólares.

As ações da Vale do Brasil, um dos maiores fornecedores mundiais de minério de ferro, subiram quase um quinto desde o início de 2021, e no mês passado registraram um aumento de 600 por cento ano a ano na receita líquida trimestral para US $ 7,6 bilhões.

O valor das exportações do metal do país, em grande parte destinadas à China, deve aumentar em três quartos, para US $ 45,2 bilhões neste ano, e substituir a soja como principal fonte de divisas, de acordo com uma associação comercial.

A influência dessa riqueza já se espalha por Itabirito. No centro da cidade, um prédio de apartamentos inacabado de nove andares ergue-se desajeitadamente. Um corretor de imóveis disse que havia 10 partes interessadas para cada lote vazio que ele estava vendendo em um condomínio fechado.

Depois do vale onde casas luxuosas com amplos jardins estão em construção, é produzida laticínios artesanais Mineiro Delicioso – uma variedade de queijos e creme de leite ou leite caramelizado.

“Todas essas pessoas que vêm trabalhar aqui deram um grande impulso ao comércio, especialmente durante a pandemia”, disse Christian Coelho Deniz, cuja família é proprietária da empresa.

Mas sua confiança não é compartilhada por todos os residentes. Muitos lojistas disseram que o comércio ainda não havia se recuperado totalmente, apesar da queda nos casos da Covid.

Tampouco a indústria de mineração atrai admiração universal, com lembranças de acidentes fatais em outras partes de Minas Gerais. Em 2015, rompeu-se uma barragem de resíduos de mineração na cidade de Mariana, um desastre ambiental que matou 19 pessoas.

O rompimento da Barragem do Vale em Brumadinho, pouco mais de três anos depois, desencadeou uma onda de lodo industrial que matou 270 pessoas.

O acidente gerou pânico e levou à evacuação de famílias que moram em barragens próximas a Itabirito. No mês passado, a Vale concluiu a construção de um muro gigante para proteger as comunidades próximas em caso de quebra.

“[We have] “Está investindo em novas tecnologias para aumentar o processamento de minérios e reduzir o impacto nas barragens”, disse Karina Rabuchi, diretora da empresa.

Embora a Vale acredite que haja mais 70 anos de minério de ferro não escavado na área, os políticos locais já estão planejando o futuro – incluindo a inevitável retração do mercado.

Depois de atingir uma alta histórica acima de US $ 230 a tonelada em maio, os preços caíram drasticamente nas últimas semanas para cerca de US $ 170, com a China prometendo cortes na produção de aço para reduzir as emissões de carbono.

Além de investir em um novo posto de saúde, berçários e recapeamento de estradas, Caldera, ele próprio um ex-engenheiro do Vale, quer reduzir a dependência da economia local da commodity, impulsionando o turismo e outras atividades.

Mesmo que não ostente toda a deslumbrante arquitetura colonial da vizinha Ouro Preto, acredita-se que a cidade ainda tem muito mais a oferecer do que apenas minério de ferro.