quinta-feira, 9 de maio de 2024
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    Amazonas tem potássio para reduzir dependência da Rússia na compra de fertilizantes

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    A extração de potássio em Autazes (a 113 quilômetros de Manaus) ganhou visibilidade com a guerra na Ucrânia. As reservas do minério no Amazonas têm potencial para aumentar a produção brasileira e reduzir a dependência externa por fertilizantes da Rússia, maior exportador para o Brasil, avalia a CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), que tem atribuições do Serviço Geológico do Brasil.

    O preço do produto varia de US$ 900 a US$ 1 mil por tonelada no mercado internacional.

    Diante da possibilidade da falta de fertilizantes o governo brasileiro mobilizou a base parlamentar para aprovar tramitação em regime de urgência no Congresso Nacional de projeto de lei que permite a mineração em terras indígenas.

    No Amazonas, o principal minério a ser explorado é o potássio.

    A decisão preocupa ambientalistas, que citam riscos como aumento do desmatamento e perda de biodiversidade. Mas tanto o CPRM quanto a empresa que exploram o minério afirmam que os riscos são mínimos e que as técnicas de exploração não devem causar danos ambientais.

    Amazonas e Sergipe

    No Brasil, as maiores concentrações de potássio estão em Autazes e Sergipe, onde o mineral é já explorado.

    No estado nordestino, a mina de Taquari-Vassouras abrange os municípios de Carmópolis, Santa Rosa de Lima e Rosário do Catete. A exploração é feita pela empresa norte-americana Mosaic. Dados da ANM (Agência Nacional de Mineração) indicam que as reservas em Sergipe, em 2014, eram de 12,979 milhões de toneladas.

    Em Autazes, a empresa Potássio do Brasil atua desde 2009, mas ainda não explora o minério no Amazonas. O Projeto Potassio Autazes está em fase de licenciamento ambiental e em consulta ao povo indígena Mura.

    As reservas conhecidas na Bacia do Amazonas são da ordem de 1,929 bilhões de toneladas.

    De acordo com a equipe técnica do CPRM*, estão localizadas na Fazendinha-Arari-Autazes, que se estende por Nova Olinda do Norte e Itacoatiara.

    Região onde estão as jazidas de Potássio no Amazonas (Arte: ATUAL)
    Região onde estão as jazidas de Potássio no Amazonas

    Levantamento do CPRM mostra que as reservas de Fazendinha são de 487 milhões de toneladas.

    O minério é encontrado quando a perfuração chega a 980 metros de profundidade, variando até 1.140 metros.

    Em Ariri, Itacoatiara, são 675 milhões de toneladas, com a profundidade de exploração variando de 979 a 1.290 metros.

    E em Autazes a estimativa é de 767 milhões de toneladas, com profundidade de exploração de 685 a 860 metros.

    A Potássio do Brasil é a única empresa operando na região e tem outros projetos no Amazonas.

    Foram anunciadas novas descobertas nas regiões de Novo Remanso, em Itacoatiara, e nos municípios de Silves e São Sebastião do Uatumã, com volume de 371 milhões de toneladas.

    Trabalhos de reavaliação de dados sísmicos e perfis de poços de petróleo conduzidos pela CPRM mostram que outras áreas na Bacia do Amazonas apresentam potencial para novas descobertas, que podem agregar aproximadamente 2,404 bilhão de toneladas do minério.

    Riscos ambientais

    O biológo Lucas Ferrante, doutorando do Programa de Biologia e Ecologia do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), alerta que a ampliação da mineração em Autazes trará danos para a região.

    “Os riscos ambientais são inúmeros pela extração mineral de potássio em Autazes”, afirma Ferrante. “Nós estamos falando tanto de aumento de desmatamento na região como de perda de biodiversidade ou risco de rompimento de barragens de rejeitos, o que pode significar uma catástrofe ambiental sem precedentes principalmente para os recursos hídricos, para o lençol freático e para o solo amazônico”.

    Ferrante defende que a proposta do governo federal seja vetada pelo Congresso Nacional em razão de inúmeras ameaças ambientais e ecológicas.

    “A implementação e aprovação do Projeto de Lei 191, de 2020, que permite atividades minerárias dentro de terras indígenas, tende a facilitar a exploração dessas áreas por não indígenas, violando os direitos desses povos e facilitando desastres ambientais na Amazônia. É recomendado que esse projeto seja vetado”, argumenta.

    O ambientalista aponta “alto potencial de risco não só para os povos indígenas que residem nessas áreas como para toda a população do Brasil” caso a proposta avance.

    “Esses grandes empreendimentos implementados nessas áreas têm um potencial catastrófico de dano ambiental que vai afetar muito além dessas áreas hoje protegidas pela legislação”, argumenta Ferrante.

    De acordo com o pesquisador, o projeto de lei 191 de 2020 fragiliza uma das áreas mais importantes para a conservação da Amazônia.

    “As terras indígenas hoje são extremamente importantes para a conservação da fauna, da flora, dos modos de vida dos povos tradicionais e dos serviços ecossistêmicos da Amazônia”, afirma.

