(Bloomberg) — A China está prestes a dar o sinal verde para que algumas das maiores estatais do país desenvolvam o gigante projeto de minério de ferro de Simandou, na Guiné, o que abre caminho para o início da construção após anos de disputas legais.
A Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais da China, que supervisiona as maiores estatais, toma medidas concretas para avançar o projeto, o maior depósito de minério de ferro inexplorado do mundo, de acordo com pessoas com conhecimento dos planos que não quiseram ser identificadas.
Durante anos, a impressão era de que o minério com alto teor de ferro sob uma cordilheira coberta de selva nunca seria explorado. Simandou praticamente foi deixado de lado pelo setor de mineração enquanto controladores do projeto como a mineradora Rio Tinto, o bilionário israelense Beny Steinmetz e autoridades do país da África Ocidental disputavam o direito de desenvolvê-lo.
Tudo mudou em 2019, depois que Steinmetz encerrou uma disputa de sete anos com o governo da Guiné ao desistir dos direitos sobre metade da mina. Agora, o projeto está nas mãos de um consórcio liderado pela Guiné e financiado pela China, cujo objetivo é iniciar a produção dentro de cinco anos.
O ressurgimento de Simandou preocupa executivos das maiores mineradoras de minério de ferro. Metade do projeto poderia produzir mais de 100 milhões de toneladas por ano de minério da mais alta qualidade, justo quando o cenário para a matéria-prima se deteriora e a demanda chinesa se estabiliza.
Simandou é dividido em quatro blocos, com os blocos 1 e 2 controlados por um consórcio financiado por empresas chinesas e de Cingapura, enquanto Rio Tinto e Aluminum Corp. of China, conhecida como Chinalco, controlam os blocos 3 e 4.
A China tem interesse em desenvolver o depósito, pois busca garantir mais suprimentos de alta qualidade, e também quer expandir a presença na África Ocidental, segundo as pessoas. A Comissão de Supervisão ainda não aprovou formalmente o projeto, mas trabalha nos detalhes de como será realizado e de como o projeto será financiado, disseram as fontes.
A Chinalco participará do desenvolvimento do projeto, e a Comissão de Supervisão conversa com outras estatais sobre a custosa construção de infraestrutura portuária e ferroviária, disseram as pessoas. O Banco de Desenvolvimento da China deve fornecer parte do financiamento, e o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura também está no radar, disseram as pessoas.
Nenhum representante respondeu imediatamente a faxes ou ligações para a Comissão de Supervisão, Chinalco e Banco de Desenvolvimento da China com pedidos de comentários.
O custo de construção de uma ferrovia de 650 quilômetros que atravessa toda a Guiné sempre foi um obstáculo para as incorporadoras, com estimativas de até US$ 13 bilhões. Com o financiamento chinês, o projeto se torna muito mais viável.
O envolvimento da China em Simandou criaria um dilema para a Rio Tinto. Um rival que desenvolvesse o depósito ameaçaria o mercado da commodity mais importante para a empresa. No entanto, a mineradora poderia ter dificuldade em obter apoio de acionistas para despejar bilhões de dólares na Guiné se quisesse participar do desenvolvimento.
Os maiores exportadores de minério de ferro, que incluem a Vale, esperam uma mudança de longo prazo por parte de usinas da China em favor de matérias-primas de melhor qualidade, mesmo com a estabilização do crescimento da produção de aço. O uso de minérios de qualidade premium pode permitir que usinas aumentem a eficiência e cumpram restrições mais rígidas contra a poluição. O teor de ferro dos minérios de Simandou varia de 65% a 66%, acima dos 62% de referência do setor, de acordo com dados da Rio Tinto.
Fonte: UOL