Gerente Industrial da CBMM explica porque este metal é tão importante para a economia de Minas Gerais
Desde os anos 1950, uma das muitas riquezas do solo mineiro impulsiona uma das regiões mais importantes do Estado. Trata-se do nióbio, que está presente em produtos e tecnologia de ponta aos setores de infraestrutura, mobilidade, aeroespacial e energia.
Referência no segmento do mineral, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), com sede em Araxá, agora foca seus negócios na diversificação e uma das principais frentes de investimento são produtos para baterias elétricas, revela o gerente Industrial da CBMM, William Salomão.
Nesta entrevista ao JORNAL DA CIDADE, o executivo explica porque o nióbio é tão importante para a economia de Minas Gerais.
Conte sobre a história da CBMM. Quando a companhia começou a desenvolver o mercado de Nióbio?
Nossa atuação começou em 1955, em Araxá, no cerrado mineiro. Desde o início, nosso trabalho está ligado ao desenvolvimento da tecnologia do Nióbio. Naquela época, pouco se sabia sobre o Nióbio e seus benefícios nos segmentos em que atualmente é aplicado. A CBMM teve contribuição significativa no crescimento e diversificação deste mercado, por meio de seus investimentos contínuos em tecnologia e pela criação de novas aplicações para o Nióbio. Com isso, nos tornamos líder mundial no fornecimento de produtos de Nióbio e hoje atendemos mais de 400 clientes, em mais de 40 países.
Quais são as principais frentes de atuação da empresa hoje?
A CBMM fornece produtos e tecnologia de ponta aos setores de infraestrutura, mobilidade, aeroespacial e energia e é a única empresa a produzir todos os tipos de produtos de nióbio. Hoje, cerca de 90% das aplicações do Nióbio estão associadas à indústria siderúrgica. O metal é utilizado para melhorar as propriedades do aço e suas ligas, por exemplo, adicionando resistência e tenacidade. O aço que leva Nióbio é utilizado para produzir automóveis, pontes, navios e em diversas outras aplicações. Vale mencionar que o Programa de Tecnologia da CBMM, que recebe investimentos de cerca de R$ 200 milhões anualmente, está cada vez mais diverso, buscando oportunidades em outros segmentos de mercado que não sejam exclusivamente ligados aos produtos de aço.
Como o nióbio é produzido e para onde é exportado?
Os produtos de Nióbio são obtidos por meio do processamento do minério pirocloro, e envolvem mais de 15 etapas produtivas. A primeira etapa do processo é concentrar esse elemento para um teor de 50% a 55% de óxido de Nióbio. A partir deste concentrado, produzido com tecnologia desenvolvida pela CBMM, segue-se para as etapas de refino: dessulfuração e desfosforação. Para a produção de ferronióbio, produto core da CBMM, é realizada, então, uma redução aluminotérmica em forno elétrico. Para obter os outros produtos de nióbio inclui-se etapas adicionais, todas com tecnologias exclusivas da CBMM. Como a principal aplicação do Nióbio é na indústria siderúrgica, em aços avançados, a maior parte da produção é exportada para a América do Norte, Europa e Ásia, onde concentra-se essa atividade. A CBMM também fornece a maior parcela do Nióbio consumido no Brasil.
Como a empresa atua junto com a comunidade local?
Acreditamos que as pessoas são as principais responsáveis por criar e promover as melhorias e inovações que são capazes de transformar a vida de todos. Por isso, fortalecemos nosso relacionamento e diálogo com as diferentes partes interessadas (colaboradores, clientes, academia, fornecedores, parceiros, poder público, comunidade, entre outros) e implementamos práticas de engajamento com foco na transparência e na colaboração frente aos desafios territoriais, regionais e globais, à luz dos princípios de sustentabilidade. Para nós, a educação, a cultura e o esporte são importantes ferramentas de transformação social. Portanto, apoiamos iniciativas para ampliar o bem-estar e desenvolvimento das comunidades onde atuamos. Temos um modelo de priorização de patrocínios e doações que direciona contribuições predominantemente a iniciativas que estejam ligadas à formação de crianças, adolescentes e jovens, nas áreas de educação, saúde, esporte e cultura. A intenção é contribuir para a formação de uma geração preparada para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e capaz de ampliar seu protagonismo e autonomia.
Quais os maiores feitos da empresa no último ano?
Com o objetivo de estar sempre à frente do mercado, atendendo à demanda global por produtos de Nióbio, a CBMM finalizou um projeto de expansão de sua planta industrial em Araxá, que entrará em operação em breve. Foram investidos um total de R$ 3 bilhões na nova área fabril. Com isso, a companhia ampliou sua capacidade de produção de 100 mil toneladas para 150 mil toneladas de produtos de Nióbio por ano. Podemos dizer que 2020 também foi um ano para acelerar inovações por meio de new ventures e parcerias estratégicas nas frentes de eletrificação, materiais avançados e ligas metálicas.
Qual a principal aposta da empresa para os próximos anos?
Estamos focados em diversificar nossos negócios e uma das principais frentes de investimento são produtos para baterias elétricas. A iniciativa de desenvolvimento de baterias automotivas com Nióbio é pioneira no mundo. Atualmente, existem várias outras baterias de lítio, mas nenhuma apresenta o potencial de segurança, durabilidade e capacidade de recarga ultra-rápida (em tempos inferiores a 10 minutos), sem perda do ciclo de vida, do que da bateria contendo Nióbio em sua composição. Outra característica extremamente positiva desta tecnologia é a elevada capacidade de receber carga dos sistemas de frenagem dos carros, tornando-se assim uma solução muito competitiva também para os carros híbridos pelo seu potencial de redução de consumo de combustível aplicando esta tecnologia. A nova tecnologia já está sendo comercializada na Ásia desde o final de 2020 no setor de mobilidade. O segmento siderúrgico continuará sendo o principal mercado da CBMM. No entanto, há expectativa de que, em 2030, as aplicações do Nióbio fora das aplicações tradicionais respondam por até 35% das vendas da companhia, sendo 25% referentes ao segmento de baterias e 10% a outras aplicações especiais. Ou seja, o segmento de baterias elétricas é uma relevante avenida de crescimento da companhia para os próximos anos.
Foto: Divulgação JC / CBMM Fonte: Jornal da Cidade