    Apresentado em fevereiro de 2020, o projeto de lei cria condições para realização da pesquisa e da lavra de recursos minerais e hidrocarbonetos. A liberação tem como objetivo o “melhor aproveitamento de recursos hídricos para geração de energia elétrica em terras indígenas”.

    A proposta estabelece também indenização aos índios que terão as terras liberadas para a mineração. O tema divide opiniões, entre os que defendem a necessidade do desenvolvimento econômico e os que enxergam na medida ameaças ambientais e étnicas.

    Importações

    Relatório da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) mostra que a produção brasileira de fertilizantes diminui ano a ano. E as importações estão em crescimento.

    Em 2021, foram produzidos 6,99 milhões de toneladas de fertilizantes intermediários e complexos no Brasil. O volume de importação foi de 39,2 milhões de toneladas.

    Em 2020, a produção brasileira foi de 6,5 milhões de toneladas e as compras do exterior foram de 32,8 milhões de toneladas.

    Em 2019, a produção nacional foi de 7,1 milhão de toneladas, contra 29,5 milhões de toneladas importadas.

    Os fertilizantes são compostos minerais ou orgânicos que visam suprir as deficiências em substâncias vitais à sobrevivência dos vegetais, aplicados na agricultura com o intuito de repor a extração realizada pela cultura e aumentar a produtividade.

    A produção de fertilizantes está diretamente ligada à produção agrícola. Os mais usados na agricultura são os do grupo NPK, à base de nitrogênio, fósforo e potássio. O consumo médio de fertilizantes no Brasil é de 40 milhões de toneladas por ano.

    Em virtude da pequena produção interna, comparada à grande demanda interna pelo produto, o Brasil situa-se no contexto mundial como grande importador de potássio fertilizante.

    Nos últimos anos o país têm importado mais de 80% dos fertilizantes utilizados na produção agrícola. No caso dos fertilizantes com potássio, a dependência chega a 96%.

    Sobre o Potássio

    De acordo com a equipe técnica do Serviço Geológico do Brasil, o potássio é um elemento químico classificado como metal mole, esbranquiçado e que possui um brilho metálico prateado. Tem baixa densidade e é um bom condutor de calor e eletricidade. O potássio é um dos metais mais eletropositivos.

    Adriano Espeschit, presidente da Potássio do Brasil, diz que o potássio oxida-se rapidamente com o oxigênio do ar e é muito reativo, especialmente com a água. Quimicamente se parece com o sódio.

    O potássio tem diversas aplicações nas indústrias de manufatura de vidros especiais, fabricação de sabões, detergentes, fabricação de explosivos e principalmente no agronegócio, sendo usado como fertilizantes, formando o componente NPK.

    Apesar de ser um dos elementos mais presentes na crosta terrestre, é encontrada com teores baixos nos solos brasileiros. A Potássio do Brasil afirma que “o solo brasileiro é pobre em potássio, por isso, é necessário adicioná-lo como fertilizante”.

    No Amazonas o minério é a silvinita, enquanto em Sergipe a extração do potássio, por enquanto, é realizada apenas a partir da silvinita. Mas a região apresenta reserva de carnalita, ainda não exploradas.

    A extração

    A extração do potássio é feita mecanicamente por meio de lavra subterrânea e com acesso através de dois poços com 5 metros de diâmetro e 450 metros de profundidade, explica a equipe técnica da CPRM.

    Um dos poços é utilizado para serviços e descidas de equipamentos, enquanto o outro é para de extração do minério. O poço de extração tem capacidade operacional para transportar 420 toneladas por hora de minério e funciona a uma velocidade de 8,5 metros por segundo. O método empregado para extração do minério é de câmaras e pilares.

    De acordo com os técnicos consultados, toda mineração é um empreendimento planejado em todos os aspectos dos mais diversos ramos da engenharia. Antes da entrada em operação de uma mina, todos os riscos são avaliados e mitigados. “Logo, não existe mineração sem controle”, afirmam.

    Como exemplo na extração realizada em Sergipe, o rejeito do processo industrial está submetido às regras do plano de negócios e licenciamento ambiental que foi aprovado pelo órgão ambiental do estado.

    A equipe da CPRM afirma que no caso de exploração das reservas do Amazonas, o rejeito do minério extraído das plantas de processamento será devolvido para as câmaras subterrâneas.

    Adriano Espechit, da Potássio do Brasil, diz que a empresa vai atuar em Autazes na extração do minério através da mineração subterrânea com um sistema de alta tecnologia a uma profundidade de cerca de 800 metros.

    “A lavra do minério é totalmente subterrânea, sem qualquer influência no modo de vida da superfície. Chegando à superfície, através de 2 poços profundos, o minério será beneficiado para separar o Cloreto de Potássio dos demais materiais. Os resíduos do processo de separação serão devolvidos ao subsolo, sem grandes impactos à superfície do solo, à floresta e aos rios. Ao final da vida útil do Projeto, nenhuma estrutura e nenhum resíduo permanecerão na superfície e toda a área será reflorestada”, afirma Adriano.

    A empresa atua em Autazes desde 2009 e tem projetos também em Itapiranga, São Sebastião do Uatumã e Itacoatiara.

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