Hoje a exportação está associada à logística marítima. Quando avança para o interior de um país continental, o que faremos com a soja de MT? Vou procurar exportar a soja de MT Grosso, mas não como a soja verde. Vou para a industrialização máxima da soja como já se está fazendo no RS. Produzir proteínas isoladas de 95% de concentração, proteínas texturizadas de 75%, flavonóide, isoflavona, que vale 40 mil dólares a tonelada e isso tudo é frete aéreo. A logística é passa a ser frete aéreo. À proporção que você se afasta, tem que industrializar, dar mais valor ao produto, para resistir à distância. Em suma, o que nós fizemos na Vale foi vender o produto mais barato do mundo na época, que era minério de ferro, para a maior distância, que era o Japão. O que se teve que fazer? Inventar coisas novas, gigantescas, com economia de escala, com versatilidade.
Nos anos anos 60 o que mais os japoneses queriam era minério de ferro, e o que a VALE mais queria era vender minério ferro. Os americanos e europeus eram contra o Brasil vender minério para o Japão. O receio era o Japão reativar o poderio bélico. Vi ali uma oportunidade ímpar, mas arriscada diplomaticamente para fazer a CVRD dar um passo gigantesco de pequena para gigante em logística. Para alimentar as siderúrgicas do Japão, arrasadas plea guerra e outras projetadas de minério de ferro. Precisávamos de um porto bem maior especializado em minério de ferro, e não o tínhamos. Mesmo com o porto, o volume só compensaria com navios de 100 mil ton, os maiores eram de 35. Tendo os navios. Eles teriam de levar minério para o Japão e voltar com petróleo do Oriente.
Construímos o Porto de Tubarão, convencemos os japoneses a investir em navios de 100 mil ton. Acertamos com a Petrobrás a logística dos navios levarem minério de ferro para o Japão e voltarem com petróleo do oriente. Inovamos a rota de logística transoceânica e enfrentamos uma guerra internacional de interesses contrários, e vencemos, Criamos ainda a Docenave, que chegou a ter quase 60 navios, com alta rentabilidade e figurada entre as três frotas mercantes do planeta. Alavancou a posição de liderança da VALE com operação logística.
Logo depois vimos que a Estrada de Ferro Vitória Minas e a VALE como um todo precisa se diversificar e veio a ideia de criar a Cenibra, para utilizarmos mais a Vitória Minas e deu certo. A VALE é um sistema logístico e essa é a sua filosofia empresarial para perpetuá-la. Sempre tomei decisões coletivas com pessoas da engenharia escolhidas a dedo. Fomos chamados pelos leigos de megalomaníacos, loucos e de pessoas que queriam destruir a VALE, muitos políticos por sinal.
O homem tem coragem e inteligência para fazer essas coisas. Quer dizer, criar cada vez mais conhecimento e soluções. Agregar valor ao seu produto, não virar só exportador de matéria-prima como a economia colonial da África antiga, que era exportação de matéria-prima das mais primitivas possíveis.
Agora, a floresta tem utilização para tudo. Nós não demos o exemplo da celulose aqui, como é que se originou? Imagina a quantidade de empregos que você cria com a celulose, não só de empregos no campo, mas empregos de qualidade em todo processo de industrialização. As outras florestas podem gerar turismo e manejo sustentável. O é pensar . Ter material humano criativo e ficar em logística como fizemos na VALE. Jamais pode faltar é coragem. Para ter um negócio de sucesso, alguém, algum dia, teve que tomar uma atitude de coragem (Peter Drucker)
Em meados da década de 50, Eliezer queria comprar uma imensa área no Espírito Santo e transformá-la em reserva ecológica. Mas sabia que o conselho de administração da VALE não aprovaria o desembolso de milhões para esse fim. Proteger floresta nos anos 50 era coisa de sonhador e bobalhão e “homens florzinha”. A moda era derrubar florestas, ganhar dinheiro com a peroba rosa e o jacarandá, e plantar capim para boi..
Então, mentiu. Disse aos conselheiros da VALE que a área forneceria madeira para os dormentes das ferrovias da Vale. Os nobres conselheiros deram sinal verde para o negócio. Até hoje, sequer um galho foi arrancado da reserva ecológica de Linhares e ela se tornou símbolo do respeito da Vale pelo meio ambiente, atraindo a simpatia de clientes de minério de ferro, europeus, japoneses e turistas . É hoje centro de pesquisa respeitadíssimo que sobrou de Mata Atlântica no ES, foi graças a coragem e ideia de Eliezer Batista