O ano de 2021 começou animador para o mercado de commodities e, consequentemente, para a bolsa brasileira. Nos primeiros pregões do ano, o Ibovespa foi carregado pela valorização das ações de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3; PETR4), duas das empresas com maior participação no índice. A mineradora já acumula 9% de valorização na semana de abertura de 2021, enquanto a petroleira tem ganhos na casa dos 7%. Tudo graças à disparada no preço de matérias-primas negociadas em mercados globais.
Desde o começo de novembro, a ação da Vale subiu 58%, e as ordinárias da Petrobras, 62%. No caso das siderúrgicas, a alta também é destacada: CSN (CSNA3) subiu 76%, Gerdau (GGBR4) teve ganho de 30%, e Usiminas (USIM5), de 44%.
O preço do minério de ferro, produto que alavancou resultados da Vale e de companhias siderúrgicas, acumulou alta expressiva de 74% em 2020 e ainda não mostra sinais de que vai começar a estabilizar. O motor propulsor da retomada é a demanda da China. O gigante asiático foi o primeiro a engatar um processo de recuperação pós-pandemia, baseado, principalmente, na produção de aço, que é empregado nos setores de construção e infraestrutura.
Já para a Petrobras, a boa notícia foi a decisão a Opep+ (aliança que reúne os maiores exportadores do mundo) de restringir a oferta de petróleo nos próximos dois meses, o que deve pressionar as cotações pela commodity. O resultado imediato foi uma disparada no preço nos contratos futuros do petróleo Brent, negociados em Londres e usados como referência pela estatal. Os contratos subiram para o seu maior patamar desde fevereiro de 2020.
A questão, no entanto, vai além do balanço entre oferta e demanda. Embora possam parecer movimentos pontuais de mercado de cada produto, as altas são parte de uma conjunção de fatores que está beneficiando o setor das commodities.
A crise causada pela pandemia levou governos e bancos centrais ao redor do mundo a implementar, respectivamente, políticas fiscais e monetárias expansionistas. A consequência foi a reflação global das commodities, ou seja, um aumento de preços após forte queda. E, segundo análise da EXAME Research, as maiores beneficiárias foram justamente as commodities metálicas, como o aço e o minério de ferro.
O aumento da liquidez nos mercados globais também pressionou para baixo a cotação do dólar, moeda de referência para o preço das commodities. “Um cenário de dólar mais fraco no mundo é benéfico para qualquer commodity. Além disso, a política monetária frouxa [com grande oferta de moeda] dos Estados Unidos aumenta o apetite dos investidores por risco. E as commodities, ativos voláteis, ganham com isso”, avalia Gabriel Gersztein, chefe global de estratégia para mercados emergentes do BNP Paribas.
Outro estímulo importante para o mercado de commodities pode estar no apetite da Índia. Jean Van de Walle, diretor de Investimentos da Sycamore Capital e um dos investidores mais experientes em mercados emergentes, tem argumentado que a demanda por commodities ficará mais intensa à medida que países como a Índia ultrapassem a barreira econômica de 2.000 dólares por renda per capita. O resultado seria positivo para o mercado de petróleo, uma vez que o país é um grande importador da commodity.
Walle também destaca que as commodities se movem em ciclos de 16 a 18 anos. Considerando o último super ciclo iniciado em 2002, o mercado estaria preparado para o início de um novo boom ao final de 2020. Gersztein concorda que se trata de uma nova onda de alta para as commodities, mas opina que o movimento não é equiparável àquele do início do século.
“O superciclo dos anos 2000 foi completamente baseado na demanda da China. Hoje, por outro lado, existem outros fatores influenciando além da demanda, como o dólar baixo e a política expansionista americana. Será um ciclo forte, mas não um superciclo”, conclui.
Fonte: Exame Investe