Dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) revelam que o faturamento do setor de mineração no Brasil somou R$ 209 bilhões em 2020, uma alta de 36% em relação a 2019 considerando 130 associados responsáveis por 85% da produção nacional. O resultado aumentou em R$ 72 bilhões a arrecadação de impostos, com destaque para a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), que passou de R$ 4,5 bilhões para R$ 6,1 bilhões. As principais causas estão na alta de quase 30% do dólar e no aumento das commodities, mas o desempenho do setor também é positivo, pois a produção mineral cresceu 2,5%. Há benefícios diretos a estados e municípios, especialmente para Minas Gerais.
O fato é que o mercado está aquecido, superando os desafios da pandemia, e há um movimento relevante de capitais e negócios. As expectativas do setor é que vários projetos serão retomados pelas empresas de mineração e a demanda por investimentos deverá ser ampliada nos próximos meses. No atual cenário, vale uma reflexão sobre a participação das empresas do setor no recente movimento das empresas procurarem abertura de capital. Os IPOs (ofertas iniciais de ações), de organizações de distintos setores, passaram no Brasil de R$ 10,2 bilhões em 2019 para R$ 45,3 bilhões em 2020, aumento de 344%, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O montante é o maior desde 2007, sendo que o número de operações cresceu de 5 para 27 negócios na mesma base de comparação.
Em 2021, ainda sobre diferentes setores, há dezenas de empresas na fila para abertura de capital. Em Minas Gerais, há também um movimento importante nesse sentido. Além do acesso aos recursos dos acionistas, a vantagem está na possibilidade de amadurecimento da organização com a necessidade de contemplar mais aspectos de governança corporativa. Voltando à mineração, contudo, há um movimento ainda tímido no mercado de capitais brasileiro.
Diferentemente de outros países com rica tradição mineral, como Canadá e Austrália, não há forte presença das mineradoras entre as empresas listadas na bolsa brasileira. E, mesmo neste novo momento de interesse por IPO no País, até o momento, o número de transações no setor de mineração não se destaca entre o total de operações realizadas ou previstas para os próximos meses.
É verdade que as especificidades da atividade mineradora colocam desafios para a atração de investidores que não acompanham de perto o setor. A discussão sobre novos modelos de negócios e a revisão da relação das empresas com reguladores e comunidades também são questões relevantes a serem avaliadas pelos agentes de mercado. Por outro lado, o forte desempenho do setor, tanto em Minas Gerais quanto nas outras regiões, e as perspectivas para a retomada da economia global e movimento dos preços das commodities minerais, sinalizam
boas oportunidades de investimento em mineração no País.
Considerando que o mercado de capitais brasileiro continuará a se fortalecer nos próximos anos, permanecerá a oportunidade para o setor de mineração buscar investimentos necessários para novos projetos. Todavia, seria importante que o setor, juntamente com reguladores e
agentes de mercado, efetuasse uma discussão mais ampla sobre os motivos da reduzida participação atual e sobre os mecanismos necessários para garantir a atratividade para investidores.
Por Ricardo Marques – Sócio para o segmento de Mineração da KPMG no Brasil (rmmarques@kpmg.com.br) e Ray Souza – Sócio de Mercados Regionais da KPMG em Minas Gerais (ramayanasouza@kpmg.com.br)
Fonte: Diário do Comércio