Interditadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) por risco iminente de rompimento, as três barragens de rejeitos de ouro na cidade de Pontes e Lacerda, em Mato Grosso, não possuem planos de ação emergencial e procedimentos de monitoramento do volume de minério. Os três empreendimentos utilizam mercúrio — produto extremamente nocivo ao meio-ambiente e às pessoas — no processo de garimpo e, segundo técnicos da AMN, correm o risco de ceder.
Em vistoria na terça-feira (21), a AMN detectou anomalias, como erosões, trincas e borda livre deficiente nas estruturas. Após a visita dos técnicos, foi emitido um alerta sobre o risco de rompimento das barragens e foi determinado que a Cooperativa de Garimpeiros de Pontes e Lacerda (Compel), responsável pelas barragens, tomasse medidas de redução de risco.
As três barragens Campos, Berion e Elvo-1 são de rejeitos do garimpo de ouro na região e usam o mercúrio para extrair o metal das rochas. As estruturas foram construídas no modelo de alteamento por linha de centro, método mais seguro, segundo o Instituto de Tecnologia da Vale, do que o utilizado na construção da barragem em Brumadinho, que rompeu no ano passado e deixou 259 mortos e 11 desaparecidos.
Apesar do modelo mais seguro de construção, a ANM constatou que a barragem de Campos tem problemas nas estruturas, trincas, abatimentos ou escorregamentos, com potencial de comprometimento da segurança da barragem. Na Elvo-1, os técnicos encontraram erosões superficiais no talude da barragem, ferragem exposta, presença de vegetação arbórea e não identificaram a implantação das medidas de correção necessárias para a segurança.
Já na barragem de Berion, a vistoria constatou que os instrumentos de auscultação, para monitoramento e controle da estrutura, estão em desacordo com o projeto cadastrado na agência reguladora. Segundo o relatório, novos instrumentos estão em processo de instalação. Há ainda trincas e abatimentos, erosões superficiais e ferragem exposta.
As três barragens guardam 792.644 mil metros cúbicos de rejeito de ouro nos reservatórios. Segundo a ANM, não existem pessoas ocupando permanentemente as áreas à jusante da barragem, por onde o rejeito passaria em caso de rompimento. Há uma rodovia que corta a região. Ainda de acordo com os técnicos, o impacto ambiental e socioeconômico em caso de um desastre seria pouco significativo, já que as áreas não apresentam “interesse ambiental relevante” ou são protegidas por lei.
Em entrevista ao GLOBO nesta sexta-feira, o vice-presidente da Compel, Iporan Buss, afirmou que não houve interdição de nenhuma barragem e que a vistoria ocorreu apenas na barragem de Campos. Buss também afirmou que as exigências serão cumpridas e as atividades continuarão.
“Vistoriaram e não teve nenhuma interdição, só tiveram exigências e vamos cumprir e continuar operando. Não foi interditada, não existe isso. Na Berian e na Elvo eles (ANM) não foram, só na Campos. As informações deles são diferentes, não existe” — afirmou o vice-presidente da Compel.
Fonte: Época Negócios