Empresas chinesas estão a posicionar-se para a mineração das reservas de lítio afegãs, que poderão ser das mais importantes do mundo
Depois do abandono do Afeganistão pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais, a China está numa corrida para se posicionar como o grande parceiro internacional dos talibãs. A abordagem de Pequim tem um racional não apenas diplomático e geopolítico, mas também económico.
Um dos negócios que estão na mira dos chineses são os metais em que o Afeganistão é rico. Empresas de mineração chinesas estão na corrida pelos direitos de exploração de metais como lítio e cobre, em que o país é rico. O Afeganistão tem igualmente depósitos consideráveis de ferro, alumínio, chumbo, zinco e metais raros.
Em outubro e novembro, vários representantes da indústria chinesa de mineração visitaram o Afeganistão, segundo uma notícia do Financial Times. Ainda antes da debandada ocidental, a China posicionou-se como grande interlocutor dos talibãs, tendo promovido uma cimeira de alto nível mesmo antes da tomada de Cabul. Assim que os talibãs assumiram o controlo da capital e de todo o país, a China apressou-se a enviar ajuda humanitária.
Agora, Pequim quer aproveitar essa vantagem no acesso às reservas de metais do Afeganistão. De acordo com alguns relatórios, os depósitos de lítio do país poderão ser dos mais importantes do mundo, ao nível dos da Bolívia, e bem maiores do que os da Argentina, do China, da Austrália ou da China
Também as reservas de cobre são muito significativas. Neste caso, uma das grandes companhias chinesas de minérios estará a negociar a exploração de minas de cobre a sudeste de Cabul. Outras empresas chinesas mostraram interesse na mineração de lítio e metais raros – porém, até ao momento não haverá garantias de acordo, apesar da extrema necessidade que as autoridades afegãs têm de estabilizar a economia do país e começar a receber divisas.
O lítio e o cobre são dois dos metais mais procurados da atualidade, pois são recursos essenciais para tecnologias de ponta, como as baterias de smartphones e outros aparelhos eletrónicos, bem como baterias de automóveis elétricos.
Com a enorme competição global pelo acesso a matérias-primas como lítio e outros metais, o regime chinês está a preparar a constituição de uma grande companhia estatal de metais estratégicos. A empresa, que deverá ser a principal companhia global de metais estratégicos, deverá ser constituída até ao fim do ano, vai chamar-se China Rare Earth Group e terá sede na província de Jiangxi. De acordo com uma notícia recente do Wall Street Journal, a nova companhia estatal resultará da fusão de ativos de “terras raras” de outras empresas estatais, como China Minmetals Corp., Aluminium Corp. of China Ltd. e Ganzhou Rare Earth Group Co.
A ideia das autoridades chinesas é reforçar o poder de Pequim tanto na negociação de explorações mineiras como no estabelecimento de preços de metais que são indispensáveis para diversas produções tecnológicas de ponta, mas também para aplicações militares.
Segundo um relatório recente da Casa Branca, a China já deverá controlar 55% da mineração global das chamadas “terras raras”, e 85% do processamento. Mas há estimativas que apontam para um domínio ainda maior da China neste setor dos chamados metais estratégicos.